Um estudo realizado pelo Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead-UFRJ) pretende investigar os rituais matinais de higiene e beleza de mulheres inseridas no mercado de trabalho, tendo em vista o aumento da participação feminina nesse mercado e a relevância dessa indústria no Brasil. A pesquisa é coordenada pelos professores Maribel Suarez e Letícia Casotti, a qual cedeu entrevista para o boletim UFRJ Plural a respeito do assunto.
Segundo a docente, o estudo foi apoiado pelos recursos doados para a Cátedra L`Oréal de Comportamento do Consumidor, que procurou conhecer rituais de cuidados matinais de mulheres profissionais quando se preparam para o trabalho. Esse estudo foi a dissertação de mestrado de Aline Figueiredo, orientada pela professora, que teve como título "Consumo da beleza e trabalho feminino: um estudo sobre rituais de cuidados pessoais".
Letícia explicou que "a pesquisa buscou inicialmente identificar aspectos do ritual privado, e mais solitário, de cuidados relativos à higiene e beleza, mas compreendemos que esses rituais privados possuem o objetivo de preparação para outros mais públicos que acontecem em ambientes de trabalho". Assim, acrescentou, "buscamos explorar os produtos e marcas que fazem parte desses rituais e contribuem para formação da identidade profissional dessas mulheres".
A respeito dos rituais de consumo, a professora destacou a importância da Antropologia como a ciência mais preocupada em investigar rituais. "Essa área de conhecimento deu base para que os pesquisadores de comportamentos do consumidor começassem a usar o comportamento ritualístico para compreender melhor vários tipos de consumo de bens e serviços. A análise de comportamentos ritualísticos permite que sejam interpretados os significados simbólicos e sociais que envolvem todo o processo de consumo", explicou.
Sobre os resultados obtidos, é importante lembrar que os estudos sobre rituais de consumo trazem detalhes e profundidade nas informações, e são, portanto, difíceis de serem descritos. No entanto, dentre os principais achados do estudo, Letícia destacou os cosméticos, vistos pelo grupo de mulheres entrevistadas como elementos transformadores antes da ida para o trabalho. "Antes de passarem por seus rituais matinais de cuidados pessoais, as entrevistadas falam de sua aparência cansada, dos cabelos desarrumados ou dos olhos inchados que são transformados em uma aparência `energizada`, capaz de comunicar que estão `dispostas para o trabalho`, conta.
Alguns relatos ainda sugerem uma grande preocupação com a aparência no ambiente de trabalho, mas falam também que o ritual de arrumação é necessário, porém nem sempre prazeroso. "Vários aspectos curiosos apareceram nesse estudo qualitativo e apenas exploratório que deveriam ser examinados por empresas do setor de higiene e beleza, como, por exemplo, os relatos que falam desses rituais no deslocamento para o trabalho, no ônibus ou no carro, ou mesmo de como alguns tipos de profissão precisam mostrar ou ocultar o uso de cosméticos", concluiu.