Como muitos sabem, os pilares da universidade pública são o ensino, a pesquisa e a extensão. A extensão é a ação da universidade junto à sociedade, à comunidade externa. São, portanto, atividades que permitem a troca de saberes entre a UFRJ e a população. A Superintendência-Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade (Sgaada) realizou suas primeiras ações de extensão durante o mês de novembro. O órgão tem como missão atuar na liderança e coordenação das iniciativas políticas voltadas para a promoção da igualdade, inclusão e acessibilidade em suas ações internas e extramuros.
Comissões formadas por professores, técnicos-administrativos e alunos visitaram três Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) da Baixada Fluminense com a proposta de debater a Lei nº 12.711/12, a Lei de Cotas. No dia 8/11 eles visitaram o Ciep 376 Claudio Coutinho, no município de Belford Roxo. Em 9/11, o Ciep 089 Graciliano Ramos, no município de Duque de Caxias, juntamente com o Complexo de Formação de Professores da UFRJ. Dia 24/11 foi a vez do Ciep 175 José Lins do Rego, em São João de Meriti, a convite do Movimento Negro Unificado (MNU).
Trocas de conhecimento e renovação de esperança
Em uma sala lotada no Ciep 175, alunos do segundo ano do ensino médio, em sua maioria negros, ouviram sobre as formas de acesso ao ensino universitário público e sobre a Lei de Cotas. As possibilidades de transformação que o mecanismo traz e as diferentes modalidades que a Lei apresenta também estiveram em pauta. Angela Bretas, professora da Faculdade de Educação Física da UFRJ, foi quem apresentou a Lei para os estudantes.
Thiago Garcia, estudante de Engenharia; Marcus Vinicius Cezario de Souza, estudante de Psicologia e Luana Christina Almeida dos Santos, também estudante de Psicologia, todos cotistas da graduação da UFRJ e integrantes da Câmara de Políticas Raciais da Universidade, trouxeram emoção e empatia ao encontro. Além de apresentarem aos alunos do Ciep questões técnicas relativas à política de cotas, eles trocaram experiências, falaram sobre a realidade de jovens negros e periféricos dentro de uma universidade pública e foram exemplos de resistência e resiliência. Falaram sobretudo de esperança.
Os benefícios que compõem a Política de Assistência Estudantil, geridos pela Pró-Reitoria de Políticas Estudantis da UFRJ (PR-7), também foram apresentados aos estudantes do Ciep. Alguns professores que atuam no ensino médio do Centro também fizeram parte da ação. As dúvidas e questionamentos deles eram sobre como auxiliar seus alunos em relação à Lei de Cotas e ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Nelson Silva, diretor-geral do Ciep 175 José Lins do Rego, contou que foi aluno da UFRJ. Ele agradeceu pelo encontro realizado pela Sgaada e destacou a importância para os estudantes: “Os nossos alunos são da Baixada Fluminense, da periferia. Eles têm pouco acesso às informações, não necessariamente por dificuldades em acessá-las, mas, às vezes, até por achar que esta informação não é para eles. Então trazer as informações é muito legal, porque eu vi muitos deles prestando atenção e conhecendo, descobrindo coisas”. O diretor destacou também que o primeiro contato com o ambiente universitário é realizado ainda no Ensino Médio, outro ponto de grande valia no encontro realizado. Segundo Nelson, a aproximação entre alunos de escolas públicas e a universidade faz com que eles enxerguem esse ambiente como algo possível: “Quando a gente fala sobre a universidade, parece que é uma coisa extremamente distante. Então, quando a universidade vem até a escola, eles começam a perceber que acessar esse espaço é algo possível”.
Ludimila Eufrazia Clemente, 17 anos, é aluna do segundo ano do Ensino Médio no Ciep 175. Ela conta que pretende prestar o Enem para ingressar no curso de Psicologia na UFRJ, e que estuda para o Exame desde o primeiro ano do ensino médio. Ludimila já tinha realizado a prova para ‘entender’ o processo. “Eu estudei a minha vida inteira em escola pública municipal e, agora, estadual. Acredito que uma das coisas que me fizeram ter vontade de ingressar no ensino superior foi o contato com os meus professores e diretores por ver como isso seria importante não só para mim, mas também para a minha família. Na minha família todos são negros”. Seu sonho é trabalhar como psicóloga no Hospital Municipal Jesus (HMJ), especializado em atendimentos pediátricos e referência para o diagnóstico de câncer infantil na rede pública do Rio de Janeiro.
Para Ludimila, a ação realizada pela Sgaada foi uma injeção de ânimo: “Eu acho que foi uma injetada de gás, porque eu vi alunos negros que estão cursando Psicologia e também são aqui da Baixada. Não só isso: abriu novos ares, coisas que eu não sabia. Principalmente de a gente entender nosso lugar social como pessoas negras, como pessoas de baixa renda. Então eu acredito que foi muito muito importante para mim”.
Segundo Denise Góes, superintendente-geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade, a Sgaada prepara para 2024 mais visitas, neste mesmo modelo, a escolas públicas de ensino médio.