A ideia inicial era apenas detectar fatores de riscos para a saúde de bebês que nasciam abaixo do peso considerado “normal”. No entanto, ao se debruçar sobre os dados existentes, os pesquisadores constataram a inexistência de um padrão específico para os brasileirinhos conforme a idade gestacional. A busca pela normalidade virou a senha para o maior estudo do tipo realizado no mundo e o primeiro com dados colhidos em todo o país, fruto da parceria entre profissionais da UFRJ e da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Desenvolvido pelas pediatras Elaine Sobral da Costa e Sylvia Porto, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), e os bioestatísticos Carlos Pedreira, da Coppe, e Francisco Carlos Pinto, da UFF, o novo padrão estará disponível para médicos de todo o país a partir de junho, após ser publicado pela Academia Brasileira de Ciências. São gráficos e tabelas que ajudarão pediatras e neonatologistas a identificar se uma criança nasceu com o peso adequado para a idade gestacional.
Cerca de 8 milhões de dados do Sistema único de Saúde (SUS) referentes a partos de nascidos vivos entre 2003 e 2005 foram pesquisados. O estudo ganhou o Prêmio Nicola Albano da Sociedade Brasileira de Pediatria em novembro de 2010. A tabela cria nove faixas de dados conforme o sexo e o período de gestação. Até hoje, o padrão adotado pelos médicos para acompanhar o crescimento intrauterino e avaliar o peso do bebê ao nascer se baseiam em curvas de crescimento produzidas em outros países ou, quando muito, numa pesquisa brasileira de 1995, que analisou apenas 4,4 mil casos, todos em Brasília.
Segundo Elaine Sobral da Costa, durante a gestação o bebê apresenta peso que indica o estado de saúde em que ele se encontra e quais os tipos de problemas ele apresentará no futuro. Em uma gestação a termo ou normal, que varia de 37 a 41 semanas, o peso de um menino pode variar de 2,1 kg a 4,4 kg, por exemplo. Aqueles que estiverem fora dessa curva correm o risco de ter doenças que se não diagnosticadas desde cedo podem deixar sequelas.
O primeiro estudo desse tipo ocorreu nos anos 60, no Colorado, promovido pelo médico Lula O. Lubchenco. Outras curvas de referência surgiram depois. “Em nosso trabalho, desconsideramos os gêmeos, os que nasceram com alguma anormalidade de má formação cardíaca, intestinal ou outra relatada e também aqueles que não informaram esse dado no formulário do SUS”, revela Elaine Sobral da Costa. Reunir o volume de dados e transformá-los em informações úteis, excluir possíveis erros e gerar uma curva que represente todo esse processo foi uma tarefa difícil que levou cerca de seis meses. Programas de análise de dados específicos foram escritos para eliminar erros das informações originais e facilitar as interpretações médicas.
Apesar de levar em conta os nascimentos em todo o país, há a pretensão de em breve realizar uma segmentação dos dados por regiões brasileiras. “É uma etapa que já está em andamento, para verificar se há necessidade de criação de tabelas específicas conforme o estado ou a região de nascimento do bebê. Na verdade, a única segmentação que fizemos no primeiro estudo foi por gênero masculino ou feminino”, concluiu Elaine.