A COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, se dá de maneira mais agressiva em idosos e indivíduos com outras doenças preexistentes. Pacientes hipertensos, cardíacos, diabéticos e com problemas respiratórios estão no grupo de risco e não podem suspender nenhum tipo de medicamento sem orientação médica.
Muitas fake news e notícias contraditórias sobre o uso de medicações circulam na internet. Por exemplo, os inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA), como o enalapril e o benazepril, e os bloqueadores de receptores da angiotensina, como a losartana e a candesartana, foram apontados na rede como vilões contra o novo coronavírus. Roberto Medronho, professor e coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar para Enfrentamento da COVID-19, enfatiza que, embora haja uma hipótese de esses medicamentos aumentarem a proliferação do vírus, não existe ainda nenhuma comprovação.
O epidemiologista orienta que manter as doenças prévias sob controle é essencial neste momento e, por isso, as medicações prescritas pelo médico são necessárias. “A suspensão da medicação pode causar mais deletérios do que a própria infecção viral”, diz.
O uso do ibuprofeno, conhecido anti-inflamatório e analgésico, também foi questionado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a indicar que ele fosse suspenso para pacientes com suspeita de infecção pelo novo coronavírus, porém, voltou atrás e retirou a orientação. “Embora não haja evidências, o remédio poderia influenciar na evolução da doença. Como temos outros analgésicos e antitérmicos, recomendamos que se use o paracetamol ou a novalgina para alívio de dores e febre. Os corticoides, por sua vez, não devem ser utilizados”, explica o infectologista, reforçando que todo medicamento deve ser tomado com acompanhamento médico.
Ainda não existe remédio para a COVID-19
Médicos na Europa, durante a pandemia, utilizaram a hidroxicloroquina e a cloroquina com sucesso durante o tratamento de pacientes em estado grave. Essa informação circulou pelo mundo e, erroneamente, foi entendida como uma cura para a doença, o que não é verdade.
Mesmo sendo promissor o uso dessas substâncias, as pesquisas ainda são poucas e inconclusivas, já que foram feitas sem muitas das características necessárias para a aprovação de um remédio. “Os experimentos são muito iniciais e ainda não se pode falar que esses medicamentos são indicados para o tratamento do coronavírus. Outros estudos estão sendo realizados e poderão atestar a sua eficácia ou não”, afirma Medronho. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro declarou que a cloroquina seria pesquisada em hospitais brasileiros.
Tais medicações são utilizadas por pacientes com muitas outras doenças, como lúpus, artrite reumatoide e malária. No entanto, após a divulgação desses rumores de eficácia, iniciou-se um rápido movimento dos brasileiros para a compra e o consumo desses medicamentos de maneira profilática e sem orientação médica. O resultado foi que os estoques nas farmácias das principais capitais foram zerados, fazendo com que os usuários frequentes do remédio tivessem que interromper seus tratamentos. Como resposta, o governo federal mudou a caracterização da hidroxicloroquina e da cloroquina para “de uso controlado”, impossibilitando assim a compra sem receita, e alertou sobre as reações adversas produzidas pela substância.