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Farmácia natural

 Pesquisadores da UFRJ estudam, atualmente, vários frutos encontrados na restinga de Carapebus, no Norte Fluminense do estado do Rio de Janeiro, em busca de elementos bioativos que sejam capazes de atuar diretamente na prevenção e no tratamento de doenças. Por enquanto, apenas quatro vegetais são analisados: o cacto vermelho (Pilosocereus arrabidae), o gravatá (Bromelia atiacantha), o araçá da praia (Pisidium cattleianum) e o guriri (Allagoptera arenaria), mas a proposta é avaliar o potencial de mais cinco espécies até o fim do ano.

De acordo com a professora Angelica Nakamura, uma das coordenadoras da equipe de pesquisadores do polo universitário de Macaé, a ideia é, após identificar os compostos bioativos e a atividade antioxidante dos frutos, desenvolver métodos para valorizar a comercialização dos produtos regionais. “Nesta época do ano, a maior parte das espécies não está frutificando. Mais próximo ao final do ano, pretendemos incluir no estudo a azeitona da praia, o cacto branco, o coco airi, o micumi e a aroeira”, revelou ela.

Em uma futura etapa do projeto, a equipe contará com a colaboração do professor Marco Antonio Lopes Cruz (UFRJ-Macaé), que  desenvolverá pesquisa na área de micropropagação de espécies de maior interesse. Segundo a professora Priscila Vieira Pontes (UFRJ-Macaé), que também integra a equipe, a técnica desenvolvida por Cruz se utiliza da clonagem para a produção em larga escala de mudas para o plantio. “Com o avanço das descobertas, ele e outros terão muito a contribuir com o trabalho”, disse.

Presentes nas frutas, legumes, verduras, cereais, peixes de água fria, leite fermentado entre outros alimentos, os compostos bioativos atuam diretamente na prevenção e no tratamento de doenças. Eles são consumidos in natura  ou  então isolados e inseridos em outros produtos. Hoje, no Brasil, é obrigatória a fortificação de farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico, para evitar o enfraquecimento do organismo com a anemia ferropriva, que propicia a incidência de doenças infecciosas.

Embora os frutos pesquisados possam ser encontrados em outras regiões brasileiras, é importante descobrir o potencial de cada um deles. Há a expectativa de encontrar nos frutos diversos tipos de vitaminas e minerais, além dos compostos fenólicos que se destacam por apresentarem uma boa capacidade antioxidante. “Hoje, já está bem estabelecida a relação entre dietas ricas em frutas e a prevenção das chamadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que são basicamente diabetes, câncer e doenças cardiovasculares. Essa capacidade de prevenção de doenças é atribuída aos compostos presentes nas frutas e estamos buscando exatamente esses compostos nos frutos da restinga”, afirma Nakamura.

Prevenção vinda do quintal

Angelica Nakamura idealizou o projeto com a professora Priscila Vieira Pontes (UFRJ-Macaé), que ao lado dela coordena a equipe composta ainda pelo professor Marcelo Guerra (UERJ), a professora Tatiana Konno (UFRJ-Macaé) e a professora Eliane Fialho (UFRJ). O grupo conta também com seis alunos de iniciação científica, todos do curso de Nutrição da UFRJ-Macaé.

A restinga de Carapebus está situada no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, criado por decreto em 1998, e que abrange os municípios de Macaé, Carapebus e Quissamã, localizados na região Norte Fluminense. Alguns dos frutos estudados são conhecidos e utilizados pela população local, como o araçá da praia, que pode ser encontrado no quintal de algumas casas. Outros são menos conhecidos e menos utilizados, porém relatados como comestíveis por cidadãos mais antigos da região.

Os professores Marcelo e Tatiana vão à restinga com grupos de estudantes para fazer a coleta dos frutos, que são acondicionados em caixas térmicas e seguem para o Polo Universitário na UFRJ-Macaé. Lá, eles são processados e analisados pelas professoras Angelica e Priscila com o auxílio dos alunos de iniciação científica. Os resultados são discutidos, tabulados e preparados para publicação.

Ainda em fase inicial, o trabalho até o momento foi focado na captação de recursos financeiros, treinamento dos alunos e em buscas de literatura científica. A parte prática está começando em aproximadamente um mês. É cedo, segundo a professora Angelica, para dizer algo sobre as substâncias encontradas. “No entanto, nossa expectativa é de encontrar nesses frutos diversos tipos de vitaminas e minerais, além dos compostos fenólicos que se destacam por apresentarem uma boa capacidade antioxidante”.

Na verdade, o trabalho é bastante extenso e não existe uma previsão para término. Durante o estudo, publicações científicas serão divulgadas com os avanços em cada etapa. “Ainda este ano alguns resultados serão divulgados em congressos e até o final do próximo ano esperamos  publicar os resultados da primeira etapa em revista científica de circulação internacional”, concluiu Angelica Nakamura.