Representantes das quatro faculdades francesas de Engenharia envolvidas no projeto “Cooperação Franco-Brasileira de Gestão em Empreendedorismo na área Agroalimentar – ênfase em produtos de origem animal”, do Programa Capes/Brafagri – estiveram ontem, 23 de março, na Escola de Química (EQ). A visita selou um convênio que vai promover intercâmbio entre alunos da UFRJ e de escolas de engenharia francesas filiadas à FESIA (Fédération des Ecoles Supérieures D´ingénieurs en Agriculture). Seis alunos de graduação da Engenharia de Alimentos e da Engenharia de Bioprocessos da Escola de Química passarão dez meses em uma das escolas participantes a partir de setembro de 2011, e o mesmo número de alunos franceses virá estudar na UFRJ.
Os professores franceses foram recebidos pela coordenadora de Alimentos da EQ, Ana Lúcia Vendramini, uma das responsáveis pelo intercâmbio, pelo diretor da EQ, Osvaldo Galvão, e pelo vice-diretor Ney Pereira Jr., que guiou a visita pela Escola. Marie Lummerzheim, da École d’Ingénieurs de Purpan (EI-Toulouse), Florence Malaise, do Institut Supérieur d´Agriculture de Lille (ISA-Lille), Stéphane Broncher, da École Supérieure d´Agriculture d´Angers (ESA-Angers), e Melise Machado (EI- Toulouse), conheceram os laboratórios de Desenvolvimento de Bioprocessos e de Produção de Enzimas e ficaram especialmente impressionados com o porte da construção e dos investimentos no Núcleo de Excelência em Biocombustíveis, instalação de 1800m² e custo de aproximadamente 5,3 milhões de reais.
Após a visita, que aconteceu pela manhã, os alunos assistiram a uma palestra para esclarecer suas dúvidas. Melise Machado discorreu sobre as especificidades das universidades conveniadas e as benesses do programa, frisando a diferença que há entre os modelos brasileiro e francês de cursos de Engenharia. Enquanto aqui no Brasil o curso está alocado em uma universidade, lá existem as Grandes Écoles, modelos únicos iniciados no século XIX. Em seus campi, vinculados ao Ministério da Agricultura, só se estuda Engenharia e os alunos são mais valorizados no mercado. Segundo Melise Machado, é importante um nível básico de conhecimento e domínio da língua francesa, mas há aulas também em inglês e cursos de francês disponíveis aos alunos.
Os professores franceses abordaram a importância dessa oportunidade de troca entre os dois países, no sentido profissional, e entre os alunos, sob um prisma pessoal. Para Ana Lúcia Vendramini, essa interrelação é importante principalmente para a área de alimentos, pois há uma comercialização internacional dos produtos. “A França é um grande produtor de algumas áreas específicas, mas o Brasil é um grande produtor de produtos de origem animal”, comenta a professora. Florence Malaise afirmou que o Brasil é uma potência nos setores agrícola e alimentício, e que o mundo deve conhecer o contexto brasileiro para trabalhar com o país. Segundo ela, se por um lado os estudantes franceses são muito interessados pela descoberta do Brasil e de todos esses setores, da agricultura familiar à produção de alimentos processados, por outro para os brasileiros pode ser interessante adquirir conhecimento de técnicas e visões europeias. “Trata-se de uma parceria estratégica”, resume a professora, representante de escola do norte da França.
Marie Lummerzheim, belga que viveu no Brasil no fim da década de 1980, afirma que “como disse Obama em visita ao Rio de Janeiro, o Brasil não é um país do futuro, o futuro já chegou aqui. […] O francês não pode fazer a política do avestruz, enfiar a cabeça na terra e não enxergar nada. O Brasil é um país que conta e vai contar cada vez mais. É preciso estar aqui, ter laços com o ensino superior, com empresas. Além de cada intercâmbio ser um grande enriquecimento cultural”.