No dia 26 de maio aconteceu o workshop sobre as conclusões do Relatório Especial sobre Energias Renováveis, do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). O evento foi organizado pela Coppe e pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e teve lugar no auditório do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG).

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Relatório Especial sobre Energias Renováveis é discutido no IVIG

No dia 26 de maio aconteceu o workshop sobre as conclusões do Relatório Especial sobre Energias Renováveis, do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). O evento foi organizado pela Coppe e pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e teve lugar no auditório do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG).

No dia 26 de maio aconteceu o workshop sobre as conclusões do Relatório Especial sobre Energias Renováveis, do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). O evento foi organizado pela Coppe e pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e teve lugar no auditório do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG).

Com início às 14h, a grande procura surpreendeu e mais cadeiras tiveram que ser trazidas de outras salas. Na introdução, foi apresentado o Coppe Clima, uma tentativa de unificação dos grupos da Coppe que trabalham com o tema. Falou-se sobre as pesquisas e projetos já em andamento, como o ônibus movido a hidrogênio e o uso do lixo para geração elétrica, e sobre a importância da “descabornização da economia”, que seria criar uma “economia verde”. Também aproveitou-se para criticar os resultados obtidos pela 16° Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-16), que ocorreu em Cancún, no mês de dezembro. Apesar de o acordo fechado na ocasião ter recebido comentários positivos, os professores dizem que não há o que se comemorar, porque, na verdade, a conferência teria dado resultados medíocres.

A primeira palestrante foi a professora Suzana Kahn Ribeiro, da Engenharia de Transportes, que revisou o capítulo do relatório que trata da bioenergia. Ela começou advertindo sobre os interesses e lobbies que influenciam o relatório, sendo muito importante a escolha de vários autores. Há disputa para aprovar o texto final e a bioenergia é um dos temas mais complicados. A professora exemplifica com a questão da capa do relatório: após uma longa discussão, foi escolhida a foto de uma usina eólica apenas, nenhuma referência às outras fontes. Esse tipo de detalhe, que passa despercebido muitas vezes, é fruto de um “lobby pesado”.

Ela destacou que, quando se fala que as energias renováveis podem colaborar com a diminuição da emissão de carbono, não é apenas “sonho de ambientalista romântico”: é um caminho a se seguir, uma alternativa a ser levada a sério, já que o mundo se torna cada vez mais restritivo em termos de carbono. Os países em desenvolvimento teriam o maior potencial para geração de energia renovável, mas falta capacitação. Menos de 25% do potencial técnico é usado atualmente e ele precisa ser convertido em potencial econômico real. De acordo com a situação atual, a bioenergia tem capacidade de reduzir as emissões em entre 80 e 90%.

Em seguida, o professor de Engenharia Oceânica Segen Estefen, coordenador do capítulo sobre Energia dos Oceanos, abre dando um panorama geral. As fontes renováveis, segundo dados de 2008, seriam responsáveis por 12,9% da energia produzida no mundo – a oceânica por 0,002%. Apesar das muitas incertezas sobre o potencial das energias renováveis, qualquer uma delas pode suprir a demanda mundial, se seu potencial for devidamente explorado.

Quanto às fontes oceânicas, apenas a energia das marés está comercialmente estabelecida, na usina de La Rance, na França. O uso das correntes oceânicas está em estudo e estima-se o potencial de geração em 25GW na Flórida, utilizando a Corrente do Golfo. Outras fontes de energia já estão em fase comercial bastante ativa, mas a energia dos oceanos não. Todas as formas de aproveitamento estão em fase pré-comercial (exceto a energia das marés): “a guerra tecnológica ainda está sendo disputada”. Os investimentos ainda dependem muito dos governos, empresas de energia e companhias de investimento e a energia oceânica só vai “passar a existir” quando um número maior de protótipos comerciais existirem. A demanda por fontes renováveis depende de quanto se espera reduzir das emissões e essa fonte tem impacto ambiental muito pequeno – seu maior impacto é durante a construção e instalação. Porém, até para o cálculo do custo existem dificuldades, com variações muito grandes entre as estimativas.

Depois, foi a vez de Marcos Freitas, professor de Planejamento Energético, e um dos autores do capítulo sobre Hidroeletrecidade. A partir de dados de 1973 e de 2006, ele mostrou que o percentual de energia advindo de hidrelétricas vem caindo (de 21% para 16%), mas continua sendo a maior das renováveis e tem potencial cinco vezes maior do que o atualmente instalado. Há preocupação com o uso da água já que, segundo estimativas, em 2035, três bilhões de pessoas viverão em escassez de água. Porém, as hidrelétricas não são vilãs: suas cascatas diminuem inundações, como aconteceu com a Argentina; provomem integração entre países, por exemplo, com a usina binacional de Itaipu); podem trabalhar de maneira intermitente, apenas nas cheias; e podem ainda guardar água com seus reservatórios. O caso brasileiro é um bom exemplo de uso de hidroelétricas e ainda há 82% de capacidade não utilizada na América Latina.

Quanto às estimativas de mudança na quantidade da chuva, ele afirma que há muita incerteza, todos os numeros são nebulosos, mas indicativos do que factuais, e devem ser levados com cuidado, pois “podem mostrar aos investidores, ou pelo menos aos tomadores de decisões, uma restrição à hidroeletrecidade que não necessariamente venha a se confirmar no futuro”.

Também é possível estocar água com sistemas de bombeamento, podendo gerar energia sem alteração no curso do rio. Além disso, as hidroelétricas tem ótimo payback de retorno em energia (ou seja, toda a energia ganha versus o gasto), pois duram muitos anos. Outra vantagem se relaciona com a expansão rural das cidades, onde pequenas usinas podem ser úteis, já que não vale a pena estender redes.

O professor destacou também que o editório do IVIG é todo desligado da energia elétrica, funcionando por gerador próprio e mostrando que “a energia renovável pode dar certo”. Por último, Roberto Scheffer, também professor de Planejamento Energético, que coordenou o capítulo sobre Potenciais e Custos de Mitigação, começou dando um panorama geral do relatório. Destaca também que mais da metade da energia gerada pela biomassa (10,2% da energia mundial) vem da biomassa tradicional, queima de lenha, muitas vezes de desmatamento, “o 13 de hoje [porcentagem gerada por renováveis] é como se fosse um 8”. Quando as energias renováveis crescem, estão crescendo duas vezes, pois estão substituindo a biomassa tradicional. O que elas podem gerar, individualmente, é maior do que o mundo consome, sua limitação se dá pela falta de lucro e de políticas, não por limitações físicas.

O capítulo em questão partiu de 164 cenários possíveis presentes na literatura e como eles retratam o potencial das energia renováveis. Apesar da grande dispersão dos resultados, mais de 50% projetam a contribuição das renovávei em mais de 17% em 2030 e de 27% em 2050. Há várias combinações possíveis para alternativas de baixo carbono, mas as renováveis têm o menor custo. Nota-se que, em cenários de maior redução de concentração de gás carbônico, encontra-se maior participação das renováveis. Além disso, as projeções mostram que o crescimento das renováveis se dará em todo mundo, não apenas regiões específicas, e não haverá apenas uma única dominante, apesar do destaque da energia solar e da eólica. O professor Roberto Scheffer encerrou dizendo que 80% da oferta primária de energia pode vir das renováveis na metade do século se políticas públicas forem colocadas em prática.