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Terceiro dia de evento em homenagem a Sodré discute crise da verdade na mídia

O terceiro dia da “Semana Muniz Sodré” abordou a questão dos estudos da mídia, enfatizando o papel da imprensa brasileira, tanto no âmbito nacional como internacional. O evento contou com a presença do jornalista Alberto Dines e dos professores Erick Felinto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); Juremir Machado, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS); e Maria Immacolata Vassallo, da Universidade de São Paulo (USP).

A palestra foi iniciada por Dines, que ressaltou a influência da imprensa brasileira, com mais de 200 anos de história. “Em apenas 14 anos de existência, nossa imprensa foi capaz de formar uma elite intelectual questionadora e interessada em questões de diversos campos”, analisou. Além disso, o apresentador do programa Observatório de Imprensa advertiu sobre a importância de os profissionais de Comunicação terem conhecimento da história da imprensa, a fim de que não se cometam os mesmos erros e continuem adotando o que teve êxito.

Dines ainda falou sobre as diretrizes estrangeiras que regem a imprensa nacional, afirmando que, como Sodré, os profissionais desta área devem discutir as matrizes da profissão, “em vez de aceitarem passivamente tudo o que se diz mundo afora sobre as tendências da imprensa. O jornalista precisa encontrar soluções para os supostos problemas do jornalismo. O Ipad, por exemplo, deve ser entendido como ferramenta para o campo, não contra ele”, afirmou.

Juremir Machado discorreu sobre a ousadia nos meios acadêmico e midiático. Para isso, citou Baudrillard, que evitava usar notas de rodapé em suas obras. Segundo o filósofo francês, a inteligência e a criatividade de um articulista são inversamente proporcionais ao número de citações de outros autores. No entanto, ponderou Machado, “até que alguém possa escrever livremente, é preciso seguir as normas, é preciso mostrar que sabe fazer igual, para depois fazer diferente”.

Além disso, o professor falou sobre a obra A Narração do Fato, de Sodré, a qual compara o jornalismo com um romance policial, tendo em vista que, “assim como na literatura, no jornalismo é preciso haver sedução, estilo, envolvimento e subjetividade”, explicou. Com isso, o docente abordou a questão da produção da verdade na imprensa. “A veracidade dos fatos depende de uma série de fatores: quem lê, onde se lê, a intenção e, principalmente, o patrocínio, já que este decide a quais informações os leitores terão ou não acesso”.

Machado falou também da crise de verdade pela qual a sociedade tem passado e por isso o interesse em comprá-la, seja em filmes ou livros. “O livro da Bruna Surfistinha vendeu tanto porque se trata de um relato, um depoimento da vida real. Quer-se a verdade, mesmo sabendo-se que ela vem cercada de mentiras”, explicou. Encerrando a fala, lembrou que o jornalismo vive esse drama. “O jornalismo coloca as verdades em crise, não conta a verdade plena, mas também não mente. Reinventa os fatos de forma literária”, concluiu.

Erick Felinto falou sobre o conceito de “bios midiático”, presente na obra Antropológica do Espelho, de Muniz Sodré. Segundo o professor, “trata-se de uma esfera simbólica da comunicação, na qual a maior parte da vida do homem contemporâneo se desenrola, por meio do conceito de subjetividade”, esclareceu.

Além disso, Felinto abordou a questão da consciência. “Algo que não está presente em todos os momentos da nossa vida, e também não pertence só ao ser humano. A importância dos objetos na vida cotidiana tem se tornado cada vez mais intensa, tomando uma dimensão imaterial”. Para exemplificar, o professor citou o uso excessivo dos computadores, tablets, smartphones, entre outros, que têm sido incorporados à vida do homem como imprescindíveis e substituintes da capacidade humana.

Por fim, a professora Immacolata Vassallo afirmou que a comunicação é um campo em apuros teóricos devido à financeirização do saber científico. A docente, com formação em Ciências Sociais, disse que “não existe neutralidade na Ciência, mas falta comprometimento para com as mídias. Dessa forma, o nome do autor, que deveria gerar credibilidade, nem sempre o tem feito”, finalizou.