Nessa segunda-feira, 8 de outubro, o Laboratório de Estudos Marxistas do Instituto de Economia da UFRJ – LEMA e o Gabinete do Reitor, realizaram o seminário “100 anos de Caio Prado Jr.”, com apoio do Laboratório de Economia Política da Saúde – LEPS e do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
O painel de abertura contou com a participação do mediador João Sabóia, diretor-geral do Instituto de Economia da UFRJ – IE; com Maria Malta, professora do IE e membro do LEPS; e com Plínio de Arruda Sampaio Jr., professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
Para Maria Malta, a maior razão para a realização de um seminário em homenagem ao centenário de Caio Prado Jr. — importante historiador, geógrafo, escritor, editor e político brasileiro — é resgatar as questões da transformação social e propor a reformulação do ensino da História: “Deve-se reconhecer a importância de Prado Jr. para a reforma política do Brasil”, afirmou a professora.
Segundo a palestrante, as pesquisas e o estudo de Prado Jr. no âmbito da dinâmica política brasileira revolucionaram a maneira de se lecionar História na UFRJ: “Possuímos, agora, um pensamento formulado e complexo da Economia historicamente”, declarou Maria Malta. De acordo com a professora, Caio Prado Jr. introduziu no Brasil toda a perspectiva marxista do pensamento econômico histórico e social.
Segundo Plínio de Arruda Sampaio, um evento em homenagem ao renomado editor, pode somente ter o objetivo de reativar o pensamento crítico brasileiro. O professor declarou que Prado Jr. é um autor particularmente atual, pois reivindica a História constantemente. Uma das maiores afirmações de Caio Prado Jr. é que o Brasil, finalmente, conclua sua transição de colônia para nação livre: “Do contrário mergulharemos na barbárie”, alertou Plínio Sampaio.
Era costume de Prado Jr. sugerir que a solução do problema está presente no próprio. Afirmava, segundo Arruda Sampaio, que o Brasil era dominado por dois problemas amplos: primeiramente a má planejada integração social, que poderia ser alcançada através da Revolução Democrática; em segundo o fardo do Brasil colonialista, que necessitava afirmar, o quanto antes, sua independência ao imperialismo das economias estrangeiras.
Caio Prado Jr. pregava que para se compreender o processo político do Brasil, o estudo da História era fundamental. Segundo Plínio Arruda, Prado Jr. dizia que o Brasil é o resultado não planejado dos negócios: “A transição ficou engolfada no marco do subdesenvolvimento”, declarou o professor.
O ideal para se alcançar os desafios históricos, para Caio Prado Jr., era trabalhar e analisar as especificidades da situação sócio-econômica brasileira: “O que falta no Brasil é a capacidade de dominar o capitalismo. A ausência de sujeitos históricos impossibilita essa habilidade”, lamentou Sampaio.
De acordo com Plínio Arruda, a burguesia brasileira não é nacional. Ela se caracteriza por ser mercantil e possuir uma lógica de especulação. O mais impressionante para Caio Prado Jr., e igualmente para o professor da UNICAMP, é que o Brasil não possui uma leitura do imperialismo: “Essa conjuntura mercantil precária transforma o país em um espaço residual e sem consistência”, observou Arruda.
Segundo Sampaio, aquilo que se denomina globalização é o “capital pirata”, de caráter perverso, que exerce uma violação oportunista e especulativa sobre os demais países subdesenvolvidos. Caio Prado Jr. condenava a rápida revolução econômica dos países emergentes através de economias altamente desenvolvidas, justamente por que ele era considerado um teórico da instabilidade, “ou seja, não existe uma fórmula para a solução das crises, estas sempre devem ser analisadas a partir do contexto histórico”, explicou Plínio Sampaio. De acordo com o palestrante, o Brasil saiu do capital mercantil para o capital ficanceiro/especulativo, sem antes passar por uma real experiência de capital industrial.
Sampaio concluiu que, atualmente, reestudar Caio Prado Jr. é crucial para a tomada de decisões no âmbito político-econômico, desde a intenção seja buscar uma solução funcional para as crises do Brasil. Porém, Plínio Arruda ressaltou que deve-se resgatar as idéias de Prado Jr. com certas adaptações para as relações econômicas atuais: “Caio achava que o maior problema do Brasil era a Reforma Agrária, hoje sabemos que esse é apenas um dos infinitos problemas brasileiros”, relatou Plínio de Arruda Sampaio.