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Pesquisadores do Instituto de Química desenvolvem reagentes para identificar compostos ativos da Cannabis em medicamentos

Para garantir acesso seguro às terapias que empregam substâncias presentes nas plantas da família da Cannabis, pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro desenvolveram um kit com reagentes que apontam a concentração prevalente dos compostos ativos da planta, denominados canabinoides. Profissionais de segurança pública também poderão utilizar o material para detectar ações ilícitas. A Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro, inclusive, já aprovou os reagentes.

Cannabis é o gênero da planta que tem subespécies diferentes, sendo a Cannabis sativa e a Cannabis indica as mais conhecidas. A primeira, popularmente chamada de maconha, tem alta concentração de tetra-hidrocanabinol (THC), substância com efeito psicoativo responsável por alterações de consciência. Embora estudos indiquem o uso medicinal em alguns tratamentos, as altas concentrações de THC na maconha fazem a planta ser empregada para uso recreativo, ilícito pela legislação brasileira.

A Cannabis indica, também chamada de cânhamo, tem elevada concentração de Canabidiol (CDB), com efeito calmante, anticonvulsivo e anti-inflamatório, sendo um grande aliado no tratamento da epilepsia e outras doenças neurológicas. De acordo com o coordenador do Laboratório de Síntese e Análise de Produtos Estratégicos (Lasape) da UFRJ, Cláudio Cerqueira Lopes, foram 18 meses desenvolvendo o kit. “A iniciativa do nosso grupo de pesquisa procura garantir aos pacientes com doenças neurológicas o acesso seguro a uma Cannabis medicinal contendo concentrações de CBD:THC na razão de 20:1”, disse o professor.

A Polícia Civil do Rio também aprovou o kit e pretende que seja empregado para diferenciar a Cannabis medicinal da maconha. Aliás, o Lasape possui histórico no desenvolvimento de substâncias adotadas por peritos criminais para desvendar crimes, como o Luminol, que é usado na detecção de sangue oculto, e outros materiais de detecção de sêmen em crimes sexuais, por exemplo, e de células genéticas em armas de fogo. Esse kit para canabinoides recebeu a denominação DLM Cannabis.

Cláudio Lopes revelou que se trata de uma inovação tecnológica do reagente Duquenois-Levine utilizado na identificação de canabinoides. “Em um tubo de Eppendorf contendo vanilina, adiciona-se uma gota do óleo da Cannabis medicinal ou um pedaço da planta seca, por exemplo. Adiciona-se mais dois reagentes em gotas, e em seguida observamos, se for o caso de uma Cannabis ilícita rica em THC, o surgimento da cor azul em 30 segundos. Na Cannabis medicinal rica em CBD, será observada a cor violeta após 5 a 7 minutos”, explicou sobre o funcionamento do kit.

Os pesquisadores Rosângela Sabbatini Capella Lopes, André Luís Mazzei Albert e Thiana Santiago Nascimento, envolvidos no projeto, procuraram montar um kit de fácil manipulação que pudesse ser usado não só por peritos criminais, mas também por profissionais da saúde e cuidadores de pacientes com doenças degenerativas. De acordo com Cláudio Lopes, o trabalho foi possível por meio de financiamentos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A Fiocruz disponibilizou equipamentos para a cromatografia líquida de alta eficiência (High-Performance Liquid Chromatography, HPLC) com detector universal de aerossol carregado (da sigla CAD, em inglês) acoplado a um espectrômetro de massas de alta resolução (QqTOF).