Categorias
Memória

Quem vai cuidar dos que cuidam?

 O Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro apresentou, no dia 13 de março, a palestra “Burnout nos cuidadores de pacientes com a doença de Alzheimer”. A convite do professor Elie Chineaux, o psiquiatra Anníbal Truzzi  –  doutor pela UFRJ  – apresentou  os estudos  que vem realizando sobre o tema.

O palestrante expôs suas constatações sobre essa síndrome que parece mais típica – e observada – nos dias atuais.  Ao analisar a realidade contemporânea, percebe-se que talvez não sejam apenas suposições, mas fatos. A exaustão e sobrecarga a que os homens estão submetidos são mais acentuadas hoje em dia, principalmente em relações aos que têm responsabilidades com terceiros, os que cuidam.

Sobre o Burnout

A síndrome de Burnout é definida como uma síndrome psicossocial, em resposta aos estresses crônicos interpessoais ocorridos em cada ocupação ou trabalho. É caracterizada por uma exaustão prolongada e perda significativa de interesse. Segundo estudos da Psychological Research, os médicos são os mais propensos a apresentarem os sintomas.

Os primeiros estudos sobre a síndrome surgem na década de 70, quando aparece uma preocupação – por parte dos próprios médicos – quanto aos profissionais envolvidos no gerenciamento de cuidados.

As conseqüências do Burnout envolvem baixa produtividade, maior risco de acidente e abandono do trabalho, sensação de esgotamento, exaustão emocional e baixa auto-estima . Quanto às manifestações da síndrome nos cuidadores, ocorre também um distanciamento ou indiferença em relação a quem se presta o serviço.

Sobre o Alzheimer

A doença apresenta-se cada vez mais recorrente na vida dos brasileiros. Já se passaram cerca de cem anos desde o primeiro caso da doença e o diagnóstico ainda é permanentemente clínico, já que os exames são apenas complementares.

Os principais sinais são alteração de memória, déficit em funções executivas – quando o paciente não consegue andar nem comer.  Há, ainda, um declínio gradual e contínuo, num período de oito a dez anos; debilitando ainda mais a saúde do doente. Daí, a necessidade de se diagnosticar o quanto antes a doença, para que se possa tratar e prevenir tais agravamentos.

Os que cuidam, sem serem cuidados

– O suporte do “cuidador” é uma recomendação oficial, nos diagnosticados com Alzheimer – alega o professor Truzzi. Segundo os recentes estudos do mestre, a grande maioria dos que cuidam são familiares; e, em geral, são as filhas ou esposas e que possuem baixo nível sócio-econômico. “Apenas 3,5% dos cuidadores são formais – aqueles contratados para tal tarefa” afirma. Como essas pessoas são mais dedicadas e preocupadas com os pacientes, há uma sobrecarga significativa em relação à função que exercem.

Como conseqüência, os cuidadores relatam sintomas físicos e emocionais. “Cerca de 70% deles apresentam altos níveis de ansiedade, irritabilidade, tristeza e fadiga” garante o psiquiatra. As alterações de comportamento características dos pacientes com Alzheimer é a principal razão que demanda maior dedicação por parte dos cuidadores, que também reclamam da reclusão social de amigos e parentes.

Dessa forma, sem dividir a responsabilidade com terceiros e com pouco treinamento, esses cuidadores acabam por sofrer de sintomas da síndrome de Burnout. Eles passarão a se engajar menos em atividades de cuidados com sua saúde e serão mais acometidos a problemas relacionados ao estresse.

A preocupação deve ser de todos: as soluções

Os medicamentos tradicionais – como os anticolinesterásticos e memantina – são indicados para a melhora no comportamento do paciente de Alzheimer, conforme relata o palestrante. Mas essas não devem ser as únicas medidas a serem tomadas para melhorar a situação para os cuidadores.

O professor alerta que é fundamental que haja um atendimento individualizado para análise de necessidades específicas de cada um deles. Grupos de auto-ajuda (como o APAZ) e cursos com instruções e treinamento para essas pessoas são válidos também.

– É preciso que haja um aconselhamento e suporte educacional sobre a doença por profissionais de saúde e familiares – explica Truzzi. É imprescindível que a tomada de decisões passe pelo cuidador, pelo paciente e pelo profissional de saúde, havendo uma divisão de responsabilidades. “Todos somos cuidadores em potencial, sem fazermos escolhas”, garante o especialista.