A inauguração da exposição Futuros da Baía de Guanabara, na terça-feira, 21/3, contou com uma mesa de abertura que abordou a importância do debate em torno das questões ambientais. Os integrantes da mesa enfatizaram a necessidade do olhar atento aos aspectos em jogo na luta contra as mudanças climáticas, que estão sintetizados na discussão do imenso ecossistema em destaque: a Baía de Guanabara.
Como representante da reitoria, Denise Freire, pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa (PR-2), abriu a mesa falando sobre o papel da pesquisa e da ciência na preservação da Baía de Guanabara e no combate à crise climática. Além disso, ressaltou a importância da UFRJ na área, que desempenha ações voltadas para a transformação e inovação do local. Segundo ela, com base no cadastro da PR-2, mais de 80% dos laboratórios de pesquisa da UFRJ abordam temas relacionados aos objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), e o tema “poluição das águas” é registrado em mais de 20 programas de pós-graduação da Universidade.
“A UFRJ pode e deve ajudar com tecnologia e inovação na transformação da Baía de Guanabara em um corpo aquático limpo, que seja fonte de vida, e que possamos usar esse espaço de reflexão [a exposição] para abordar coletivamente os desafios presentes e futuros dela, com base nos princípios da preservação e sustentabilidade e nosso potencial de excelência acadêmica.”
A coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ, Christine Ruta, contou que a exposição foi pensada pela primeira vez em 2019, pela ex-coordenadora do Fórum Tatiana Roque, e que, hoje, em um contexto pós-pandemia, a exibição tomou outra proporção. Para ela, além de fazer os cidadãos perceberem o quanto estão interligados ao meio ambiente, a pandemia da covid-19 também colocou a sociedade frente ao negacionismo científico e climático, o que dificulta ainda mais o processo de conscientização dos impactos ambientais que vêm ocorrendo cada vez mais ao redor do mundo.
“Trazer o tema do aquecimento global em relação às mudanças climáticas é muito difícil na nossa sociedade quando nós, cientistas, comentamos que daqui a 40 anos teremos um aumento de X graus de temperatura. Como é que a gente vai sensibilizar a sociedade frente a isso? Então, além de discutir questões de democracia climática, a nossa exposição busca sensibilizar a população para esse problema que assola a todos.”
O curador da exposição, Leonardo Menezes, iniciou a sua fala enfatizando a importância da transversalidade na exibição, que permitiu reunir a ciência, a pesquisa, a cultura e os saberes tradicionais e impulsionar, nas palavras dele, “a inovação de qualidade no Brasil”. Após os agradecimentos a todas as equipes envolvidas no evento, Leonardo explicou por que a “democracia climática” foi um termo-chave para a exposição Futuros da Baía de Guanabara. Segundo ele, políticas públicas pensadas em favor do meio ambiente e que não resultam em injustiças sociais e ambientais são fundamentais. Mas, para além disso, ele afirma ser essencial que a população esteja envolvida nessa luta, entendendo os processos e resultados possíveis para o mundo. Por isso, é importante que exista um olhar direcionado para as regiões mais impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas. Assim, não só as comunidades locais poderão agir contra tais impactos, mas toda a sociedade, na qual cada um entenda o seu papel nessa luta.
“E esse [a união da sociedade contra as mudanças climáticas] talvez seja o maior desafio da humanidade neste século. Como podemos tentar, através da mitigação dos efeitos da mudança climática e da adaptação, nos adaptarmos a essa transformação que vai ocorrer e que foi causada por humanos? E, se foi causada por nós, nós também podemos modificar, mudar hábitos e pressionar governos para políticas públicas eficazes.”
Também presente na mesa, o secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luis Manuel Fernandes, apresentou uma perspectiva histórica da formação da Baía de Guanabara e do Brasil, como frutos de um projeto colonial, ressaltando a importância de também se olhar para o passado a fim de entender os aspectos que influenciam o presente e o futuro da sociedade. Segundo ele, apesar de a colonização ter sido base para a Revolução Industrial, também gerou as desigualdades que encontramos até hoje, um dos maiores desafios na luta para a implementação de um futuro sustentável, democrático e inclusivo. Por isso, a exposição também é fundamental para relembrar o contexto histórico que está por trás dos cenários atuais e que pode interferir na construção de futuros.
“Pensar futuros é também pensar trajetórias e passado. Não só a riquíssima biodiversidade da Baía, sua riqueza cultural e diversidade humana, mas também a trajetória da Baía como uma síntese das contradições e desafios do nosso tempo. Porque aqui, para além da diversidade original e cultural dos habitantes da região, foi palco de disputas de projetos coloniais que acabaram formando o Brasil.”
Jerson Lima Silva, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), explicou que um dos maiores objetivos de sua instituição é o de juntar projetos, pesquisas, pessoas e organizações em prol de um mesmo objetivo e que, com a exposição, enxerga notáveis caminhos para isso. De acordo com ele, o incentivo à pesquisa e à inovação é fundamental para promover transformações na sociedade e coloca a Faperj à disposição para contribuir nessa ação. “Isso pode ser uma vitrine para o mundo de ações que podem dar certo se a gente atuar com ciência e políticas públicas.”
A ex-coordenadora do FCC e atual secretária de Ciência e Tecnologia da cidade do Rio de Janeiro, Tatiana Roque, enfatizou em sua fala o papel fundamental da mobilização local no combate às mudanças climáticas, uma das principais motivações da exposição. Segundo ela, as decisões a nível global acabam sendo algo abstrato para os cidadãos e, por isso, torna-se ainda mais difícil engajá-los na luta pela preservação ambiental. Como exemplo, ela cita o Relatório Síntese do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, lançado na segunda-feira, 20/3, um dia antes da abertura da exposição. Para ela, apesar de alarmante, o documento não parece ter sido capaz de preocupar ou mobilizar a sociedade. Como representante do poder público municipal, Tatiana fala, então, da necessidade de se ter cada vez mais projetos como o Futuros da Baía de Guanabara na cidade, que reúnam a divulgação científica e a tecnologia com a sensibilização e engajamento da sociedade em relação aos principais problemas ambientais do século.
“Uma das maneiras de fazer divulgação científica, que não se separa da sensibilização climática e do engajamento, é tornar locais e sensíveis os problemas climáticos que são resultados globais. E, aqui no Rio de Janeiro, nada melhor do que partirmos da nossa Baía de Guanabara, que, além de tudo, é uma região que consegue criar uma sensação de pertencimento e de cidadania para regiões muito diversas do ponto de vista socioeconômico.”
A gerente de Articulações Corporativas do Parque Tecnológico da UFRJ, Natali Emerick, falou da inovação, uma das principais diretrizes do Parque Tecnológico, aliada à preservação e à preocupação ambiental. Segundo ela, iniciativas como a exposição Futuros da Baía de Guanabara são essenciais para integrar as ações já existentes na Universidade que buscam suportar as mudanças climáticas e promover alternativas sustentáveis. “O nosso objetivo é justamente potencializar a geração de novos produtos, novos serviços e novos modelos de negócio que gerem o desenvolvimento sustentável para a sociedade. Por isso o parque tem a missão de se adequar também às práticas sustentáveis.”