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Psicanalistas discutem adolescência na Praia Vermelha

O ser humano passa por diferentes fases na vida e a adolescência apresenta-se, sob o ponto de vista da psicanálise, como a mais relevante. As transformações decorrentes da puberdade foram  objeto de reflexão no Colóquio Franco-brasileiro “Destinos da Adolescência: Corpo e Subjetivação”. A abertura do evento ocorreu no dia 16 de abril, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.

O encontro foi organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia (IP/UFRJ) e por instituições universitárias francesas. O Colóquio tem como base as discussões geradas a partir do College International de L’Adolescence (CILA), projeto criado com a finalidade de ampliar, no plano internacional, as pesquisas e informações em Psicopatologia e Psicanálise no campo da adolescência. As comunicações do evento resultaram na organização do livro Destinos da Adolescência.

A “Genitalidade”

François Marty, professor da Université Paris Descartes e Presidente do CILA, apresentou suas conclusões acerca do tema “O genital, impasses e acesso”, com o qual trabalha há cerca de 15 anos e que tem origem em reflexões sobre a violência. O professor explica que, na França, a adolescência ocupa um lugar específico na Psicologia, que pensa, sobretudo, no papel dos pais em relação ao comportamento dos jovens. “É preciso mostrar o quanto os adultos precisam apoiar – dentro de alguns limites –, punir e ajudar os adolescentes, para que se tornem adultos responsáveis”, salienta Marty.

Ao pensar especificamente no genital, o professor afirma que a “genitalidade” é o centro das intrigas humanas e não apenas se relaciona com o narcisismo do sujeito, como pensa a Psicanálise tradicional. O genital está diretamente associado às gerações, aos genitores. É um processo sempre em construção. Segundo François, alguns adolescentes, que não têm o apoio necessário, ficam vulneráveis à depressão e a outros comportamentos. Dessa forma, a “genitalidade” aparece como parada essencial para a construção do subjetivo. 

A dualidade da Transgressão

A segunda discussão foi apresentada pela pesquisadora Marta Rezende, psicanalista e professora do IP/UFRJ. O assunto dizia respeito à “Transgressão pulsional e geracional: a perpetuação da adolescência”. Ao citar os recentes casos – expostos na mídia – de violência cometida por adolescentes contra uma empregada doméstica e um índio, a professora refletiu sobre a recusa da alteridade e da diferença. Ela constata que houve não apenas uma transgressão da lei, mas também uma transgressão funcional, quando os limites psíquicos são ultrapassados.

Outro ponto importante, segundo a psicanalista, é a antecipação da maioridade penal como forma de mascarar os conflitos psíquicos causadores de violência. “Há que se refletir sobre o que acontecia no passado para podermos evitar o que acontece hoje.” Além disso, a professora explicou que há ainda um culto da juventude que impede a atitude mais madura do adolescente: “Como se identificar com um comportamento adulto se esses próprios adultos identificam-se com a juventude?”

O Colóquio também reflete sobre os conflitos de geração entre pais e filhos adolescentes. Segundo os palestrantes, a solução passa pelo diálogo em família, envolvendo certa dose de amor (respeitando a barreira da questão incestuosa). O pensamento acerca da maturidade envolve também a ideia de que é difícil envelhecer por conta do medo da proximidade da morte.