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Samba na recepção dos calouros: uma alternativa ao trote

 Foi em clima de festa e samba no pé que a decania do Centro de Ciências da Saúde (CCS) recepcionou os calouros no Auditório Rodolpho Paulo Rocco, nesta sexta-feira (13/03). A música ficou a cargo de um grupo de funcionários do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), que demonstrou todo seu talento na percussão ao executar um variado repertório. “Combinamos que esse ano faríamos uma recepção festiva aos calouros, que despertasse maior interesse e contribuísse para criar desde já um ambiente saudável na universidade”, declarou Jorge Fernando Teixeira Soares, coordenador de Integração Acadêmica de Graduação do CCS e organizador do evento.

Segundo o coordenador, ficou decidido no início de 2009 que não haveria evento acadêmico-científico para recepcionar os calouros, como em semestres anteriores. “O decano Almir Fraga Valladares teve a idéia de organizarmos o samba e servirmos salgadinhos, na tentativa de motivar um maior número de estudantes a comparecerem. Outro grande objetivo é tentar substituir o trote, que nos causa grande preocupação, por recepções como essa, festiva e de caráter positivo”, expõe Jorge Fernando.

De acordo com o professor, a universidade como um todo sempre se opôs à realização de trotes, tradição entre alunos que consiste em submeter calouros a diversas atividades, muitas vezes humilhantes. “No entanto, existe uma grande dificuldade para resolvermos isso, pois foge do nosso controle. Dentro do CCS há a instrução de que não pode ocorrer trote, mas infelizmente acabamos por ver calouros da UFRJ pintados pelas ruas do Rio de Janeiro. Não temos como coibir isso, mas temos como orientar nossos alunos a não participarem”, argumenta o coordenador.

Criando uma nova cultura

Para Jorge Fernando é necessário discutir e pensar maneiras de se criar outra cultura para estudantes que ingressam na faculdade. Deve-se excluir tudo que possa constranger, se tornar desagradável ou ainda provocar maiores conseqüências. O trote foi assunto abordado esta semana em reunião do Conselho de Centro. “É preciso achar um caminho. Uma das atitudes que podemos tomar é esta, de promovermos uma festa para recepcionar. Precisamos também instruir os alunos, como fiz hoje em minha aula para calouros da Faculdade de Farmácia”, aponta o coordenador. 

— Sempre tivemos um discurso de nos colocarmos contra essas humilhações. Em outras reitorias já falávamos disso, os pró-reitores de graduação compartilham da mesma idéia, os professores da UFRJ também são contra o trote violento — observa o professor. Ele relatou que até mesmo as comissões de trote que se formam entre estudantes das unidades de ensino estão perdendo o controle da situação: “Esse ano, ao conversarmos com a comissão de Medicina, descobrimos que alunos aplicaram o que eu chamaria de “trote-pirata”, que a própria comissão desconhecia”, conta Jorge Fernando.

Ele acredita que o trote violento e humilhante não leva a nada além da criação de mágoas. “É muito desagradável abrir um jornal com notícias de alunos que sofreram coisas graves, como queimaduras, conforme se tem observado em algumas universidades de São Paulo”, exemplifica o coordenador. Ele julga essencial alertar aos causadores de situações desse tipo que estão tendo atitudes condenáveis, passíveis de punição judicial. “Já se o calouro é recebido de braços abertos, em confraternização, é válido. É preciso ser contra a violência física e o constrangimento”, afirma. Jorge Fernando ainda elogiou o grupo de samba: “Como bons brasileiros, eles têm a satisfação de tocar um sambinha, é uma forma de lazer para eles, além de ser ótimo para nós que temos a oportunidade de escutá-los”, finaliza.