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O pesquisador sofre influências do meio pesquisado

Quando se tem uma noção de autoconhecimento, o sujeito passa a perceber que é influenciado pelo meio, e sua capacidade de influenciar muitas vezes se limita pela força do que há ao seu entorno. Seguindo esse raciocínio foi apresentado o trabalho, na XXXI Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, pelas estudantes Natalia Ribeiro e Fernanda Menezes, sobre a influência do meio pesquisado no pesquisador.

A partir de um diário de campo coletivo, escrito de acordo com o que vivenciavam ao fazer a pesquisa em uma unidade carcerária, as estudantes analisaram o que a situação experimentada gerava em seus relatos. Além de algumas curiosidades sobre as entrevistas feitas durante a pesquisa, o que é mostrado é a subjetividade que está contida nas pesquisas de campo.

Ao se tratar do tema “população carcerária”, foi percebido um forte estigma envolto na realidade pesquisada, tanto dos pesquisadores, quanto dos que se encontravam em contato constante com a população contida no espaço, como os agentes de disciplina e os agentes educacionais.

Há uma rixa interna, em que os agentes educacionais são chamados de “executivos” e os agentes de disciplina de “executados”, segundo a qual os segundos são responsáveis pelo “trabalho sujo” feito nestes espaços tidos como ressocializantes.

Questionaram-se as estudantes, que acabaram por perceber uma tendência nos agentes de disciplina, marcada pela necessidade própria destes de “mostrar quem é que manda”, por isso acabam agindo da forma que agem, rude e grosseira, a ponto de chegar à agressão física. Na visão das estudantes, esse “trabalho sujo” acaba sendo transformado em “trabalho limpo” por uma sociedade que acredita nisso como em nome de um “bem maior”.

Em relação a elas, o simples fato de entrarem na unidade carcerária já gerava uma sensação de medo, e além das informações retiradas dos que ali estavam se percebiam como incomodadas em tal situação de insalubridade. Foi a atmosfera percebida em suas anotações que fez com que chegassem a esta conclusão: o meio  pesquisado pode modificar mais o pesquisador do que o contrário.