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Cidade Universitária volta a contar com bicicletas compartilhadas e gratuitas

Novo sistema iniciará com 70 bicicletas e não funcionará apenas em estações

As bicicletas compartilhadas estão de volta à Cidade Universitária e com novidades para um melhor aproveitamento. A partir do dia 3/10, quando será inaugurado um novo sistema, coordenado pela Coppe/UFRJ, os usuários poderão se deslocar gratuitamente pedalando até a região do campus onde desejam parar. Agora não será mais necessário deixar o veículo em pontos específicos, como as estações, podendo estacionar em pontos próximos a seus destinos. 

A iniciativa faz parte do projeto Ampliando o alcance da mobilidade ativa no laboratório vivo da Cidade Universitária da UFRJ, que tem como coordenadores Marcio D’Agosto e Suzana Kahn, professores do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe, e Lino Marujo,  professor do Programa de Engenharia de Produção da Coppe. Suzana também é coordenadora do Fundo Verde/UFRJ. A proposta conta ainda com a participação de quatro pesquisadores, tem financiamento da Faperj e apoio da Prefeitura Universitária e do Fundo Verde. As bicicletas e o software de gerenciamento do sistema são fornecidos pela empresa Serttel − Soluções em Mobilidade e Segurança Urbana.

O novo sistema iniciará com 70 bicicletas e está estruturado para atender todos que tenham uma matrícula na UFRJ – alunos, técnicos-administrativos, pesquisadores e professores – e os moradores da Vila Residencial. Durante o período máximo de uma hora por viagem, eles poderão usufruir do veículo, iniciando e concluindo o deslocamento em uma das 25 regiões da Ilha do Fundão, denominadas manchas e selecionadas de forma criteriosa, por estimativa de demanda. 

Um celular tira foto de um QR Code em uma das bicicletas
Foto: Coppe/UFRJ

Para utilizar o serviço, basta baixar no smartphone o aplicativo Integra UFRJ e realizar o cadastro, ou atualizá-lo, no caso de quem já utilizava o serviço anterior implantado pelo Fundo Verde. O aplicativo pode ser baixado pelo Play Store ou pelo App Store.

Tecnologia e mobilidade

Para saber os locais onde há bicicletas disponíveis, bastará consultar o aplicativo. Uma vez diante da bicicleta, como explica Mariana Marques, pesquisadora da Coppe, o usuário deverá utilizar o próprio smartphone para desbloqueá-la, acionando um dispositivo nela instalado, e, a partir daí, sair pedalando pelas ciclovias, recentemente restauradas para o projeto. Ao terminar o deslocamento, sempre em local pertencente a uma das manchas, o usuário estacionará e travará a bicicleta de forma manual e usará o celular para encerrar a viagem, bloqueando a bicicleta automaticamente.

Mariana, aluna de mestrado do Programa de Engenharia de Produção da Coppe, alerta que é importante o usuário não se esquecer de encerrar a viagem pelo aplicativo. Caso contrário, o sistema de gerenciamento considerará que ele ainda está usando o veículo e, quando o tempo de uso ultrapassar 60 minutos, o usuário será suspenso por 72 horas. Tal suspensão é a multa padrão aplicada a todos que ultrapassarem uma hora de uso. A pesquisadora da Coppe também aconselha que o usuário bloqueie o veículo sempre que se distanciar da bicicleta ao fazer paradas, de forma que ela não seja utilizada por outra pessoa.

Todos os deslocamentos serão monitorados pela equipe da Serttel, que, pelo mapa do sistema de gerenciamento, terá acesso ao posicionamento de cada bicicleta, a partir do dispositivo nela instalado, o qual se comunica por GPS. A atualização será a cada 30 segundos, o que auxiliará nas tomadas de decisão dos técnicos da empresa, seja para transportar as bicicletas de uma mancha para outra quando for identificado que, por muito tempo, há quantidade excessiva na primeira e carência na segunda, seja para fazer manutenção de uma bicicleta que tenha alguma avaria detectada, o que poderá ser realizado no local em que ela estiver parada.

O professor Márcio D’Agosto, coordenador geral do projeto, diz que o objetivo é desenvolver um “laboratório vivo” que forneça mobilidade ativa para o corpo social da Cidade Universitária. De acordo com Márcio, a iniciativa também visa monitorar informações consideradas relevantes para atender ao conceito de cidade inteligente, por meio do uso deste sistema dockless de compartilhamento de bicicletas, que dispensa estações. “As informações serão adquiridas por meio da participação dos usuários que percorrerão o campus usando as bicicletas fornecidas. O aplicativo instalado em seus celulares será utilizado tanto para destravar e bloquear os veículos, como para nutrir nossos pesquisadores de dados que servirão para a construção de ações concernentes à área de mobilidade sustentável”, explica Márcio.

Três pessoas pedalando na ciclovia
As bicicletas do projeto anterior. Foto: Coppe/UFRJ

Este novo sistema de bicicletas compartilhadas chega para ampliar os benefícios do anterior, cuja experiência foi aprovada pela comunidade da UFRJ. Ele funcionava com 60 bicicletas, oito estações e 6km de ciclovia e foi utilizado na Cidade Universitária de setembro de 2017 ao início de 2020, quando teve início o isolamento social, em função da pandemia da Covid-19. Implantado pelo Fundo Verde e coordenado pela professora Suzana Kahn, atingiu uma média de três mil cadastros de alunos por ano e mais de 83 mil viagens realizadas, com pico de cinco mil em um único mês. Para se ter uma ideia da aceitação, em junho de 2018 já era contabilizada uma média de 130 viagens diárias.

De acordo com Bruno Allevato, pesquisador do Fundo Verde, no período de pico, hora do almoço e final da tarde, a demanda foi tanta que chegou a superar a oferta de veículos. Por isso, em algumas vezes, não havia bicicletas disponíveis nas estações. Segundo dados da Serttel, cerca de 20% das viagens diárias ocorriam entre as 10 e as 12 horas. Bruno, que também integra a equipe do atual projeto, explica que todas as informações coletadas na primeira experiência foram muito importantes para subsidiar a implantação deste novo projeto.

Agora, a intenção dos pesquisadores é que, a partir de casos práticos, a experiência da implantação do sistema de compartilhamento de bicicletas dockless na Cidade Universitária, que se transforma em verdadeiro Laboratório Vivo (living lab), sirva de modelo para as cidades brasileiras. De acordo com Suzana Kahn, professora da Coppe, os resultados obtidos poderão possibilitar seu escalamento para ambientes maiores e mais complexos do que o campus universitário, servindo de base para utilização das soluções desenvolvidas em locais mais amplos, como as cidades metropolitanas.

Planejamento urbano e sustentabilidade

Suzana, que também é vice-diretora da Coppe, diz que esta iniciativa pode gerar identificação de oportunidades e necessidades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para o planejamento urbano sustentável. “O uso das bicicletas para mobilidade traz muitos aspectos favoráveis, como preservação do solo e vegetação local e menor degradação e redução de manutenção da infraestrutura da rede viária. Além disso, pode propiciar um ganho de tempo considerável para os ciclistas nas curtas e médias distâncias e melhora na saúde e bem-estar deles. Por estas questões, achamos importante que haja uma rápida inserção destas soluções na sociedade” explica Suzana, que coordenou o capítulo de Transportes do mais recente relatório do IPCC, divulgado em abril deste ano.

A partir da implantação deste sistema, duas questões consideradas importantes serão analisadas pela equipe de pesquisadores, que também inclui Fernanda Maio, aluna de mestrado, e Victor Hugo de Abreu, aluno de doutorado, ambos do Programa de Engenharia de Transportes, e Gabriel Lima, aluno de graduação da Escola Politécnica. A primeira questão é se o usuário de carro particular migrará para o transporte coletivo, a exemplo do ônibus, para se deslocar à Cidade Universitária, já que as bicicletas serão mais uma opção para que cheguem ao destino final dentro do campus e facilitarão o deslocamento interno.

Fila de bicicletas em uma estação
O projeto avaliará também os benefícios da eliminação de estações. Foto: Coppe/UFRJ

Já a segunda é a performance diante do sistema tradicional que utiliza docas (estações). Nesta questão serão levados em conta aspectos como os custos de infraestrutura, veículo, operação e manutenção, bem como o nível de serviço oferecido, envolvendo disponibilidade das bicicletas, acessibilidade, flexibilidade e segurança. Para avaliar a performance deste sistema em relação ao tradicional, os pesquisadores estimarão a redução de consumo de energia e as emissões evitadas de CO2 e de alguns poluentes atmosféricos. Nos estudos ainda levarão em conta a utilidade das bicicletas na potencialização de mobilidade, além do impacto social.

A solenidade do lançamento oficial acontecerá no dia 5/10, às 10h, no Auditório do Horto, na Prefeitura Universitária.