No ano internacional da Astronomia e das comemorações dos 400 anos do uso do telescópio para observação do céu, o projeto “Astronomia para poetas” da Casa da Ciência da UFRJ deu continuidade ao seu ciclo de palestras sobre o universo no dia 9 de junho com a apresentação “Nossa ignorância sobre o universo”, feita por Carlos Rabaça, professor do Departamento de Astronomia do Observatório do Valongo. Segundo o astrônomo, “tudo o que conhecemos hoje sobre o universo é justamente o que ele não é”.
Rabaça explicou que a teoria mais aceita atualmente sobre o universo é de que 70% de sua constituição seria formada pela chamada energia escura, forma hipotética de energia que estaria distribuída por todo o espaço provocando a sua expansão acelerada. A natureza desta energia é desconhecida e, por não emitir luz, ela não pode ser observada diretamente pelos cientistas. Sua existência é apenas suposta através da observação de eventos como a supernova, explosão de uma estrela. Neste momento é possível perceber o efeito da aceleração da luz que seria causado pela energia escura, através da técnica chamada de Radiação Cósmica de Fundo em Microondas.
O restante do universo seria composto por 0,03% de elementos pesados, 0,47% de nêutrons e partículas leves, 0,5% de estrelas, 4% de hidrogênio e 25% de matéria escura, esta situada em uma zona invisível à ciência, mas que tem sua existência comprovada pelos efeitos gravitacionais que produz na matéria visível. Isso significa que a matéria conhecida por nós compõe a menor parte do universo.
“Toda a informação que temos do Universo não passa de 5% de sua constituição. A matéria é uma exceção no universo. Nós somos exceção”, afirmou Rabaça. Segundo o astrônomo, o que se pode saber sobre o Universo hoje, além de sua constituição, é que se ele está em expansão é porque já foi menor e se já foi menor algo iniciou sua expansão. Hoje a teoria mais aceita para explicar o início dessa expansão ainda é a do Big Bang, segundo a qual o universo teria se originado a partir de uma implosão térmica há cerca de 13,7 bilhões de anos. Porém, a causa dessa implosão ainda é um mistério para a ciência.
Atualmente a energia escura é o maior enigma astronômico: responsável pela aceleração da expansão do universo, não se sabe de onde ela vem e de que é composta. Já a matéria escura seria a responsável por dar forma a tudo no universo. O efeito gravitacional provocado por sua massa estaria moldando, por exemplo, a órbita dos astros. Enquanto a energia escura aceleraria a expansão do universo, essa matéria teria o efeito contrário, devido à atração gravitacional entre os corpos que a formam.
“O universo está em expansão acelerada e a gravitação não é suficiente para frear esse movimento. A responsável pela expansão é a energia escura”, disse Rabaça. Hoje, além do grande projeto do acelerador de partículas LHC da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (LHC), está em processo de formação, com a participação de brasileiros, o Dark Energy Survey (DES). O projeto pretende estudar a natureza da energia escura através da observação celeste de galáxias e supernovas pelo mapeamento de uma área de céu de cinco mil graus quadrados com uma câmera grande angular de alta eficiência. O equipamento será colocado no telescópio Blanco do Observatório Internacional de Cerro Tololo, no Chile, em 2010.