Ao encerrar o discurso de improviso, o filho do professor Walter Baptist Mors, resumiu o sentimento na cerimônia que batizou, na manhã da última quinta-feira (31/3), a praça da Estação de Integração rodoviária da UFRJ com o nome do proeminente cientista: “O velho mereceu”, disse Paulo Mors, que reencontrava os irmãos na universidade, já que vivem em estados brasileiros diferentes.
Nascido em 23 de novembro de 1920, o paulista Walter Baptist Mors formou-se em Química pela USP. Em 1962, ao lado de outros pesquisadores de renome, ajudou a fundar o Centro de Pesquisa de Produtos Naturais da universidade, que passou a ter o status de núcleo e é o atual NPPN, da Faculdade de Farmácia da UFRJ. Mors foi responsável pelo incremento da pesquisa química de produtos naturais em nosso país, ao introduzir o conhecimento das plantas medicinais de nossa biodiversidade e se empenhar para formação de recursos humanos na área.
De acordo com a professora Gilda Guimarães Leitão, diretora do núcleo, o professor Walter Mors era um visionário ao reunir em torno das pesquisas científicas grupos multidisciplinares, cada vez mais comuns em nossos dias. “Ele foi um grande químico de produtos naturais, que conseguiu congregar químicos, farmacêuticos, botânicos, farmacólogos e todos os outros profissionais envolvidos na ciência”, disse ela, lembrando que Mors identificou e isolou a substância ativa do óleo dos frutos da Sucupira branca (Pterodon pubescens) – publicado na revista Science em 1967. A substância,usada depois em sabonetes que impedem a penetração das cercarias do Schistosoma na pele, evita a esquistossomose.
Essa capacidade de integração também foi ressalta pelo prefeito da Cidade Universitária, Hélio de Mattos, que a escolha do local tem tudo a ver com o histórico do professor Walter Mors. “Hoje 85% das 65 mil pessoas que circulam pela universidade passam pela estação, onde passa quem vai para a Zona Norte, Baixada Fluminense e Centro do Rio. É um local bem escolhido. A entrada da Cidade Universitária e tivemos o cuidado de arborizar com Ipês, que tem um simbolismo para o professor e o NPPN”, disse.
Em um dos trabalhos de Mors, o professor pesquisou o Lapachol, composto orgânico isolado do Ipê e estudado como possível tratamento para certos tipos de câncer. De acordo com a técnica de nível superior em Química do NPPN há 37 anos, Maria do Carmo Ribeiro, há relatos que um caboclo que queimava lenha na fazenda da família de Mors enquanto ele ainda era estudante chamou a atenção para uma substância amarela que saía da lenha da árvore. Desde cedo, já se revelava o espírito investigativo do cientista.
O neto do professor Mors, Luis Mors Cabral, acabou sofrendo a influência do avô na escolha da carreira. Ele é especialista em biologia molecular de plantas. “Acho que trabalho com vegetais tem muito da influência dele que sempre foi apaixonado por produtos naturais. A homenagem da UFRJ relembra uma conversa que tivemos pouco antes de ele morrer, no qual ele me confidenciava que era sempre bom ser lembrado. É bom para mostrar a todos que ele foi muito importante para o desenvolvimento da ciência no Brasil”, concluiu