Categorias
Tecnologias

Uma maneira de observar o Universo

Pesquisador do Observatório do Valongo utiliza radioastronomia para investigar a formação de galáxias e participa de projeto internacional

As ondas de rádio são um tipo de onda eletromagnética gerado naturalmente por objetos astronômicos e outros corpos. Com frequências ainda menores do que o infravermelho e as micro-ondas, as ondas tornaram-se excelente ferramenta para a observação do Universo.

No Brasil as pesquisas astronômicas concentram-se, principalmente, na área ótica, ou seja, utilizam a luz visível emanada pelos corpos celestes. Mas essa é apenas uma maneira de ver as estrelas. A radioastronomia dedica-se a outro tipo de processo físico para descobrir como os mais de 100 bilhões de estrelas da Via-Láctea, e as incontáveis outras nas demais galáxias, se formaram.

Thiago Signorini Gonçalves, docente do Observatório do Valongo (OV), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um dos poucos brasileiros que utiliza esse instrumento para melhor compreender a formação das galáxias. Ele explica que, devido à dificuldade e, muitas vezes, à impossibilidade de se observar os objetos de maneira próxima, a Astronomia busca ferramentas que facilitem a obtenção de informações remotamente. Na radioastronomia as ondas magnéticas permitem que objetos que não emitem tanta luz ou calor possam ser vistos mais nitidamente.

“Recebemos informações de galáxias, de estrelas e de outros objetos por meio dessas ondas, que são menos energéticas que as ondas de luz, por exemplo. Na prática, isso permite que observemos processos que acontecem no espaço em temperaturas de -250 graus Celsius”, conta.

Diferente das estrelas, que são muito quentes e podem chegar à temperatura de 10 mil graus Celsius, outros objetos celestes, como as nuvens de gás e poeira, são muito mais frios e, por isso, difíceis de observar por outros métodos.  Tanto o gás quanto a poeira, porém, são considerados combustíveis essenciais para a formação de novas estrelas.

Signorini, que dedica sua pesquisa a esses processos formativos, explica que as galáxias se formam em regiões com matéria escura a partir de nuvens de gás muito frias. A temperatura é essencial para que elas possam se compactar e permitir a fusão nuclear que formará uma estrela como o Sol. A radioastronomia é fundamental para que os pesquisadores identifiquem como esses reservatórios de gás funcionam e como esse combustível pode formar uma estrela.

“Quando se começa a observar outros comprimentos de onda, outras frequências, outros tipos de radiação, a gente começa a entender melhor os processos físicos que estão acontecendo no espaço de uma maneira geral.”

Em busca de novas técnicas

Para diversificar as pesquisas realizadas na UFRJ e no Brasil, Signorini recebeu um grande incentivo. Durante três meses o pesquisador esteve na Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, com recursos da Fulbright, para auxiliar no desenvolvimento de uma tecnologia nova de detectores para a radioastronomia. O instrumento, um tipo de câmera muito sensível, deverá ser capaz de procurar gases em nuvens de poeiras muito distantes no Universo.

“Teremos esse impacto no cenário geral porque é sempre muito difícil encontrar as galáxias mais distantes. Lembrando que a luz tem uma velocidade finita; então, quanto mais longe a gente está olhando, mais tempo a luz levou para chegar… a gente está olhando o passado. Nosso objetivo é entender como as primeiras galáxias e os primeiros reservatórios de gás eram há 12 bilhões de anos”, revela o professor, comentando que o projeto pode ter grande interface com o telescópio James Webb.

Ao participar do desenvolvimento desde o começo, com processamento e análise de dados, foi possível adquirir conhecimento e estabelecer parcerias que serão trazidos para os grupos de pesquisa e estudantes.

“São várias oportunidades tendo contato com pessoas do mundo todo que desenvolvem trabalhos na área, como, por exemplo, pesquisadores com acesso aos dados do James Webb. Não é apenas o projeto individual que pode ser aproveitado, mas as colaborações abrem novos horizontes e oportunidades”, comemora.