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Curso que liga dança, educação e acessibilidade já está com inscrições abertas

Realizada em ambiente virtual, a iniciativa faz parte do projeto Um Novo Olhar, que visa promover acessibilidade e inclusão

O projeto Um Novo Olhar, que integra o programa Arte de Toda Gente, desenvolvido em conjunto pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) e Universidade Federal do Rio de Janeiro, por meio de sua Escola de Música, abriu, no dia 27/7, as inscrições para o curso Dança + Educação + Acessibilidade. As aulas pretendem abordar temas que envolvem as relações entre o campo da dança, da dança-educação e da acessibilidade cultural.

Assíncronas e ministradas no ambiente virtual de aprendizagem da UFRJ, restrito aos inscritos, as aulas terão início em 16/8, com conteúdos como Problematizações sobre Dança/Educação, Acessibilidade e Inclusão; Singularidades das Deficiências e Práticas Inclusivas para a Promoção da Acessibilidade; Acessibilidade Cultural em Dança; Peso e Gravidade, Partes do Corpo e Esforços, Espaço, Famílias da Dança e Danças Coletivas; Temporalidades Gestuais, Metrificação, Gestos e Temporalidades Díspares; Dança, Criação e Diversidade.

Marcus Vinícius Machado, professor-associado do Departamento de Arte Corporal da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ, que ministra disciplinas nas graduações de Dança, Terapia Ocupacional e Musicoterapia, conta sobre a importância da iniciativa: “São quase óbvios os benefícios que a dança pode fornecer a pessoas com deficiências, pois a dança é um intenso trabalho de exploração de funções psicomotoras, de ampliação da capacidade respiratória, de alongamento, relaxamento e fortalecimento muscular. Além disso, ela trabalha com memória gestual, ritmo, escuta musical, dentre outras propriedades que, sem dúvida, estabelecem fortes relações com as funções cognitivas”. De acordo com o docente, diversos trabalhos científicos na área relatam tais propriedades e benefícios.

No curso, serão discutidos tópicos como as linguagens artísticas e, também, as forças históricas e políticas que acompanharam a arte da dança em sua trajetória no Ocidente. As aulas, além de incluírem uma apresentação e experimentações relacionadas aos processos de dança-educação, destacarão a importância e relação da dança com a acessibilidade cultural, a fim de fomentar reflexões entre os dois campos e fornecer maior capacitação para se trabalhar com elementos da dança na diversidade.

As inscrições, gratuitas, estarão abertas até 9/8 e deverão ser feitas pelo site www.umnovoolhar.art.br. São 600 vagas disponíveis para todo o país, destinadas, principalmente, a professores do ensino fundamental. Não há, no entanto, restrições a inscrições de outros profissionais, segundo Marcus:

“‘Todes’, todas e todos podem se inscrever no curso. Não é necessário ter qualquer conhecimento prévio de dança. Nosso credo e lema é que ‘todes’, podem e devem dançar”, alerta. “Em nosso curso, seguiremos dois caminhos: um é entender como alguns processos de acessibilidade podem ser realizados na dança. O segundo é uma pequena ‘alfabetização’ dos elementos gestuais que compõem a linguagem da dança. Assim, aquela pessoa que acredita que não sabe dançar ou nunca dançou conhecerá elementos básicos para se sentir confortável para lançar propostas criativas de exploração da dança com seus estudantes.”

O curso poderá ser concluído até 10/10. Ao final, os participantes que obtiverem aprovação na avaliação do conteúdo apresentado receberão um certificado com a carga horária de 48 horas.

Marcus, que dará as aulas com as professoras Beatriz Salles, coordenadora da graduação em Musicoterapia na UFRJ, e Denise Sá, que coordena o projeto de extensão Comunidança, também da Universidade, está animado. “Para mim, o mais intenso da dança é sua capacidade de fazer com que cada um conheça o seu corpo de maneira prazerosa e expressiva. Esse encontro ‘íntimo’ consigo mesmo, mediado pela exploração potente do corpo, é transformador e inigualável. A vida das pessoas que dançam muda em diversas direções”, destaca o professor, que afirma categoricamente que a dança é um dispositivo produtor de vida, “e entendendo ‘vida’ em todas as dimensões, incluindo a dimensão afetiva e social”.

Para ele, uma formação sensível e acolhedora pode produzir muitas descobertas e mudanças, sendo fundamental para um caminho interessante na jornada da dança. Por isso, o docente dá uma dica para quem quer começar, independentemente do tipo de deficiência, idade e outros fatores. Ele é enfático:

“Dance, dance sem pensar em qualquer lógica ou fator impeditivo. Mas um conselho mais objetivo para quem deseja seguir um caminho pela dança é: procure uma formação com pessoas ou escolas de dança que valorizem diversos padrões estéticos e fujam das lógicas mais frequentes na dança. Há muitas formações sensíveis no Brasil que pensam a dança sobre outras poéticas, problematizam e fogem do imaginário da(o) bailarina(o) como um ‘superatleta’ de passos, magro e jovem. Nessas escolas sensíveis, há uma busca da expressividade e estética própria de cada um, acreditando nas potências de cada corpo singular.”

Um Novo Olhar

Lançado em julho de 2020, durante a pandemia de COVID-19, o projeto Um Novo Olhar tem como objetivo promover a acessibilidade e a inclusão de crianças, jovens e adultos com algum tipo de deficiência por meio das artes e da capacitação de professores e regentes para coro. Com a exibição on-line de shows, oficinas, vodcasts (podcasts em formato de vídeo) e lives sobre arte e acessibilidade, além de uma série de publicações, a iniciativa tem também como alvo a ampliação da percepção de toda a sociedade a respeito das deficiências.