A sociedade vive cada vez mais conectada. No atual contexto de redes sociais, o conceito que mais se questiona está relacionado à “interface e mobilidade da cultura digital”. E foi pensando exatamente nesse tema que os professores e pesquisadores Giselle Beiguelman e André Lemos apresentaram suas exposições na quinta-feira, dia 6, no seminário Cultura 2.0, promovido pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
Para Giselle, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), as novas tecnologias e, sobretudo a internet, mudam a ideia de que o “meio é a mensagem”. Segundo ela, agora a interface é a mensagem. A lógica da comunicação na qual um emissor envia uma mensagem a um receptor foi transformada. Segundo ela, não há mais um emissor ou receptor fixo, mas um “interator”. Os usuários que enviam e recebem mensagens agem e reagem diretamente com o conteúdo. Os aparelhos perdem sua especificidade rígida. Hoje, por exemplo, computador e celular servem como ferramentas de lazer, trabalho e pesquisa, dentre outros usos.
“Precisamos levar em consideração também o conceito de ubiquidade. Essa seria a experiência, muito vivida atualmente, que se estende para além do aqui e agora. São formadas cada vez mais redes flexíveis, com a crescente redução das fronteiras espaciais e temporais”, salienta Giselle.
Há também, segundo a professora, um fluxo de distribuição de atenção, inteligência e conteúdo. Ela explica que a infraestrutura da internet e dos espaços virtuais torna inviável qualquer tentativa de controle. Qualquer um pode enviar todo tipo de conteúdo, de qualquer lugar, e pode ter acesso às informações em qualquer momento.
Mobilidade e Virtualidade
Nesse sentido, não existe mais endereço físico ou necessidade de uma experiência real. O e-mail, que pode ser acessado de qualquer ponto do planeta, vem confirmar essa tese. André Lemos, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), defende que a modernidade já ampliou a mobilidade física. O professor salienta, no entanto, que é imprescindível que ainda exista a noção de pertencimento para que o indivíduo se localize e se organize no espaço e no tempo.
Para ele, a mobilidade não transforma a cultura, mas proporciona mais funções. As viagens estão mais rápidas. A partir de aparelhos celulares conectados à internet, é possível ter acesso ao que acontece no mundo onde quer que você esteja. Segundo Lemos, essa é a mobilidade que cresce cada vez mais.
Projetos como Underground – ideia surgida em Londres que permite a cada pessoa enviar suas músicas para reproduzir no som ambiente do metrô – já ilustram essa mobilidade. “O que devemos observar é que dispositivos dessa espécie ainda preservam a noção de local, de pertencimento. As pessoas querem aproveitar a mobilidade, mas mantendo a sua identidade”, defende André.
Um outro conceito muito estudado atualmente é a chamada “realidade aumentada”. “Trata-se de fundir camadas de informação virtual em um espaço físico”, define o professor. Ele cita, como exemplo, programas como o Sistema de Posicionamento Global (GPS, na sigla em inglês). Há projetos nos quais é possível apontar a câmera de um celular para um determinado local e obter, via internet, informações sobre o lugar.
O ponto importante a ser observado diz respeito às novas possibilidades geradas por essa cultura do digital. “Agora não somos apenas consumidores de informação, mas produtores de conteúdos também em níveis locais. E passamos a viver entre conexões”, destaca o professor da UFBA.