A ação iniciada pelo Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG) ganhou força, envolveu Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), Pró-Reitoria de Extensão e Centro de Ciências da Saúde (CCS), e mostrou acerto da iniciativa num momento em que começaram a aparecer na Região Serrana sinais das doenças pós-enchentes, como leptospirose e diarreias.
A Escola Municipal Claudir Antonio de Lima, no Bairro Catarcione, em Nova Friburgo, recebeu a “II Jornada de Solidariedade”, na última quinta-feira (27/2). Quando o ônibus e o caminhão, carregados de remédios, chegaram com médicos, enfermeiros, laboratoristas, bióloga, psicóloga e dentista, os abrigados já esperavam organizadamente o atendimento. Com os profissionais, seguiram também mais de 10 mil frascos de medicamentos, centenas de litros de leite e de água, dezenas de quilos de alimentos não perecíveis e uma grande variedade de materiais de higiene.
Mais de 40 profissionais atenderam à convocação para a “II Jornada” em Nova Friburgo, realizando mais de 70 atendimentos, entre adultos e crianças. Houve cinco encaminhamentos para hospitais e ainda distribuição de remédios e ação de higiene bucal para os desabrigados, que receberam escova e creme dental.
População mostra força
Apesar dos sinais de organização, as pessoas afetadas pela tragédia acreditam que vai demorar muito tempo para que Nova Friburgo se recupere. Essa é a opinião de Josilene Souza, a merendeira voluntária que preparava o jantar para as famílias acolhidas na escola. Ao todo são quase 300 refeições por dia, que ela prepara com a colega Eliane Silva. Tudo sob a supervisão da Diretora Célia Bernardo. “Desde o início, estamos unidas para enfrentar o desafio. Ficamos desesperadas quando vimos nossas crianças vomitando e com diarreia, mas agora parece estar tudo sob controle. Esta visita foi maravilhosa. Precisamos de tipo de ação. A cidade precisa”, disse a diretora se referindo à “II Jornada de Solidariedade” IPPMG/HUCFF/UFRJ/PR-5/CCS.
Entre as pessoas envolvidas na ação de amparo aos desabrigados está o casal Elizabeth Aparecida e Nilson Gomes. Eles foram os primeiros voluntários da Escola Claudir Antonio de Lima e asseguram que permanecerão ali até tudo voltar ao normal. O relato de Nilson sobre o dia da tragédia impressiona. Segundo ele, foram mais de 12 horas ininterruptas de chuva intensa, agravada por raios e estrondos de barreiras que vinham abaixo. “A sensação era de que a terra iria abrir e que tudo sumiria. A situação já era desesperadora quando faltou energia. Imaginem a tempestade, raios, trovões e os estrondos, ainda mais sem luz”, disse.
Para ele, no entanto, nada foi mais assustador do que a notícia de que uma represa tinha rompido e que inundaria a cidade. “Ainda estávamos aturdidos com tudo que tinha acontecido e do nada as pessoas saem correndo desesperadas sem saber para onde. Muita gente se machucou, outras foram pisoteadas, parecia um filme de pânico”, revelou Nilson. A ação da UFRJ levando profissionais da Saúde à cidade munidos de medicamentos para a população é uma iniciativa a ser seguida, segundo Nilson.
Profissionais querem mais ações como a “II Jornada”
O diretor do IPPMG, Edimilson Migowski, disse que essas ações são fundamentais. “Diante de tragédias não dá para ficar esperando e é necessário que se façam ações imediatas no sentido de amparar a população com atendimento médico e para suas necessidades mais imediatas”, disse o diretor. Edimilson explica que as doenças pós-enchentes já começam a aparecer e que toda ação no sentido de proteger deve ser imediata. Segundo ele, amostras da água foram colhidas no local para análise no Instituto de Virologia da UFRJ.
O vice-diretor do IPPMG, Bruno Leite, que definiu juntamente com as Secretarias de Saúde e de Ação Social comentou a ação no bairro Catarcione. “Alcançamos todos os objetivos. Acredito que passada esta tragédia, tenhamos que continuar com ações semelhantes nas comunidades carentes, que precisam de cuidados médicos como os que trouxemos para cá”, disse ele.
Para a Professora da Escola Anna Nery, Carla Luiza França Araujo, a Jornada foi uma experiência enriquecedora para os alunos que se defrontaram com a realidade. Opinião parecida tem a enfermeira Mariana Marcovistz Laus, recém-formada pela EEAN: “É um trabalho pioneiro, que não tinha visto na UFRJ e nem em outra universidade.” Para a bióloga Marcia Braga de Castro, do HUCFF, o que aconteceu na Jornada nenhuma faculdade ensina. “Estou saindo daqui muito diferente do que quando cheguei. Se pudesse ficaria por aqui”, falou emocionada.
Novas ações
Um dia antes da “II Jornada” tomar rumo com destino à Região Serrana, a Pró-Reitora de Extensão da UFRJ, professora Laura Tavares, reuniu no auditório da EBA (Escola de Belas Artes) decanos, professores, técnicos e estudantes, para tratar de ações de apoio às vítimas das enchentes. “Quando a Universidade chega, as pessoas envolvidas perguntam o que a UFRJ tem a oferecer e o que ela vai fazer. É claro que existem ações que dependem de avaliação e análises, essas são de médio e longo prazos, mas há muita coisa que podemos fazer agora.”
O diretor do IPPMG também acredita que há situações diferentes, mas “assim como o faminto, o doente também não pode esperar”, enfatizando que são fundamentais as ações imediatas. Segundo ele, há outras que, necessariamente, vão precisar de análises e a própria UFRJ pode ajudar a traçar. Neste sentido, a pró-reitora Laura Tavares vai visitar, nesta terça-feira (1/2), a Região Serrana com os coordenadores de área da Universidade visando a mapear a região e gerar novos planos de ação em apoio às cidades. A decania do Centro de Ciências da Saúde estará reunida no mesmo dia com representantes da Prefeitura de Nova Friburgo para definir novas formas de contribuição.