Nessa véspera de feriado, Fernando Rojas, Vice-ministro da Cultura de Cuba, visitou a Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e conversou com alunos e professores sobre o atual quadro cultural de seu país. Abordou os incentivos governamentais cubanos destinados a produção literária, como o subsídio ao preço do livro e a produção artística cinematográfica, musical e plástica. Os organizadores do evento, os professores Helena Gryner e Ronaldo Lins dividiram a mesa com o convidado.
Fernando Rojas falou sobre a necessidade de proteção da cultura popular de cada país. Defendeu a valorização das sínteses ibérico-africanas que assim como Cuba e a América caribenha, o Brasil possui. Argumentou que as tradições africanas, em sua multiplicidade de música, crenças e costumes não se restringem a uma unidade e que, portanto, não podem ser determinadas por unificação. Segundo ele, essa pluralidade de manifestações, presentes em nosso cotidiano, deve ser protegida e exaltada. Uma forma de realizar isso seria pelo incentivo e dedicação às artes.
Segundo Vice-ministro, Cuba é o segundo país do continente americano que mais traduziu e publicou livros da África e da Ásia, estando atrás somente dos EUA. Lá, a compra de livros é facilitada pelo governo através de subsídios em seu custo, tal medida torna-se indispensável para o contato da população com o meio literário. Em épocas de crises, como a ocorrida na década de 90, o governo distribuía livros para suprir a não possibilidade de aquisição dos mesmos. “Digo, com orgulho, que isso nos permitiu criar um país de leitores. Atualmente, um livro de José Saramago custa aproximadamente $1,00, um meu, por exemplo, sairia a $0,30”, declarou. O que para a realidade brasileira soaria como alucinação, neste pequeno país que enfrenta meio mundo, ganha materialidade.
Em Cuba, a educação é controlada pelo Estado. É determinado pela Constituição que o ensino fundamental, médio e superior devem ser gratuitos a todos os cidadãos cubanos. Segundo dados fornecidos pelo governo cubano, o analfabetismo no país foi erradicado.
– Permitir à humanidade o contato com os livros é fazê-la crescer espiritualmente – afirmou Fernando.
O representante do governo cubano alegou que seu país participa do mercado de artes plásticas como qualquer outro capitalista. “Temos artistas plásticos com exposição em Nova Iorque, por exemplo. Hoje o número de artistas titulados é de aproximadamente 30 mil, sendo que 15 mil desses, viajam anualmente para divulgarem e difundirem a cultura cubana pelo mundo”, informou.
Ser artista, em Cuba, é sinônimo de profissão, e para se conceber como tal, deve-se cursar a Escola Superior de Arte. Segundo, Fernando Rojas, nos últimos anos, foram abertos 8 Escolas Nacionais de Arte em diferentes lugares do país, afim de possibilitar e favorecer o florescimento do espírito artístico. “Desde o ensino fundamental cedo as crianças optam pelo tipo de área de seu maior interesse. Se no caso, for a artística, é realizado um texto para ver se essa tem aptidão para tal, a fim de que siga o ensino médio e superior nessa especialização”, concluiu.
Incentivo à cultura
O Vice-ministro argumentou sobre a força e identidade da cultura cubana. Segundo ele, diferentemente de outros países socialistas como a extinta União Soviética e a China, Cuba não optou por intervir na estética artística, o que possibilitou a respiração e a manutenção de suas origens. Explicou que a produção musical origina-se basicamente no campo, sendo a sua reprodução obtida nas cidades, onde estão as indústrias fonográficas.
Ao falar sobre a pirataria, defendeu: “É necessário abrir caminhos que facilitem o contato da população com as produções artísticas, sem que essa precise compra-las. Meios como a rádio, T.V. e internet são potentes ferramentas de inclusão oferecidas pela tecnologia”, afirmou Fernando Rojas.
Sobre alianças entre Brasil e Cuba que têm como pano de fundo a cultura, o convidado citou o projeto Proarte – Escola Internacional de Cinema e televisão. Tal instituição possui Gabriel Garcia Marques como um dos membros de seu quadro docente, localiza-se em Havana e atrai considerável número de estudantes brasileiros, que correspondem a segunda nacionalidade a se formar no curso.