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A Dificuldade de falar das políticas públicas na grande mídia

 Nessa segunda-feira, dia 5 de maio, das 11h às 13h, o Curso de Jornalismo de Políticas Públicas e Sociais promoveu uma palestra com a jornalista Beatriz Barbosa, do “Intervozes” – Coletivo Brasil de Comunicação Social. Ela dissertou sobre o tema "O desafio de aumentar a presença das políticas públicas na grande imprensa" no auditório do Centro de Produção Multimídia do Campus da Praia Vermelha, localizado na Avenida Pasteur, 250.

A jornalista defendeu que os meios de comunicação produzem realidades a partir de sua mediação, necessariamente seguindo aspectos subjetivos de quem neles participa. Isso dificultaria o funcionamento deles como uma esfera de disputa dos discursos. “Todos os lados devem ser ouvidos, sem se restringir a quem dá sustentação a esses meios ou a quem detêm o poder. A mídia deve ser regida na defesa dos interesses públicos”, declarou.

— A cobertura das políticas públicas hoje em dia ainda é muito pontual. Falta enfoque da grande imprensa nas diferentes etapas de desenvolvimento delas e de cobrança de que essas medidas se mantenham. Essa falta de fiscalização por parte do jornalismo retro-alimenta políticas públicas que geram mais distorções que benefícios —, explicou a jornalista.

Um outro ponto importante levantado pela representante do “Intervozes” foi que os temas sociais são recorrentes, não são tão dramáticas quanto por exemplo o recente caso Isabella. “Os jornalistas tiveram de produzir notícias para manter o público que passou a assistir o noticiário para acompanhar o andamento da história”, afirmou.

Segundo Beatriz Barbosa, o fato de que a maioria dos jornalistas provêm da classe média e escreve para a classe média influencia na menor recorrência desse assunto, mas ainda é necessário maior destaque. “As políticas públicas são universais. Se não houvesse tantos problemas com elas, talvez a dengue não fosse um problema tão grave, por exemplo. Além disso, no caso da televisão, 80% da população está restrita aos oito canais abertos, que liberdade têm eles?”, ressaltou.

De acordo com ela, o jornalista de hoje muitas vezes tem que produzir muito, então às vezes não conseguem se aprofundar muito no tema. E mesmo quando é bem-sucedido nesse aspecto, os jornais não aceitam sua pauta ou ela cai devido a outros acontecimentos.

— Hoje, os meios de comunicação são controlados por grandes conglomerados de mídia e definem como vão ser recepcionadas. Vão ser privilegiadas certos aspectos sobre outros – nove famílias apenas controlam cerca de 85% da circulação da mídia, sendo que só a rede Globo mantêm 54% da audiência. Os EUA têm um limite de máx 33% da audiência por grupo senão se torna monopólio, o que acontece no Brasil é ainda pior que a situação de lá -, mostrou a palestrante.

Ela também destacou que menos de 10% da população lê jornal e só 20% têm acesso constante à internet. “E de acordo com a pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação referente a 2007 (os dados mais recentes disponíveis até a apresentação da palestra), 55% da população nunca usou um PC, 66% nunca acessou a internet, 19% das residências possuem PC de mesa e apenas 1% dispõe de notebook”, apresentou.

— Para melhorar a cobertura das políticas públicas na grande imprensa, por exemplo, é preciso um projeto conjunto, envolvendo a implementação de uma formação continuada do jornalista, discussão da grade curricular das universidades, contato do jornalista com a realidade da necessidade de políticas públicas, procurar diferentes abordagens da fusão, disponibilizar canais de contato com os leitores. A sociedade também precisa ter uma leitura mais crítica da mídia e se formar como cidadãos. É todo um conjunto de fatores necessários para mudar essa realidade — concluiu a jornalista.