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Escola sem psicólogos

Em evento organizado pela Comissão de Educação do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ), no Salão Pedro Calmon, do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, a pedagoga e doutora em Ciências da Educação Maria Teresa Esteban do Valle declarou que, de acordo com o sistema de ensino atual, a escola é lugar de fracasso e de disputa, onde os psicólogos não deveriam ter espaço.

Convidada para o encontro “Psicologia Social e Educação: cartografando práticas”, a palestrante, que também é professora do Departamento de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), realçou, na última quinta-feira (26/11), que as ações competitivas estabelecidas dentro de sala de aula, com o objetivo de padronizar o aprendizado de diferentes tipos de alunos, se tornam impossibilidades para alguns deles.

“Há um crescimento da percepção de falta de capacidade em indivíduos que apresentam maiores dificuldades em acompanhar o ritmo dos colegas, mas que são colocados na mesma fôrma que todos os outros”, explicou ela, reiterando a necessidade de confrontação desse sistema, que se revela desigual. “Apesar de parecer includente, por avaliar todos de forma igual, ele apresenta um caráter excludente, por não respeitar as individualidades e o tempo particular que cada aluno precisa para desenvolver o seu conhecimento”, criticou.

Na visão de Maria Teresa, o modo como são pensados os sistemas de avaliação também precisa ser modificado. Mesmo dando oportunidades para todos, através de processos didáticos distintos, a cobrança de resultados em provas e exames ainda é a mesma. “A criança precisa se enquadrar sempre no padrão, no qual notas azuis são positivas e notas vermelhas, negativas. Seu sucesso pedagógico depende apenas dessa normatização”, resumiu.

O trabalho com a diferença, característica concernente ao ser humano, é que desestimularia o acirramento das usuais competições entre “bons” e “maus” estudantes. “Aquele senso comum de que certos alunos não querem nada não é verdade. Toda criança quer aprender porque isso faz parte da bagagem de informações que ela vai adquirir para o resto da vida”, frisou a especialista. “É na diferença que o conhecimento se produz. Essa tarefa cabe ao sistema de ensino”, opinou.

A escola, segundo a palestrante, continua sendo um espaço significativo de ascensão social. Por isso, ainda dentro do contexto de concorrência, no imaginário popular, tem mais chance de “ser alguém na vida” aquele que vai para a escola estudar. O superdimensionamento das salas de aula, que cada vez mais acolhem um número maior de estudantes em turmas lotadas, é uma das consequências ruins desse acesso mal administrado aos colégios.

“Conhecer é um processo que exige tempo. Hoje em dia as professoras não têm mais tempo para interagir e identificar uma forma melhor de ação com cada aluno pessoalmente”, observou Maria Teresa, fazendo referência à grande quantidade de crianças nas classes. Como resultado desse processo, os psicólogos acabam sendo convocados para conversar com os alunos e resolver, de imediato, questões relativas às instituições de ensino. “Mas não é através da psicologia que essa situação vai mudar, é através da educação”, definiu.