Categorias
Memória

A Praia Vermelha em debate

A primeira mesa do segundo dia do Seminário UFRJ em debate: A situação da Praia Vermelha lotou o Auditório Professor Manoel Maurício Albuquerque, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ, na última terça-feira (28/06). Estudantes e funcionários docentes e técnico-administrativos da UFRJ acompanharam o debate do qual participaram o professor Pablo Benetti, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), e presidente do Comitê Técnico do Plano Diretor (CTPD) UFRJ 2020; e o professor Roberto Leher, da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ. Mediados pelo decano do CFCH, professor Marcelo Macedo Corrêa e Castro, os convidados apresentaram suas visões acerca das propostas do Programa de Reestruturação e Expansão (PRE) da UFRJ.

Segundo Benetti, os principais problemas da universidade já haviam sido diagnosticados e levados a debate desde a elaboração do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), em março de 2006. As críticas a respeito do isolamento entre as unidades e das mesmas com a sociedade, a rigidez da estrutura curricular e a estrutura de fragmentação da UFRJ são algumas dessas ideias fundamentais que, de acordo com Benetti, deverão ser revistas através do PRE. “O projeto é de uma universidade mais aberta, mais plural, que mude a cor de seus estudantes e onde os currículos dos cursos se tornem mais transdisciplinares”, argumentou.

Sobre a transferência das unidades situadas no campus da UFRJ na Praia Vermelha para a Cidade Universitária, Benetti garantiu que será consensual. O arquiteto defendeu como um dos principais motivos da transferência a vontade expressa das unidades de expandir os cursos, o que seria possível em um local como a Cidade Universitária. “Na elaboração do Plano Diretor, as unidades responderam a questionários e uma das perguntas era aonde elas se viam nos próximos 20 anos. As respostas indicaram que  elas se viam com o dobro do tamanho, com mais alunos e professores. Essa é a sinalização de um desejo que precisa de contrapartida”, afirmou.

Já para Leher, a localização de um campus universitário não garante a sua democratização. Como exemplo, ele citou a transferência da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha para a Cidade Universitária, em 1973. De acordo com o professor da FE-UFRJ, o perfil dos alunos que têm acesso ao curso continua sendo o mesmo.

O docente também chamou a atenção para as novas configurações das universidades em todo o mundo. Segundo ele, a educação superior vem sido redesenhada a partir do momento em que grandes corporações adquirem instituições privadas de ensino. Quanto à universidade pública, ele usou como exemplo o Processo de Bolonha, através do qual, países europeus reorganizaram os seus sistemas de ensino superior. “A intenção de criar um mercado de educação comum europeu encontrou um obstáculo nas universidades públicas, que são devidamente reconhecidas na Europa e têm estudantes capazes de defendê-las”, analisou. O professor ainda explicou como poderia ser criado um mercado de educação nas universidades públicas. “O processo de Bolonha nos dá uma pista: fatiar a graduação. Em nome da democracia, é criado um primeiro círculo de dois, três anos de formação mais genérica. A segunda etapa, que seria a formação profissional, fica restrita a poucos”, completou.

De acordo com Leher, esse novo processo de educação chega ao Brasil através da Universidade Nova, já implantada na Universidade Federal da Bahia (UFBA) através do Programa de Apoio a Planos de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais (Reuni). O professor criticou a proposta dos cursos interdisciplinares, alegando a provável perda do pensamento crítico dentro da universidade a partir do momento em que esta se volta para o mercado, formando profissionais “flexíveis”. Em resposta, Benetti afirmou que o formato de flexibilização na UFRJ ainda não está definido, mas garantiu que não será o de Bolonha.