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Mulheres na prisão: a tortura na ditadura militar

O Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direito Humanos (Nepp-DH) da UFRJ – vinculado ao Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) – exibiu o filme “Que bom te ver viva”, de Lúcia Murat, em seu curso de extensão “Direitos Humanos em Tela”, na última quarta-feira (28/4). Depois da exibição, a diretora e professora Rosalinda Santa Cruz, da Faculdade de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), contou sua experiência na prisão nos anos de ditadura militar.

O filme conta a história de ex-presas políticas, durante o período da resistência militar que, assim como Rosalinda, foram torturadas. Alternando realidade e ficção, o longa traz depoimentos de mulheres que viveram esse drama, além da atriz Irene Ravache, que interpreta uma delas. De acordo com a professora, o roteiro é corajoso e instigante. “É como um grilo falante: fala o que ninguém tem coragem de revelar, contrabalanceando as testemunhas”, afirmou.

Mesmo passados 40 anos, Rosalina Santa Cruz acredita que a tortura não acabou, “A prática ainda acontece nas delegacias e acomete jovens mais pobres. Eu acho que todo preso é político, porque esses jovens são detidos por falta de oportunidades, de educação. E isso é omissão política”, explicou. “A fome e a miséria também são formas de tortura”, completou.
Além disso, esse passado está presente, porque a Lei da Anistia ainda está em debate na sociedade e será julgada em breve no Supremo Tribunal Federal (STF). “É um absurdo que os militares não queiram ser julgados. Nós fomos”, afirmou Rosalinda. A professora ainda comentou a aparição de alguns generais em programas de notícias confirmando e justificando as torturas. “Eles querem ser vistos como heróis”, disse.

Segundo Rosalinda, existem dois tipos de tortura: a física, mais conhecida, e a psicológica. A professora já passou pelas duas e afirmou que a última pode ser tão ruim quanto a primeira. “Colocaram um capuz em mim e começaram a falar coisas, não conseguia parar de tremer e até menstruei, de medo”, contou. “Agradeço por estar viva”, afirmou, justificando o título do filme.

“Hoje, como no passado, é preciso agir”, comentou Rosalinda, indicando a necessidade de os movimentos populares se organizarem. A professora acusou o individualismo neoliberal como uma das causas da falta de união dos ativistas. “É preciso conhecer os planos do governo, como o novo Plano Nacional de Direitos Humanos e opinar, mostrar o que o povo quer”, concluiu.