A Universidade Federal do Rio de Janeiro, através da Coordenação de Extensão do Centro de Ciências da Saúde(CCS), está oferecendo, a partir de abril, oficinas sobre Diversidade Sexual na Escola, voltadas para instituições de ensino e de formação de professores.
Como a escola pode lidar com situações ligadas à orientação sexual dos alunos? A sexualidade dos alunos e alunas é um problema da escola? E a discriminação e a violência que sofrem os jovens homossexuais dentro da escola? O que uma professora pode fazer diante de um ato de discriminação que vem da Direção da escola?
Segundo Antônio José Oliveira, Coordenador de Extensão do CCS/UFRJ, o objetivo principal das oficinas não é trazer respostas prontas, mas “sensibilizar os professores, diretores e funcionários para a questão da diversidade sexual dos seus alunos, as violências, as discriminações e as possibilidades de mudança”.
Para Alexandre Bortolini, coordenador do projeto, um dos intuitos das oficinas “é ajudar a desmascarar um suposto ambiente de tolerância, trazendo à tona a realidade de discriminação e violência presente no cotidiano da escola.”
“Na escola, os preconceitos e os atos de discriminação contra homossexuais muitas vezes são naturalizados e banalizados. Os próprios educadores não consideram estes casos como relevantes. São brincadeira, coisa sem importância. Muitas vezes os professores não só silenciam, mas colaboram ativamente na reprodução dessas violências”, afirma Alexandre.
Um estudo da UNESCO aponta para um alto índice de imagens homofóbicas e de intolerância quanto à homossexualidade entre estudantes e professores. Nesse estudo, um quarto dos alunos entrevistados afirmaram que não gostariam de ter colegas homossexuais. O percentual fica maior ainda quando se trata apenas dos meninos. No Rio de Janeiro, entre os responsáveis, 40% não gostariam que seu filho estudasse junto com um colega homossexual. Esse percentual cai muito entre professores, mas há ainda um grande número de educadores que rejeitam a idéia de ter um aluno gay ou uma aluna lésbica. No Rio de Janeiro, 15% dos estudantes acham que a homossexualidade é uma doença, chegando a 23% entre os homens. O percentual é de 16% entre os educadores.
Numa pesquisa recente realizada durante a Parada do Orgulho GLBT no Rio de Janeiro, 40% dos adolescentes homossexuais entrevistados contaram que já sofreram casos de discriminação acontecidos dentro da escola. Entre jovens de 19 a 21 anos, 31% se referiram a discriminações na escola ou na faculdade. Na mesma pesquisa, 65% dos homossexuais já haviam sido vítimas de algum tipo de preconceito e 60% já haviam sofrido alguma forma de violência. A Escola aparece em terceiro lugar como local ou contexto da discriminação (27% dos casos), atrás apenas do ambiente familiar e dos amigos e vizinhos. Mantém a mesma posição como espaço onde acontecem as agressões e outras violências (10%).
Muitas vezes o grande agente de discriminação é a própria escola. “A própria escola, como instituição, através de normas, regras e ações, discrimina o jeito de ser, de andar, de falar, de vestir e de se comportar de quem não segue o padrão estabelecido”, afirma Alexandre Bortolini.
Durante as oficinas já realizadas foram muitos os relatos de ações discriminatórias promovidas por professores, funcionários e até pela direção de algumas escolas. “Numa oficina uma professora contou o caso de um aluno que foi se travestindo ao longo do tempo. Deixou o cabelo crescer, apareceu com as unhas pintadas, até que chegou um dia na escola vestindo o uniforme feminino. O porteiro barrou o aluno. A diretora não só chamou a família como encaminhou o garoto ao Conselho Tutelar. O aluno, claro, não estuda mais nessa escola.”
Em outro caso, uma estagiária de pedagogia que trabalhava em uma escola de Educação Infantil recebeu um aluno que se vestia completamente de Branca de Neve para brincar com os amigos de turma. A direção da escola chamou os pais, a família, encaminhou a criança para uma assistência psicológica. Mas será que isso era mesmo necessário? Ou não seria um reflexo da incapacidade da escola e dos educadores em lidar com a situação?
A partir desse quadro de violência e discriminação a homossexuais dentro da Escola, identificado por diversas fontes e pesquisas, e baseado na própria motivação dos profissionais da Educação e do Governo Federal – demonstrada através de ações como o Programa Brasil Sem Homofobia – para superar preconceitos, é que a Coordenação de Extensão do CCS/UFRJ montou o projeto Diversidade Sexual na Escola.
COMO PARTICIPAR
O público alvo do projeto são educadores de todos os níveis, estudantes de cursos de formação pedagógica, diretores, coordenadores e corpo administrativo de instituições de ensino.
Os educadores que quiserem levar uma oficina para a sua escola devem entrar em contato com a Coordenação de Extensão do CCS/UFRJ, pelo telefone (21) 2562-6704, fax (21) 2270-1749 ou pelo correio eletrônico extensao@ccsdecania.ufrj.br.
A data para realização da oficina será estabelecida com as instituições, com flexibilidade para se adaptar às possibilidade de cada grupo.
A atividade dura cerca de quatro horas e é realizada em apenas um dia. A oficina é gratuita, cabendo à instituição a viabilização das condições materiais para a sua realização (espaço, equipamento de projeção, divulgação).