Surgido a partir de uma parceria entre o Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e o curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFRJ, ocorreu o V Fórum de Linguagem, nesta sexta-feira, dia 11. O evento, que foi realizado no Salão Pedro Calmon do campus da Praia Vermelha, teve como tema a produção de enunciados e a intervenção na linguagem.
A abertura foi feita pelas três organizadoras do encontro e representantes das entidades envolvidas: Monica Rocha, coordenadora do projeto Fórum Permanente de Linguagem e professora de Fonoaudiologia, Elizabeth Castro, coordenadora do projeto Cultura e Saúde do FCC, e Ângela Garcia, do Instituto de Fonoaudiologia. Foi apontada como intenção do projeto focar no campo da linguagem, além de trazer a cena da vida para refletir-se sobre meios de a fonoaudiologia lidar com os casos apresentados.
O início da mesa-redonda, denominada “A menina que ao se encontrar no espelho rodopiava sobre si mesma”, deu-se após Elizabeth Castro apontar o pioneirismo da iniciativa e de como tomou força durante os últimos anos. Segundo ela, o Fórum de Linguagem chegou para ficar. A formação da mesa para discussão de casos clínicos constituiu-se dos palestrantes Lilian Ferrari, linguista da UFRJ, e Octavio Serpa Jr., psiquiatra/IPUB/UFRJ, além da debatedora Claudia Graça, presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia. A mesa contaria ainda com a participação de um terceiro palestrante, Alexandre Costa, filósofo e professor da Universidade de Osnabrück, que, porém, devido a um acidente na família, não pôde comparecer.
“Se ela não é autista, não é débil mental, o que ela tem?”
Ao ser apresentado o caso da menina Ana, de 7 anos, não se sabia exatamente o que a teria atingido ou afligido, mas o fato é que ela apresentava um grave atraso no desenvolvimento da linguagem. Depois de vários médicos consultados e nenhuma conclusão, a mãe da menina teria reclamado: “Se ela não é autista, débil mental, não é nada, por que ninguém me diz o que ela tem, me diz que exercícios eu devo fazer com ela para desenvolver a linguagem e a coordenação?”.
O psiquiatra discorreu sobre as dificuldades de se fazer um diagnóstico correto e ágil, quando se trata de algo mais complexo, como o caso apresentado. Segundo ele, o conhecimento médico procede da observação; porém, apontou a limitação da análise quando se é feito a partir da chamada “perspectiva da terceira pessoa”. “As respostas não são dadas por fragmentos do corpo, mas por sua totalidade”, disse, referindo-se à importância de se acompanhar mais detidamente o paciente com o objetivo de formar uma identidade mais clara para observação e análise.
“Por que só começamos a falar com 1 ano?”
Lilian Ferrari trouxe um olhar do ponto de vista da linguística, fazendo um traçado sobre o aprendizado da linguagem nos seres humanos e comparando-o ao tipo de aprendizado dos chimpanzés. Segundo alguns estudos apresentados por ela, as crianças aprendem por imitação, enquanto os chimpanzés aprendem por emulação, o que em primeiros momentos, por meio de experimentos, demonstrou mais eficácia.
Ao chegar à fala em si, apresentou a questão difundida pelo estudo de Tomasello, em quem ela se baseou para a exposição, “Por que as crianças só adquirem as primeiras palavras por volta de 1 ano?”. O mesmo estudo aponta a capacidade humana de formar conceitos de objetos simples e reconhecer padrões sonoros semelhantes às palavras já aos 4 ou 5 meses de idade, porém só a partir de 1 ano a criança adquire a capacidade de “ver o outro como um agente intencional”.
Em sua exposição, demonstrou a linearidade e a contínua formação da linguagem nos seres humanos, sem que seja uma qualidade estática, que possa ser adquirida e ficar parada. Como processo inicial, a linguagem seria desenvolvida a todo o momento, de forma lenta e gradual, como apontou quando disse que “as crianças não vão para a escola aprender português, como falamos, mas para aprender a modalidade escrita da língua”.
O Fórum aconteceu no dia 11 de setembro, das 8h30 às 16h30, no salão Pedro Calmon, av. Pasteur, 250, campus da Praia Vermelha, UFRJ. Mais informações podem ser obtidas através do site www.forumdelinguagem.com.br, pelos telefones 2247-6571, 2247-6573 ou pelo e-mail monicamoreirarocha@yahoo.com.br, com as responsáveis pelo evento: Mônica Rocha e Beth Castro.