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Motivação e ética são solução para tirar Educação do caos

 Nesta quinta-feira (27/03), a Faculdade de Educação (FE/UFRJ) recebeu João Malheiro. O especialista em Ética na Educação e diretor da ONG Ação Cultural Educativa e Social (ACES) falou sobre o tema “Professor: um regente da motivação escolar”.

Malheiro começou a palestra advertindo que, embora haja uma situação precária dos professores no Brasil, ainda há esperança para a Educação. Pelos resultados obtidos em sua pesquisa de doutorado, ele constatou que a grande maioria dos professores com, em média, 25 anos de carreira, seguem no ofício empurrados por uma força que consegue superar as dificuldades: a de ensinar valores aos alunos.

– Se há alguma coisa em que os professores se agarram para serem professores, é exatamente isso: ensinar as virtudes. Noventa e oito por cento dos entrevistados afirmaram uma alta motivação transcendental, ligada à ética. Por outro lado, a motivação extrínseca (baixos salários, ausência de plano de carreira e de reconhecimento social) e a intrínseca (falta de tempo para reciclagem) estão quase zero.

No entanto, apesar da vontade, as barreiras para transmitir esses valores multiplicam-se diante da realidade de que os alunos não estão dispostos a receberem as virtudes, de acordo com Malheiro. Para ele, então, o professor tem que ser como um regente musical, identificando as peculiaridades de cada um e trabalhando para chegar a uma sintonia. Embora a tarefa não seja fácil, o especialista mostrou que a solução é simples.

– Os alunos hoje não têm mais motivação ligada à afetividade nem ligada à inteligência. Para motivá-los é preciso desenvolver a ética, as virtudes, que superam as coisas más. Isso pode ser feito apresentando o conteúdo das aulas com materiais extras para prender a atenção do aluno, recorrendo a aspectos culturais da realidade, exigindo aprendizado, cobrando disciplina e lições de casa e levando experiências de solidariedade para as salas de aula.

Com professores motivados e dedicados, parece que o futuro da Educação brasileira será brilhante. Mas, segundo constatou o palestrante, outro obstáculo se coloca no caminho: nem todos os educadores têm a consciência das virtudes, tampouco a vontade de transmita-las.

– Eu pesquisei em escolas com uma maioria de professores antigos, que ainda trazem consigo os valores da sociedade. Por outro lado, sei que falta aos atuais esta base ética para terem a motivação transcendental. Então, eu prevejo, daqui a uns anos, um grande caos, porque ninguém vai querer ser professor.

Questionado sobre qual seria a solução para a Educação, ele respondeu citando as Charter Schools, modelo norte-americano de instituição em que grupos propõem ao governo a criação de uma escola assumida por eles e financiada com verba pública. Em troca, os administradores devem apresentar bons resultados escolares, em um período determinado.

– Pais, pessoas de um bairro, um condomínio, ou qualquer grupo, “alugam” uma escola sob medida para os alunos, e assumem a responsabilidade de, em três anos, conseguirem ter melhores resultados que as escolas públicas. A idéia funciona, porque o responsável pelo empreendimento vai se esforçar. As escolas vão ter alma, ao contrário das de hoje, que estão definhando porque seus dirigentes e professores não se importam.

A palestra “Professor: um regente da motivação escolar” faz parte do IV Ciclo de Estudos sobre o Imaginário–2008, organizado pelo Laboratório do Imaginário Social e Educação (Lise) da UFRJ.