Categorias
Memória

Economia da gratuidade no meio digital em discussão

Num contexto de softwares livres, downloads, compartilhamento de conteúdo e produção colaborativa, começam a surgir discussões acerca da “Economia da Gratuidade”. Esse foi o tema da palestra proferida por Thiago Novaes, da Unicamp, no curso de Cultura Digital e Capitalismo Cognitivo da Escola de Comunicação da UFRJ, na quarta-feira (16/9). 

O convidado iniciou suas exposições traçando um paralelo entre mercadoria e dádiva. Para o cientista político, nem tudo que circula no mundo tem fins lucrativos, e aí entra o conceito de dádiva. Analisando um exemplo mais trivial, podem-se observar as relações sociais onde há troca de presentes. “Trata-se de uma relação única, em que é dispensável comentar o preço, já que o grande valor está no caráter afetivo, baseado na reciprocidade. Já mercadoria supõe utilidade e acúmulo de relações apenas entre coisas e não entre pessoas”, define.

Anonimato e gratuidade

Da mesma forma, a internet simula o universo das relações e permite que haja situações em que o importante não é o lucro financeiro, mas a circulação de ideias. A disponibilidade de conteúdo gratuitamente na internet é um exemplo. O reconhecimento acerca daquele teor é o grande alvo. Séries, filmes, livros e programas são alguns dos produtos que podem ser encontrados livremente no ambiente virtual.

Thiago explica que, sobre esse aspecto, a internet se define como um lócus coletivo. Muitas pessoas participam e produzem conteúdos de forma coletiva. “O interesse também é coletivo. Por que exigir pagamento por algo que outra pessoa vai disponibilizar de graça? E que vai se tornar obsoleto à medida que mais contribuições surgirem”, garante.

Outro ponto sempre lembrado nas discussões acerca da nova configuração cibernética, diz respeito ao paradoxo da assinatura. Essa produção coletiva requer uma multiplicidade de autores e os conteúdos acabam sendo distribuídos sob a “autoria do anônimo”. Essa questão levanta, ainda, o debate da Lei do direito autoral, no Brasil.

A era do coletivo

Novos conceitos passam a circular, como inteligência coletiva, copyleft, creative commons. A propriedade, agora, passa a ter uma noção central. “Tudo pertence a todos, em prol de uma inteligência e conhecimento distribuídos”, afirma o palestrante.

Os termos citados remetem, nesse sentido, à autorização para que qualquer conteúdo intelectual circule na rede sem nenhuma restrição, se não houver fins lucrativos. Pode-se observar, portanto, que toda a sociedade já se conscientiza quanto a mudanças que a internet vem exercer não apenas no que diz respeito à produção de conteúdo atual, mas na sua reprodução de agora para adiante.