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A linguagem dos bebês

O Laboratório de Estudos de Linguagem, Leitura e Escrita da UFRJ – LEDUC, coordenado pela professora Ludmila Thomé de Andrade, realizou nesta sexta-feira uma apresentação sobre “Bebês: interação e linguagem”, ministrada por Daniela Guimarães, doutora em Educação pela PUC-RJ.

O evento, que aconteceu no auditório do CFCH, foi baseado na apresentação da tese de doutorado de Daniela: Relações entre crianças e adultos no berçário de uma creche pública na Cidade do Rio de Janeiro: técnicas corporais, responsividade, cuidado.

De acordo com ela, esses três conceitos foram muito importantes no recorte da relação entre os bebês. O primeiro, “técnicas corporais”, foi dado por Marcelo Mauss; “responsividade” por Mikhail Bakhtin; e “cuidado” por Michel Foucault. Ambos são usados, segundo ela, para melhor descrever as ações do adulto para com os bebês, ou entre as próprias crianças, de forma mais embasada.

Quando trata da definição de “cuidado”, a pesquisadora levanta um questionamento: “Educar é cuidar? Cuidado é uma postura na educação. Uma postura de atenção ao outro. Há uma confusão nisso”.

A pesquisadora acredita que de um modo geral, o adulto se depara com o bebê para tirar ele do lugar, e mudar o curso da situação em função dos desejos do adulto e do que ele considera necessidade, completando o que a criança começou, ou mesmo o redirecionando-a.

– Esse conceito ajuda a gente a pensar num outro tipo de relação com o bebê que possa não ser de ausência completa, mas que possa ser de resposta e atenção, dar sustentação com o nosso olhar, que impulsiona ele a completar sozinho, mas não desacompanhado, o que ele está fazendo. Ele se sente acompanhado pela presença física ou o olhar, sem precisar ir, fazer, ou dizer alguma coisa. Muitas vezes o adulto está olhando, mas sob a perspectiva da vigilância, para não acontecer algo, e não para incentivar que a criança faça. E isso também promove uma alteração na ação – explica a psicóloga.

Ao longo da apresentação, Daniela Guimarães descreveu alguns casos de interações entre os bebês da creche, mostrando fotografias, importante instrumento para a análise da psicóloga, e narrando as cenas e as observações feitas quanto ao comportamento das crianças, suas reações, e a maneira como interagiam.

– Um dos desafios do pesquisador, diante das relações humanas, nesse caso da relação entre adultos e crianças, é de ao mesmo tempo em que se mistura e se identifica com o que acontece, é importante se distanciar pra construir sentido sobre determinada coisa. Qual a fronteira entre participar e não se misturar tanto? – questionou Daniela.

A psicóloga analisou ainda a relação da rotina, e de alguns objetos utilizados no dia-a-dia da criança, como o berço e a cadeira de alimentação, e o que eles possibilitam, permitem ou modelam nas relações dos bebês.

O LEDUC promove, em agosto deste ano, o II Seminário Leitura, Escrita e Educação. É objetivo do Laboratório reunir atividades de estudo, pesquisa, ensino e extensão no campo da linguagem, leitura e escrita na Educação.