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Coronavírus: saúde mental em tempos de isolamento

Avanço da doença e quarentena afetamo dia a dia da população e podem agravar condições psicológicas

O isolamento social é a ferramenta mais importante contra a COVID-19, previne o avanço da doença e protege dos efeitos danosos do vírus. Porém, tanto a quarentena quanto o medo de uma enfermidade nova impactam diretamente na saúde mental das pessoas.

A população brasileira é considerada internacionalmente como muito calorosa. Abraços, beijos, toques são sinais de afeto e apreço comuns do brasileiro. Em tempos de pandemia e de isolamento social, esse distanciamento e essa mudança drástica do dia a dia podem causar sensações de depressão, ansiedade e, em casos mais graves como os de profissionais da saúde, o estresse pós-traumático.

Maria Tavares Cavalcanti, professora do Instituto de Psiquiatria, afirma que uma alteração radical de vida de maneira tão brusca não muda apenas o cotidiano individual e familiar, mas também é um abalo na organização da sociedade. “Nós nos damos conta de que o espaço da nossa casa, o espaço da nossa intimidade era de fato o espaço menos habitado por nós”, explica.

Segundo Cavalcanti, uma série de estudos realizados com isolamentos de contaminados ou suspeitos de outras doenças aponta que os dois grupos mais vulneráveis a efeitos na saúde mental são as pessoas com antecedentes de transtornos psicológicos e os profissionais da saúde.

O primeiro grupo pode sofrer com mais crises de ansiedade e momentos de depressão, mas, paradoxalmente, as pessoas que tinham como gatilho principal de suas crises fatores externos, como o trabalho ou o fato de sair de casa, podem ter alívio dos sintomas.

Já os profissionais de saúde, que são a linha de frente no combate ao vírus, lidam com o estresse, a pressão psicológica e os riscos da doença diariamente. E os efeitos psicológicos negativos, que podem persistir por meses após as experiências ruins, são, sobretudo, sintomas de estresse pós-traumático, ansiedade, raiva, medo, irritabilidade e comportamentos evitativos. “Nesses casos, a comunicação continua sendo essencial, bem como a garantia de proteção, a sensibilidade das chefias para a realização de escalas de trabalho mais justase eficientes para todos os envolvidos, a garantia de suprimentos adequados, transporte, respeito à população.”

A professora ressalta que, em momentos como este que estamos vivendo, a tendência é que as pessoas comecem a perceber que são necessárias mudanças radicais na forma de levar a vida: que o vizinho idoso e o morador de rua são responsabilidade de toda a comunidade. “A organização do Estado, o pagamento de impostos para o cuidado com os mais vulneráveis não me desobriga do que eu posso e devo fazer com aquilo que está ao meu alcance, para além dos tempos de coronavírus. O Estado não é uma entidade para além de mim.Ele é também eu, somos nós.”

Esse aumento da consciência de responsabilidade comunitária contrasta com o aumento do sentimento de solidão que o isolamento pode causar. Para minimizar essa sensação, a psiquiatra afirma: é necessário se reorganizar internamente e promover outros meios de contato social, como ligações e videochamadas, além de consultas psicológicas de maneira virtual. As ferramentas tecnológicas podem funcionar de maneira protagonista, tanto as que aproximam socialmente as pessoas como também as que levam cultura e arte para o público. Livros, filmes, música e jogos são formas de exercitar a mente e manter a distração. Mas Cavalcanti alerta que o consumo frenético de notícias e rumores sobre a COVID-19 pode causar ainda mais sensações de ansiedade e pânico.

A professora deu ainda outras dicas de atividades para manter a saúde mental neste momento. “É importante manter uma rotina, com exercícios, alimentação saudável, estudo e/ou trabalho, além de lazer. Exercícios de relaxamento, como meditação e respiração, também ajudam e podem ser encontrados facilmente na internet.”

Veja abaixo mais dicas da professora Maria Tavares Cavalcanti para lidar com o isolamento:

– Converse com pessoas nas quais você confia. Entre em contato com seus amigos e familiares.

– Ao ficar em casa, mantenha um estilo de vida saudável (incluindo uma dieta adequada, sono, exercício e contato social com os entes queridos em casa).

– Mantenha contato com familiares e amigos por e-mail, telefonemas e uso das mídias sociais e outras plataformas.

– Não use tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com suas emoções.

– Se você se sentir sobrecarregado, converse com um profissional de saúde, assistente social,ou outro profissional ou pessoa confiável em sua comunidade.

– Tenha um plano para onde ir e procurar ajuda para a saúde física, mental e psicossocial, se necessário.

– Conheça os fatos sobre o seu risco e saiba como tomar precauções. Use fontes confiáveis para obter informações, como o site da Organização Mundial da Saúde, da UFRJ ou uma agência de saúde pública local.

– Diminua o tempo em que você e sua família passam assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas perturbadoras.

– Use as experiências e habilidades que você usou no passado em tempos difíceis para gerenciar suas emoções durante o surto.