Desenvolvendo os cachos

Projeto idealizado por estudantes produz modelador inovador para cabelos crespos

Thamyris Costa vivia uma relação difícil com seu cabelo. Extremamente vaidosa, a estudante de Engenharia só saía se os fios estivessem conforme queria, tinha vergonha naqueles dias de cabelo esquisito, e se sentia linda quando conseguia domá-lo com escova e chapinha. Após se mudar para Macaé e não conseguir tratamentos específicos para o cabelo crespo, Costa percebeu que vivia uma prisão psicológica e que precisaria mudar essa realidade.

Com o cabelo muito danificado pela química e pelos aparelhos térmicos, a estudante fez o big chop — corte radical para tirar a parte comprometida e fazer a transição para cuidados mais naturais, muito comum entre mulheres negras e com cabelo crespo — mais de uma vez.

“Partindo dessa premissa, a mulher preta, de cabelo crespo, cacheado ou ondulado, infelizmente e erraticamente está acostumada a ser mal tratada em diversas fases de sua vida e não poder ter controle sobre quase nada, por preconceito e outras questões institucionalizadas. Contudo, não ter o controle sobre a minha aparência e a forma como quero que as coisas aconteçam foi o que me fez acordar”, conta.

Das experiências que teve como consumidora de produtos de beleza e sobre autoconhecimento, surgiu a ideia de criar um equipamento que não altere a estrutura do fio, mas que permita que as mulheres não precisem cortá-lo. Assim surgiu o Ecocachos, babyliss que utiliza jatos de ar para moldar os cabelos.

“Com tempo de sobra, devido à quarentena, usei meus dias para me aprofundar em pesquisas e testes até consegui fazer um protótipo caseiro. Eu sabia que sozinha não conseguiria, decidi procurar por empresas que pudessem fazer aquilo sair do papel.”

Depois de entrar em contato com grandes empresas do setor da estética e beleza, encontrou na Fluxo Consultoria, empresa júnior da Escola Politécnica e da Escola de Química, a oportunidade de dar segmento a sua ideia.

Thamyris Costa, Amanda Santoro, Raquel Cavalcanti e Carolina Chacon | Foto: Fluxo Consultoria

Amanda Santoro, Raquel Cavalcanti e Carolina Chacon, alunas de Engenharia Naval, Nuclear e Mecânica, respectivamente, fazem parte da equipe da Fluxo e participam da produção do Ecocachos. Segundo elas, o projeto passou por etapas de estudo de possibilidades de material, tamanho, funcionamento, estrutura, seguida por uma prototipagem em 3D com simulação térmica e estrutural para certificar o funcionamento correto, além da construção da parte elétrica.

“Muitos equipamentos para cabelos danificam muito a estrutura capilar, atrasando ou impossibilitando a transição capilar. Com isso, o Ecocachos foi pensado para não chegar a uma temperatura que danifique os fios, podendo, assim, ter um cacho modelado em segundos. Além disso, é um produto flexível, o canudo pode ser trocado por um de outro tamanho, assim pode ter vários tipos de curvatura”, explicam.

No momento, o produto se encontra numa nova prototipagem e testes, e, com uma resposta positiva após essa etapa, Costa poderá seguir em busca de investimento para comercializar o Ecocachos.

“Minha expectativa é conseguir um investidor para entrar com aporte financeiro para fabricar em grande escala, comercializar e usar todo o seu conhecimento para me ajudar na gestão. Quero que o Ecocachos chegue à casa de mulheres de todas as classes sociais. E que todas alcancem a autoestima”, conclui a criadora.

Por Carolina Correia