De acordo com o Marco Antonio da Silva Mello, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifcs), a cidade apresenta, desde sua origem, as desigualdades sociais que marcam a sociedade brasileira.

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Memória

Rio de Janeiro 445 anos

De acordo com o Marco Antonio da Silva Mello, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifcs), a cidade apresenta, desde sua origem, as desigualdades sociais que marcam a sociedade brasileira.

A cidade do Rio de Janeiro completou nesta segunda, 1º de março, 445 anos. Fundada e batizada por Estácio de Sá como São Sebastião do Rio de Janeiro, o espaço que une uma extensa faixa litoral cercada por morros e montanhas surgiu oficialmente com o propósito de expulsar os invasores franceses das terras da Coroa Portuguesa.  Desde então, a cidade que encanta o mundo por sua diversidade apresenta em seu tecido urbano múltiplas realidades.

A topografia do Rio é parte integrante dessa variedade. Uma das questões que sempre esteve na agenda de debates é o planejamento urbano e a divisão entre ricos e pobres, que gera mitos como o da "cidade partida", que admite uma separação entre favela e asfalto.

De acordo com o Marco Antonio da Silva Mello, professor do Departamento de Antropologia Cultural e  coordenador do Laboratório de Etnografia Metropolitana do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifcs), o Rio de Janeiro apresenta, desde sua origem, as desigualdades sociais que marcam a sociedade brasileira. “A cidade expressa, em sua morfologia urbana, as oposições clássicas que atravessam o Brasil: pobres x ricos; senhor x escravo; favela x asfalto”, explica.

Algumas dessas divisões podiam ser observadas desde o período  colonial. Havia o Rio de Janeiro oficial que terminava na Rua Uruguaiana, chamada na época de Rua da Vala. “Atravessando a Rua da Vala era possível encontrar outra realidade. Era lá que viviam os ciganos, os escravos e todos os demais excluídos da corte”, explica.

Dentro dessa diversidade, talvez o capítulo mais marcante da exclusão social no Rio de Janeiro tenha sido a reforma urbana promovida por Pereira Passos, no início do século XX. O prefeito da então capital federal agenciou a abertura de avenidas, inspirado em Paris; destruiu cortiços e casebres e, junto com a promoção do plano de saneamento básico proposto por Oswaldo Cruz, implementou a reformulação do sistema de Saúde no Rio de Janeiro.

Em geral, o surgimento de favelas e a ocupação precária na cidade são associadas a essa reforma. "A divisão sempre existiu no Rio de Janeiro", esclarece. "Entretanto, a reforma de Pereiras Passos, ocorrida durante o governo de Rodrigues Alves, acirrou a questão", completa. De acordo com o professor, a destruição de parte tecido urbano e a expulsão de moradores desses centros urbanos não foi por acaso. "Por trás do objetivo mais conhecido de modernizar a capital, estava a valorização da área central do Rio e o aumento da especulação imobiliária", destaca.

Jogos Olímpicos de 2016

Hoje, os debates sobre o planejamento urbano e as desigualdades sociais do Rio de Janeiro estão novamente em foco. A realização dos Jogos Olímpicos de 2016, da Copa do Mundo em 2014  e o discutível legado dos Jogos Pan-americanos de 2007 trazem à tona problemas enfrentados por quem vive na cidade e as possíveis soluções propostas pelas três esferas governamentais.

Segundo Marco Antonio da Silva Mello, no entanto, as Olimpíadas de 2016, assim como o Pan-americano de 2007 trazem como contribuição reacender a discussão sobre as políticas implementadas atualmente como o "choque de ordem" e a remoção das favelas, mas não têm a capacidade de mudar aquilo que foi construído num processo de quase 500 anos. “Enquanto debate, a realização desses eventos é interessante, mas o Rio se torna, na verdade, uma cidade cenográfica para os olhos estrangeiros. Não é tão simples mudar essa realidade. O Rio de Janeiro apresenta de forma intensa os problemas encontrados em todo o país. Não há ainda uma solução para isso ”, finaliza.