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Tucumã pode ser resposta mais sustentável ao óleo de palma

Pesquisa estuda a utilização do fruto como uma alternativa para a indústria alimentícia

Uma palmeira muito comum na região norte do país vem sendo estudada por suas diversas propriedades, entre elas o óleo rico em nutrientes produzido com seus frutos. No Laboratório de Processamento de Matérias-Primas Vegetais, da Escola de Química, pesquisadores estudam o tucumã como opção sustentável à palma, muito usada na indústria alimentícia, cuja exploração é um dos maiores responsáveis pela devastação de florestas asiáticas.

Se olharmos os rótulos de alimentos no mercado, provavelmente encontraremos vários produtos com óleo de palma em sua composição. Mais de 85% da exploração desse óleo é feita na Indonésia e na Malásia, causando grande impacto ambiental devido ao desmatamento da floresta nativa para plantio da palma. Além disso, as plantações conduzidas por grandes empresas multinacionais colecionam denúncias de trabalho escravo e infantil.

Maria Fernanda dos Santos Mota, doutoranda em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, afirma que uma das vantagens do óleo de tucumã é sua produção mais sustentável. Nativo da Amazônia, o fruto é colhido por produtores locais vinculados a cooperativas. O beneficiamento do tucumã e o desenvolvimento de uma cadeia produtiva utilizando esse óleo podem se tornar uma estratégica para o desenvolvimento sustentável de comunidades na região, aumentando a renda familiar local e incentivando a conservação da floresta e da biodiversidade local.

“Uma maior exploração desse óleo de forma sustentável auxilia na redução das queimadas e do desmatamento para o crescimento de espécies não nativas, gado, grilagem e atividades econômicas ilegais, principalmente exploração de madeira e minérios”, explica.

Mota estuda a polpa do tucumã, rica em lipídios, que é transformada em um óleo alaranjado, repleto de compostos antioxidantes como o betacaroteno, sendo muito interessante nutricionalmente. Durante a pesquisa, o óleo de tucumã pode ser transformado em diversos tipos de frações, as mais leves ou as mais pesadas, com ponto de fusão maior. Segundo a pesquisadora, algumas dessas frações apresentam grande potencial de substituir o óleo de palma em produtos alimentícios.

“Tanto nos meus estudos quanto no de outros colegas do laboratório de lipídios e derivados, temos visto um grande potencial desse óleo. Estamos estudando também misturas do óleo da polpa com o da castanha para aumentar ainda mais a presença desse óleo na indústria de alimentos.”

Trabalho em equipe

Ao entrar no doutorado, Mota pôde contar com o apoio de outros pesquisadores do laboratório que também estudavam material vegetal, lipídios e seus derivados. Outra estudante, Meire Ferreira, buscou, durante seu mestrado, a deacidificação do substrato, tornando o óleo propício para o consumo.  Partindo desse processo, Santos estudou o fracionamento, a caracterização e a composição de voláteis do óleo de tucumã e das frações obtidas.

Com previsão de defesa no início de 2022, a pesquisadora acredita que outros benefícios e aplicações podem ser descobertos no tucumã, como, por exemplo, a pesquisa de Ferreira que, agora no doutorado, explora uma mistura do óleo da polpa com a gordura da amêndoa do fruto, visando aumentar ainda mais a sua utilização na área de alimentos.

“Existem inúmeras oportunidades de utilização do fruto, do óleo e da gordura de tucumã. E cada um dos alunos estuda uma parte dele, buscando o aproveitamento integral da matéria-prima. É interessante ressaltar que ninguém consegue fazer pesquisa sozinho: é muito importante ter outras pessoas no grupo, que vão ajudar e muito com suas experiências e pontos de vista”, completa.