Além de pessoas pelo mundo, o turismo movimenta muito dinheiro. Na próxima década, o Brasil receberá dois mega-eventos esportivos, a Copa de Futebol e as Olimpíadas, que ratificam o potencial lucrativo e gerador de empregos dessa indústria multidisciplinar, que não para de crescer. A comunicação tem papel crucial nesse desenvolvimento, como deixaram claro os palestrantes do “1º Seminário de Comunicação e Turismo da Escola de Comunicação da UFRJ” (ECO/UFRJ), realizado na última quarta-feira (17/11), no auditório do Centro de Filosofia e Ciência Humanas.
Pela manhã, os professores da ECO Mohammed El Haiji e Paulo Vaz trouxeram reflexões sobre como o turismo pode trazer uma nova visão de mundo e das relações humanas, superando um comportamento predatório e momentos fugazes de prazer. Segundo o primeiro, a padronização nos utensílios e ambientes cria uma sensação nos indivíduos de que se viaja sem sair do lugar. “Há uma busca desenfreada pelo prazer e isso se reflete no turismo e preocupa. O que poderia ter potencial humano, filosófico e cultural se transforma apenas em consumo”, comentou El Haiji. Por sua vez, o professor Paulo Vaz, destacou que a atividade produz uma mistura de angústia e convite pela vida alheia. Para ele, novas formas de turismo surgem para fugir do voyeurismo pelas atrações tradicionais de massa, como o turismo em busca de contato com natureza, o turismo de miséria em locais onde a integridade humana fica em xeque e o turismo voluntariado, onde há relação de compaixão.
A sessão da tarde do seminário entusiasmou a plateia com as histórias autobiográficas de um ex-globetrotter que hoje é dono de um hostel, Henrique Jorian, os questionamentos da professora e supervisora do Programa de Estágios da Universidade Estácio de Sá no setor de turismo, Erika Gelenske Cunha, e o pragmatismo da professora da ECO e ex-assessora de comunicação da Riotur, Cristina Rego Monteiro. A mesa, que abordava a Gestão do Turismo e a produção de informação pelas novas mídias, teve a professora Cristiane Henriques Costa como mediadora.
Mochileiro, guia turístico, professor de lambada, comissário de bordo e dono de um albergue para jovens viajantes foi como se apresentou o empresário Henrique Jorian. Para o debate a participação dele mostrou o quanto, nos dias atuais, o marketing de rede, o popular boca-a-boca tem peso para a atividade. A professora Erika Cunha aproveitou a deixa para questionar o quanto os agentes turísticos estariam preparados para lidar com as novas gerações de consumidores e as mídias sociais, além de indagar se as empresas estão também preparadas para outras mudanças de comportamento. “O Rio ainda é só sol e praia, mas isso está se esgotando, pois é mais barato ir para o Caribe. Então o que sobra?”, ressalta ela, lembrando que o turista não quer mais apenas tirar fotos, mas flanar por entre os meandros das cidades entre os que nelas vivem.
Com a apresentação da professora Cristina Rego Monteiro ficou claro que a web está modificando o panorama da indústria do turismo ao eliminar os intermediários. Segundo ela, hoje os consumidores buscam informações e compram bilhetes, fazem reserva de hotéis, alugam veículos e compram passeios com alguns cliques no computador. A experiência que teve na Riotur revelou à professora que não há continuidade nas políticas públicas para o setor, com um ou outro caso aqui ou ali, de ações para alavancar o setor por meio da comunicação. “O problema é muito mais cultural e político do que técnico. Nós temos vocação para o turismo, mas apenas isso não constrói o setor turístico”, afirmou ela, recordando que na década de 1990 uma pesquisa mostrou que o turista estrangeiro não tem imagem formada sobre o turismo na cidade do Rio de Janeiro.
A falta de união e organização dos diversos grupos envolvidos na indústria turística prejudica demais a atividade, de acordo com Cristina Rego Monteiro. O governo federal tem atuado para capacitar profissionais, mas as condições de empregabilidade não são criadas enquanto forem tímidas as iniciativas para fomentar o turismo. Por fim, a professora da ECO/UFRJ lembrou diversos problemas que envolvem a cobertura jornalística do segmento com crise dos meios impressos, relatos pouco idôneos que dão às reportagens caráter quase institucional, alta reprodutibilidade das informações e falta de jornalismo investigativo nas editorias de turismo. “A internet está garantindo sombra e água fresca nesse deserto árido de informações sobre turismo. Turismo é serviço e web é serviço e turismo. Os dois se encontraram em casamento extremamente feliz”, concluiu.