Categorias
Memória

Seminário comemora 10 anos de ITCP

xxxx

agencia2217T.jpgEm 1995, o Brasil governado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso sofria cada vez mais os efeitos da globalização, devido à abertura econômica característica da gestão do então sucessor de Itamar Franco. Mesmo após a criação do Plano Real, em 1994, que promoveu ajustes econômicos de estímulo ao equilíbrio da balança comercial – permitindo o controle da inflação em níveis baixos – a excessiva dependência externa do país e as políticas de privatização acarretaram em graves conseqüências para o desenvolvimento nacional. A desaceleração econômica trouxe resultados como a inadimplência, a queda no consumo e demissões em massa, revelando uma economia despreparada para competir com a concorrência internacional. Houve acelerado crescimento das taxas de desemprego nos setores industrial e agrícola, que seriam posteriormente agravadas com a crise asiática de 1997.

Foi nesse contexto de adversidades que, em 1995, o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ (COPPE/UFRJ) criou a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), um projeto de extensão que pretendia promover ações inovadoras para a inclusão econômica e cidadã de setores marginalizados da população. Em resposta aos índices de desemprego da época, a ITCP foi essencial para a elaboração de debates políticos por novas formas de estruturação do trabalho e inserção social. Hoje, comemorando 10 anos de história e cerca de 38 grupos já incubados, o projeto provou-se muito mais do que uma política circunstancial.

Na última terça-feira, dia 27 de setembro, a Incubadora promoveu, na sala do Conselho Universitário da UFRJ, o seminário “Parcerias para o desenvolvimento local”, em comemoração à sua primeira década de existência. Discutindo uma série de assuntos referentes à geração de trabalho e renda, o evento contou com uma mesa de debates composta pelo reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira; o coordenador geral da ITCP, Gonçalo Guimarães; o diretor da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC), José Alberto Sampaio Aranha; o consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), José Marcelo Goulart; o representante da Caixa Econômica Federal (CAIXA), Duval Reis; e o diretor de Assuntos Acadêmicos da COPPE, Fernando Alves Rochinha.

Colaborando com a discussão, também estavam presentes representantes das prefeituras de Nova Iguaçu, Mesquita, Barra do Piraí, Quissamã, Osasco e Santo André, bem como integrantes da Secretaria de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, da Rede de Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária, da Associação de Moradores da Vila Residencial e de outras instituições gestoras e empreendedoras, incluindo da própria ITCP.

O papel das incubadoras no acompanhamento e na organização de cooperativas populares – empreendimentos formados pela associação voluntária de pessoas em prol da auto-gestão, da auto-inserção no mercado de trabalho, do sucesso cooperativo, da satisfação pessoal de seus sócios e da promoção da cultura e da cidadania – foi amplamente valorizado na reunião, que teve início com um discurso de Gonçalo Guimarães sobre o andamento da Incubadora da COPPE. “Começamos em 95 com o desafio de construir um programa inovador de postura pró-ativa. O que foi se constituindo ao longo dos 10 anos foi um programa reconhecido em todo o país”, disse o professor, que aproveitou o encontro para apresentar o novo Sistema Integrado de Gestão de Incubadoras, de Cooperativas e de Indicadores (SIG – INCUBCOOPE), um programa que objetiva a criação de soluções de tecnologia da informação para a ampliação da escala de incubação, de forma a promover o desenvolvimento local. “A tecnologia da informação é essencial para a inserção social e tecnológica”, enfatizou.

Após as falas dos demais integrantes da mesa, que enfatizaram a relação essencial entre a inteligência acadêmica e o estímulo ao desenvolvimento do país, ou seja, da associação produtiva entre sociedade, tecnologia e universidade, Aloísio Teixeira, lembrou os participantes da importância histórica da Incubadora para a recuperação econômica do país: “Quando a Incubadora foi criada, a situação do país era marcada pela perda no dinamismo do crescimento econômico, que impediu a absorção da oferta de trabalho. Portanto, a criação de cooperativas teve um papel muito importante para resolver essa questão, se diferenciando de outras iniciativas na medida em que o trabalhador que se organiza em cooperativas tem maior consciência de seus direitos e de seu papel na construção da sociedade”.

Confira abaixo, na íntegra, a entrevista concedida por Gonçalo Guimarães à Assessoria de Comunicação da UFRJ sobre os 10 anos do ITCP:

1 – Na sua opinião, quais foram os proveitos do encontro realizado nessa terça-feira, dia 27, para a ITCP?

O Seminário Parcerias para o Desenvolvimento Local reuniu um conjunto expressivo de atores importantes para a discussão do fomento ao Desenvolvimento Local. O encontro e o debate suscitado pela apresentação de uma ferramenta de gestão inovadora como o SIG foi o primeiro passo para gerar sinergias entre projetos que a despeito de sua localização geográfica atuam com os mesmos propósitos.

Ou seja, abrimos caminho para trabalhar a gestão dos programas públicos de geração de trabalho e renda, principalmente aqueles voltados para a Economia Solidária, de maneira mais eficiente.

2 – Como começou a idéia do SIG? Quando o Sistema entrou em funcionamento e qual foi seu primeiro projeto beneficiado?

O SIG foi concebido a partir do desenvolvimento dos sistemas de monitoramento e avaliação, baseados em indicadores, criados pela ITCP/COPPE/UFRJ. O uso do sistema de monitoramento online se mostrou eficiente e uma ferramenta real de interação à distância entre executor, poder público e avaliador externo. Com isso, a necessidade de gerar linguagem comum ficou evidente.

Daí foram estruturados os módulos de gestão Institucional, Cooperativa e da Incubação. O intuito era conseguir acompanhar o dia-dia da execução dos projetos que vinham sendo planejados tendo por base os indicadores de monitoramento, isto é, aplicar através de soluções de TI o conceito de PMA e Gestão Orientada para Resultados.
O sistema vem entrando em funcionamento aos poucos. O primeiro módulo a ser utilizado foi o SIG-IND (Indicadores) que foi desenvolvido a partir do Programa Oportunidade Solidária da Prefeitura Municipal de São Paulo, na última gestão. Os demais módulos vieram em seqüência e estão sendo utilizados apenas pela ITCP, apesar de já termos cinco municípios conveniados para implantá-los.

3 – Qual a diferença entre Gestão Institucional, Gestão Cooperativa e Gestão Incubadora?

A gestão Institucional dá conta do ator responsável pelo Programa/Projeto. No caso da ITCP, seria a gestão dos convênios em execução, no caso do poder público seria a ferramenta de gestão do programa. Neste módulo há soluções para o planejamento e acompanhamento dos cronogramas, Recursos Humanos, Financeiros e planos de trabalho.

O módulo Gestão Cooperativa (SIG-COOP) visa o suporte para a gestão da cooperativa com relação à administração, contabilidade, recursos humanos, estudo de viabilidade econômica, plano de negócio, controle de assembléias, etc. Um dos objetivos do módulo é democratizar o acesso à informação para todos os membros da cooperativa, numa base simples e com interface amigável.

O SIG-INC (gestão da incubação) é o módulo que sistematiza o plano de trabalho da Incubação como área de atividade. Ele reúne o planejamento de todas as atividades, sua execução, recursos necessários e resultados esperados.

4 – Quais as regiões beneficiadas pelo ITCP atualmente?

Atualmente a ITCP/COPPE/UFRJ atua na cidade do Rio de Janeiro (em 7 comunidades), Baixada Fluminense (municípios de Mesquita e Nova Iguaçu), em Niterói, no Norte Fluminense (município de Quissamã) e na Grande São Paulo (municípios de Santo André e Osasco).

5 – Existem outras unidades da UFRJ, além da COPPE, participando do ITCP? Quais?

Sim, a ITCP tem um convênio de estágio regulamentar com a Escola de Serviço Social, assim sendo anualmente um grupo de estudantes faz seus estágios aqui, este programa é coordenado pela Professora Fátima Valéria.

O professor José Ricardo Tauíle, do Instituto de Economia, criou a cerca de dois anos uma cadeira optativa de Economia Solidária. Durante o curso os alunos desenvolvem projetos e estudos sobre e para as cooperativas por nós incubadas.

Além destas atividades, anualmente a ITCP seleciona estudantes de diversas áreas para fazer estágios, já passaram por aqui cerca de 320 graduandos da UFRJ. A ITCP e as cooperativas por incubadas já foram objeto de teses de Mestrado e Doutorado, assim como de trabalhos de conclusão de curso, de diversas áreas da nossa universidade.

6 – Quais são as suas projeções para o futuro do ITCP?

Os dez anos de história da ITCP podem ser divididos em dois momentos. O primeiro (1995 a 2000) onde o caráter pioneiro e experimental foram marcas, teve como resultado a construção de uma metodologia de incubação hoje presente em mais de 30 universidades brasileiras que implantaram projetos similares. Além das universidades, governos Locais e ONG´s também utilizam esta metodologia. A atuação da ITCP neste período também foi direcionada as políticas públicas, tendo assessorado diversos governos na implantação e gerenciamento de programas.

O segundo período (2000 a 2005), o trabalho se caracterizou pela consolidação deste projeto nas universidades e no campo das políticas públicas. As relações internacionais foram fortalecidas e a atuação em diversas redes afins permitiu uma participação mais eficaz no nível nacional. As relações internas na Universidade se fortaleceram, e a parceria com diversos departamentos permitiu uma integração maior dessas atividades.

Nesta nova fase, que se inicia a tecnologia da Informação e Comunicação, tem papel de destaque. O Sistema Integrado de Gestão (SIG-IncubCoope) desenvolvido pela ITCP/COPPE/UFRJ, é uma ferramenta fundamental que permite a acessibilidade remota e em tempo real, para que grupos, pessoas, prefeituras, ONG´s em diversas regiões do país, tenham acesso ao conhecimento acumulado. Acreditamos que esta seja uma forma de contribuir na democratização do conhecimento e conseqüentemente ao desenvolvimento do país.