Muito se fala sobre a mudança do Carnaval, sempre comparando as manifestações atuais com as do início do século XX. A professora Helenise Guimarães, vice-diretora da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ, falou sobre o clichê no qual estão calcados esses confrontos, explicando que a essência da festa continua a mesma. Mas, assim como qualquer festa, o Carnaval se adéqua aos interesses da elite econômica e cultural.

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As transformações do Carnaval, uma festa ainda popular

Muito se fala sobre a mudança do Carnaval, sempre comparando as manifestações atuais com as do início do século XX. A professora Helenise Guimarães, vice-diretora da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ, falou sobre o clichê no qual estão calcados esses confrontos, explicando que a essência da festa continua a mesma. Mas, assim como qualquer festa, o Carnaval se adéqua aos interesses da elite econômica e cultural.

Muito se fala sobre a mudança do Carnaval, sempre comparando as manifestações atuais com as do início do século XX. A professora Helenise Guimarães, vice-diretora da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ, falou sobre o clichê no qual estão calcados esses confrontos, explicando que a essência da festa continua a mesma. Mas, assim como qualquer festa, o Carnaval se adéqua aos interesses da elite econômica e cultural.

Para ela, deve-se entender o evento como um conjunto de manifestações populares que, ao longo dos séculos XIX, XX e XXI, vem sofrendo grandes transformações. “O Carnaval no sentido mais geral – no caso carioca –  hoje não se resume somente ao desfile de escolas de samba, mas engloba os bailes em recintos fechados, os blocos de sujo, os coretos de subúrbios e a retomada dos grandes blocos carnavalescos que, a cada ano, vêm tendo maior estímulo não só do poder público, mas também do povo”, explica. 

No que diz respeito aos desfiles das escolas de samba, tidos como grandes espetáculos atualmente, a docente suscita dois pontos importantes. Em primeiro lugar, a dinâmica dos desfiles sempre foi a da mudança e da transformação, para que assim perdurassem como manifestação legitimada por suas comunidades na cultura urbana. “Por isso não se podem comparar os desfiles do início do século XX com os atuais. A transformação é algo inevitável e imprescindível. Se os desfiles não sofressem alterações, talvez ainda não fizessem tanto sucesso”, completa.

O segundo fato é que o modelo do desfile sofreu alterações a fim de se tornar um espetáculo de grandes proporções. “Dizer que o Carnaval não é como antigamente é uma inverdade. Você encontrará os mesmos componentes das escolas de 1930, modificados, mas em essência estão ali: casal de mestre-sala e porta-bandeira, bateria, alas e comissão de frente. Esta última sofreu diversas transformações, contudo não perdeu o seu imo e função: apresentar a escola ao público”, afirmou.

A respeito do Carnaval de rua, discutem-se as restrições impostas pelas prefeituras, em especial no Rio de Janeiro, onde muitos blocos já deixaram de existir devido a essas regras. Alguns concordam que as novas normas atingem a espontaneidade dos blocos, fazendo restar pouco do que se tinha da festa mais democrática do Brasil.

Para a vice-diretora da EBA, não se deve generalizar. “O Brasil é um país riquíssimo em festas populares e muito democráticas, haja vista a quantidade de Folias de Reis, Reis de Boi e outras festas de caráter religioso que, durante todo o ano, fazem suas celebrações”, assegura. E completa dizendo que “toda festa pública carrega em si um aspecto aristocrático que venceu as transformações. As ‘restrições’ da prefeitura não restringem, elas disciplinam e isto é recorrente na história do Carnaval”.

Para exemplificar, a docente citou o caso dos cordões e do “entrudo” (manifestação de origem europeia, na qual as pessoas atiravam dejetos umas nas outras. No Brasil, a brincadeira foi substituída por água e farinha, mas, mesmo assim, enfrentava a resistência das elites e da imprensa do século XIX). “As práticas foram constantemente perseguidas, até os grupos passarem a se oficializar e se organizar como instituições. Correspondendo a isso, o poder público normatiza suas apresentações, atitude necessária para a preservação do bem público e da segurança dos cidadãos”, explica.

“Os blocos sempre se submeteram a normas, não há como fugir disso, mas continuam espontâneos. O que não se deve é confundir a falta de educação de seus participantes com a espontaneidade do canto e da dança. Depredar ruas, urinar ou até mesmo interromper o trânsito são fatos que o poder público tem a obrigação de disciplinar. E, disciplinando, ele contribui para a permanência do Carnaval, seja qual for a manifestação”, finaliza.