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Cultura indígena, cidade e miçangas

O trabalho de Camila Marins, estudante de Ciências Sociais da UFRJ, durante a Jornada de Iniciação Científica tem um tema no mínimo inusitado: “Os caminhos étnicos e urbanos da miçanga”. A pesquisa, orientada por Elsje Lagrou, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS/UFRJ), foi apresentada pela aluna na tarde desta quinta, dia 6.

Camila conta que seu interesse pelo tema começou com uma matéria sobre antropologia da arte e etnologia indígena. Em seguida, teve a oportunidade de visitar, durante um mês, os índios da tribo Krahô, no Tocantins, com os quais efetuou trocas de miçangas por colares de sementes. “Como eu não pude permanecer por mais tempo para estudos, pensei na comparação das miçangas no contexto urbano, na cidade do Rio de Janeiro”, explicou a estudante, que selecionou a Lapa e a praia de Ipanema para o estudo de caso.

Nas cidades, Camila constatou que há certa indignação dos artesãos de rua quanto a pouca importância que as pessoas conferem aos seus trabalhos. “As pessoas sempre pedem a eles para vender as peças por menos. Os artesãos sentem isso como uma desvalorização do trabalho, pois ninguém vai a uma loja no shopping e pechincha o preço das jóias”, defende.

Outra relação que a estudante de Ciências Sociais estabeleceu foi a valorização da miçanga no ambiente urbano como uma forma de resgate das culturas indígena e africana. “Muitos centros de terapia alternativa, em geral ligados a valores da chamada Nova Era, têm feito uma ressignificação desses símbolos”, disse Camila, que ressalta também para o perigo dessa mistura de influências.

“Algumas pessoas compram tambores indígenas norte-americanos, penas e pulseiras de miçangas do Acre retirando esses elementos de seu contexto e criando outra coisa”, afirma a estudante, alertando para o risco de descaracterização do artefato como objeto cultural, embora arrisque uma justificativa para esse comportamento: “pode ser uma moda surgindo frente à crise ambiental, em que as pessoas estão vendo uma necessidade de conscientização, de buscar essa transcendência”.


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