Categorias
Memória

Reflexo e espelho de uma sociedade desigual

Em iniciativa pioneira, a FAU da UFRJ dedicará uma semana para a discussão de um tema cada vez mais importante para o cidadão carioca: as favelas.

Em iniciativa pioneira, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ dedicará uma semana para a discussão de um tema cada vez mais importante para o cidadão carioca: as favelas.

 O evento Habitar a cidade, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), que ocorrerá de 27 de novembro a 1º de dezembro, será aberto à comunidade da UFRJ. Embora o foco seja a urbanização, o debate promete ser amplo e fecundo acerca de um tema sobre o qual a FAU já desenvolveu em volume considerável de pesquisa, mas que, pela primeira vez, toda a faculdade discutirá de forma organizada. E já não era sem tempo, de acordo com Cristóvão Duarte, coordenador de Extensão da FAU, “as favelas são um assunto que afeta a vida de muitas pessoas, e também uma importante questão para a Arquitetura e para o Urbanismo”. Para ele, os grandes entraves à compreensão do fenômeno, pela universidade, são o desconhecimento e o preconceito.

O evento, que ocorrerá de 27 de novembro a 1º de dezembro, será aberto à comunidade da UFRJ. Embora o foco seja a urbanização, o debate promete ser amplo e fecundo acerca de um tema sobre o qual a FAU já desenvolveu em volume considerável de pesquisa, mas que, pela primeira vez, toda a faculdade discutirá de forma organizada. E já não era sem tempo, de acordo com Cristóvão Duarte, coordenador de Extensão da FAU, “as favelas são um assunto que afeta a vida de muitas pessoas, e também uma importante questão para a Arquitetura e para o Urbanismo”. Para ele, os grandes entraves à compreensão do fenômeno, pela universidade, são o desconhecimento e o preconceito.

Habitar a cidade discutirá as pesquisas da universidade sobre o tema em que arquitetos e urbanistas e estudantes avaliarão experiências concretas de intervenção. Junto a isso, haverá exposições com trabalhos que desenvolvem reflexões críticas sobre essas comunidades populares. As abordagens incluem a estética da favela e a cultura popular, passando por segurança pública. Além disso, acontecerá uma maratona de projetos e idéias dos estudantes da FAU, com o intuito de estudar uma área do Complexo da Maré e propor projetos e intervenções que serão selecionadas por um júri, formando uma exposição no encerramento da semana e grupos artísticos da Maré se apresentarão na abertura e no encerramento do evento.

Gustavo Peixoto, diretor da FAU, esclarece que uma dimensão importante do Habitar a cidade é o aprendizado que a universidade poderá extrair do evento: “as favelas têm um tipo de fazer arquitetônico e urbano diferente daquele com o qual a academia está acostumada a trabalhar”. Para ele, a universidade deve buscar compreender os mecanismos de autogestão dessas comunidades e contribuir para o aprofundamento dessa lógica. “Não é uma questão de ser boa ou ruim, a favela foi uma forma que a sociedade encontrou para resolver um problema de habitação”, esclarece o diretor.

O professor ainda ressalta que essa solução não foi construída à revelia do Estado: “a favela é resultado de um projeto de Estado que segrega as pessoas e não prioriza o acesso à moradia a todo mundo. É o modo que as pessoas têm de morar perto do trabalho, uma forma de autogestão nas brechas, nos entremeios da sociedade oficial”.

Cristóvão Duarte reforça a necessidade da universidade discutir o assunto com grande dose de humildade científica: “hoje temos mais a aprender do que a ensinar quando se trata de favelas. A universidade precisa ouvir a voz da favela e compreendê-la, buscando sintonizar-se com ela”.

Desconstruindo o senso comum
Segundo Duarte, a associação mecânica entre essas comunidades e a violência – construída pelo senso comum da classe média – além de equivocada, oculta as verdadeiras razões da brutalidade, adiando uma ação mais eficaz e responsável por parte do Estado. “Na verdade, a favela é vítima dessa violência e do próprio sistema econômico”, acredita o professor. Em sua opinião, os moradores dessas comunidades não estão interessados na perpetuação das agressões – ao contrário, são os mais interessados no seu fim: “eles estão coagidos, são reféns de grupos que se apossaram territorialmente da favela. É uma cooptação compulsória”.

O preconceito decorre da produção e marginalização de pobreza, levada a cabo, historicamente, pela sociedade brasileira. “O sambista já foi olhado com desconfiança. O capoeira, o malandro, e hoje é o favelado”, aponta Duarte.  A resposta que vem da favela, segundo ele, entretanto, não é a guerrilha urbana, “é o Hip-hop, o Rap, a dança, o cinema, a fotografia”.

Para Gustavo Peixoto, a questão crucial é restabelecer relações que articule essas áreas da cidade à cidade oficial: “entre outras coisas, conseguir que a classe média pare de ver a favela como uma coisa única e enxergue sua diversidade”. Para ele, um bom caminho para isso, é enxergá-las como lugar de produção de um saber arquitetural. Na favela – lembra o diretor – mora a maior parte dos produtores do espaço arquitetônico da cidade oficial: os marceneiros, serralheiros, vidraceiros, pedreiros. “Eles usam seu conhecimento na produção da favela, sem o dado das restrições legais e o saber acadêmico”, explica Peixoto. Entender essa capacidade de “produção de Arquitetura como uma forma de poesia” é um desafio para o Habitar a cidade.

Acompanhe a programação do Habitar a cidade
 
Dia 27/11
9:30/10:30 – Abertura Oficial da Semana da FAU
Prof. Gustavo Peixoto, Diretor da FAU-UFRJ
Prof. José Mauro, Coordenador de Extensão CLA
Prof. Cristovão Duarte, Coordenador de Extensão FAU
Patrícia Cordeiro, CAFAU
 
10:30/12:30 – Urbanização da Rocinha
Escritório MT Arquitetura
Arq. Luiz Carlos Toledo
Debatedor: Profa. Luciana Lago, IPPUR-UFRJ
 
13:30/15:30 – Caminhos para uma nova cidade
Jailson de Sousa e Silva,
Observatório de Favelas
Marcos Faustini, cineasta e diretor do Projeto Reperiferia
Coord: Denise Pinheiro Machado
 
15:30/17:30 – Apresentação da Orquestra de Flautas da Maré
 
 
Dia 28/11
8:00/10:30 – Programa Favela-Bairro e PAPI/IAB-RJ
Sergio Ferraz Magalhães, FAU-UFRJ
Carlos Fernando de Andrade, IAB/IPHAN-RJ
Jerônimo Moraes, IAB-RJ
Coord: Ricardo Esteves, FAU-UFRJ
 
10:30/12:30 – Favela-Bairro I
Escritório Archi 5
Arq. Alder Catunda
Arq. Pedro da Luz Moreira

Debatedor: Profa. Fabiana Izaga, FAU-UFRJ
 
13:30/15:30 – A Estética da Favela
Heloisa Buarque de Holanda, ECO
Robson Oliveira, Fotógrafo
Coord: José Barki, FAU-UFRJ
 
15:30/18:30 – Maratona de Projetos e Idéias
coordenação: CAFAU
  
Dia 29/11
8:00/10:30 – Apresentação de Pesquisas Acadêmicas 
Gerônimo Leitão, EAU-UFF
Guilherme Lasance, FAU-UFRJ
Ana Lucia Britto, FAU-UFRJ
Coord: William Bittar
 
10:30/12:30 – Favela-Bairro II
Escritório Fábrica Arquitetura
Pablo Benetti, FAU-UFRJ
Debatedor: Milton Fefferman, FAU-UFRJ
 
13:30/15:30 – Cultura Popular
Lílian Fessler Vaz, FAU-UFRJ
Valdo Felinto, arquiteto
Coord: Lais Bronstein, FAU-UFRJ
 
15:30/18:30 – Maratona de Projetos e Idéias
coordenação: CAFAU
 
Dia 30/11
8:00/10:30 – Apresentação de Pesquisas Acadêmicas 
Ione Silveira, FAU-UFRJ
Luiz Manoel, FAU-UFRJ
Mauro Santos, FAU-UFRJ
Coord: Osvaldo de Souza Silva, FAU-UFRJ
 
10:30/12:30 – Favela-Bairro III
Escritório Arquitraço
Debatedor: Cristiane Duarte, FAU-UFRJ
 
13:30/15:30 – Segurança Pública
Luis Eduardo Soares,
Ex-Coordenador Nacional de Segurança
Coord: Cristovão Duarte, FAU-UFRJ
 
15:30/18:30 – Maratona de Projetos e Idéias
coordenação: CAFAU
 
Dia 01/12
8:00/10:30 – Apresentação de Pesquisas Acadêmicas 
Escritório Modelo de Arquitetura Pública da UFRJ / Vila residencial da Ilha do Fundão
Eliana de Sousa e Silva , PR-5
Mirian Guindani, PR-5
Pablo Benetti, FAU-UFRJ
Julieta Nunes, FAU-UFRJ
Coord: James Miyamoto, FAU-UFRJ
 
10:30/12:30 – Habitação Popular
Escritório Invento Espaços
Arq. Demetre Anastassakis
Debatedor: Sonia Le Cocq, FAU-UFRJ
 
13:30/15:30 – Mesa de Encerramento:
Prof. Aloísio Teixeira, Reitor da UFRJ
Profa. Laura Tavares, Pró-Reitora de Extensão UFRJ
Prof. Leo Soares, Decano do CLA-UFRJ
Prof. Gustavo Peixoto, Diretor da FAU-UFRJ
Prof. Cristovão Duarte, Coordenador de Extensão FAU-UFRJ
Exposição dos Trabalhos da Maratona de Projetos e Idéias
 
15:30/17:00 – Apresentação da Oficina de Hip Hop da Maré (CEASM)