Além dos cortes orçamentários, outra medida do governo federal ameaça inviabilizar diversos projetos científicos no país: a redução de quase 70% na cota de que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) dispõe para importação de insumos de pesquisa livres de impostos. O corte coloca em risco até mesmo o desenvolvimento de uma vacina brasileira contra a COVID-19.
Em 2020, o valor da cota foi de US$ 300 milhões. Em 2021, o montante aprovado no orçamento da União caiu para US$ 93 milhões. A redução da cota de importação tem efeito cascata sobre todo o sistema de ciência e tecnologia nacional, já que todas as isenções de impostos precisam ser aprovadas pelo CNPq, mesmo que as pesquisas não contem com financiamento.
Para Fernando Peregrino, diretor-executivo da Fundação Coppetec, o erro vem desde o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa). “Ela [a cota de importação] já veio do governo federal com menos de um terço do que era antes. Eles se basearam em critério arbitrário, ignorando a série histórica. Desde janeiro, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) tem tentado negociar com o Ministério da Economia. O caos orçamentário é bem conhecido da sociedade”, assevera.
Vacina brasileira ameaçada
De acordo com Peregrino, o CNPq credencia os projetos selecionados da isenção fiscal, mas as fundações de apoio não têm conseguido as licenças de importação pleiteadas.
Segundo o diretor da Coppe/UFRJ, professor Romildo Toledo, a medida impacta as pesquisas que já estão em desenvolvimento na Universidade. “O corte promovido pelo governo afeta projetos acadêmicos e com a indústria que estão em andamento, já que prejudicará a aquisição de insumos e equipamentos que serão essenciais para sua continuidade e conclusão. Isso afetará, portanto, projetos de mestrado e doutorado e também de pesquisa, desenvolvimento e inovação”, destaca.
Na análise do diretor-superintendente da Fundação Coppetec, professor Antonio MacDowell de Figueiredo, mesmo levando em conta as dificuldades do país, a redução da cota mostra a incompreensão da importância que a pesquisa científica e tecnológica tem para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.
De acordo com Figueiredo, a medida prejudica a cooperação com laboratórios e pesquisadores de fora do país e a confiança estabelecida entre as partes de que o Brasil e suas instituições têm condições de cumprir acordos estabelecidos. “Além disso, afeta a pesquisa de vanguarda, na fronteira do conhecimento, pois se trata de insumos, materiais e equipamentos que não estão disponíveis na indústria brasileira”, critica.
“Estamos mobilizando as entidades representativas do setor e falei com o ministro Marcos Pontes na última quinta-feira, 10 de junho. Ele me informou que remeteu novo ofício ao Ministério da Economia, tratando sobre o tema”, relata Peregrino, que também é presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies).
Da Coppe/UFRJ.