Para debater os assunto, o Olhar Vital entrevistou José Mauro Braz de Lima, diretor do Hospital Escola São Francisco de Assis (Hesfa) da UFRJ.

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Memória

Políticas públicas contra o crack

Para debater os assunto, o Olhar Vital entrevistou José Mauro Braz de Lima, diretor do Hospital Escola São Francisco de Assis (Hesfa) da UFRJ.

Apesar de não se terem dados concretos sobre a realidade do consumo de crack no Brasil, sabe-se que a droga se espalhou no país de modo que especialistas, a partir do final da década passada, já pudessem a considerar uma epidemia. Segundo aponta uma recente pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Municípios, a droga já é consumida em 98% das cidades brasileiras.

O crack, droga feita a partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio, chega ao organismo do usuário através da fumaça produzida pela queima de uma espécie de pedra da droga. Ela chega ao sistema nervoso central em cerca de dez segundos, devido ao fato de a área de absorção pulmonar ser muito grande. Seu efeito, que altera estados de euforia superiores ao do uso da cocaína seguidos de profunda depressão, dura de 3 a 10 minutos, o que leva o usuário a usar novamente a droga para compensar o mal-estar, provocando intensa dependência. O crack é uma droga barata e, apesar de seu consumo estar diretamente associado às camadas mais pobres da população, há usuários de todas as classes sociais.

No dia 17 de fevereiro, a presidenta Dilma Rousseff prometeu uma “luta sem quartel” contra o crack. Um projeto desenvolvido pela Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas prevê a implantação de 49 Centros Regionais de Referência em Drogas em universidades federais. As unidades serão responsáveis por capacitar, em um ano, 14,7 mil profissionais, como médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e agentes comunitários.

Para o médico neurologista e professor José Mauro Braz de Lima, o crack pode demonstrar, mais incisivamente, que a questão das drogas não pode ser resolvida ao se assumir a visão de mera criminalização do usuário. Segundo o professor, a dependência de substâncias químicas é uma questão ampla que envolve saúde pública, questão judiciária e estrutura social, e que também não deve ser tratada apenas com usuário, mas também com seus familiares e laços mais próximos.

Citando Freud em O mal-estar da Civilização, José Mauro esclarece que o consumo de drogas está essencialmente associado, mais do que à busca pelo prazer, à “fuga do desprazer”. E, como o desprazer é inerente a todo indivíduo ou grupo coletivo, o que deve ser buscado e incentivado, como forma de se evitar o direcionamento para as drogas, são caminhos diversos que possam reduzir esse mal-estar como, por exemplo, o trabalho e a arte.

José Mauro é coordenador geral do Centro de Ensino, Pesquisa e Referência de Alcoologia e Adictologia (Cepral), um programa acadêmico da Universidade Federal do Rio de Janeiro que visa a tornar-se Centro de Referência e de Excelência na atenção integral aos Problemas Relacionados ao Uso, Abuso e Dependência do Álcool e outras drogas (PRAD), contemplando as atividades de ensino, pesquisa, extensão e assistência aos usuários e familiares.