O auditório Roxinho do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN/UFRJ) recebeu, nos dias 3 e 4 de setembro, o IV Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento Social. O Encontro é uma iniciativa do Núcleo de Solidariedade Técnica (SOLTEC/UFRJ) e tem como proposta apresentar a demanda existente de aplicação da Engenharia em projetos solidários. O SOLTEC é um Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão, oriundo da Escola Politécnica da UFRJ, que através do desenvolvimento técnico de projetos, mobiliza e conscientiza os estudantes, estimulando a sua participação em projetos de inclusão social.
O primeiro dia de evento contou com uma apresentação do grupo de dança “Usina de Cidadania”, um projeto social incentivado pela Empresa Manguinhos Refinaria, que oferece diversos tipos de atividades culturais e cursos profissionalizantes a jovens carentes dos bairros de Benfica, Caju, Maré e Manguinhos. As crianças divertiram os presentes da platéia, que subiram ao palco para dançar com elas as músicas folclóricas apresentadas durante o evento.
Em seguida foram iniciadas as atividades acadêmicas, com palestrantes que discutiram o tema “Economia Solidária”. Para tal, foram convidados a professora Sandra Rufino (POLI/USP), representando o Núcleo de Economia Solidária da USP (NESOL/USP); e o doutor Paul Singer, secretário Nacional de Economia Solidária e presidente de honra do NESOL/USP.
Economia Solidária nas universidades
A engenheira Sandra Rufino acredita que discutir economia solidária nas universidades é um grande desafio, pois estas carecem de uma cultura de incentivo e de estrutura acadêmica para o desenvolvimento de projetos sociais.
– Existem grandes formas e estruturas da universidade que não mudaram desde a Idade Média, que tornam difícil imaginá-la como um espaço para se pensar em economia solidária. A universidade surgiu para formar a elite do clero e isso se mantém. Entra hoje nas universidades a elite econômica e intelectual, e quem não faz parte desse grupo, ao entrar se elitiza. Dessa forma a universidade por si só se segrega, afastando-se cada vez mais da comunidade -, afirmou Sandra.
A engenheira acrescentou que a forte hierarquização adotada pelas universidades é outro fator que dificulta o desenvolvimento de projetos sociais. Para ela, é importante transformar subordinação em um sentimento de cooperação, e esse princípio deve começar dentro da própria universidade, antes de chegar à comunidade. Sandra também criticou a cultura adotada pela universidade de produção de intelectuais para o mercado de trabalho, que não informa o estudante sobre as diversas possibilidades de aplicação de seu conhecimento.
– Uma universidade com essa filosofia não pode contribuir com a economia solidária sem ser modificada por dentro. Por muitas vezes os alunos não têm chance de discutir outras alternativas senão a empresa tradicional, muito menos professores abertos a esse tipo de debate. Existem várias opções e o importante é o estudante saber disso para só então escolher que caminho seguir. Acredito que em um momento da história desvirtuamos nossas ações e que precisamos retomar o eixo. Precisamos sim desenvolver a indústria, mas precisamos também ajudar no desenvolvimento da sociedade – , continuou Sandra.
A professora acredita que o maior potencial da universidade nesta área está no incentivo às incubadoras de cooperativas, pois estas materializam a crítica de que a sociedade não é somente resumida por empresas. Por outro lado, a engenheira considera que essa mudança deve ser cobrada pela sociedade para que se realize. Segundo ela, a sociedade demanda muito pouco, incentivando este afastamento.
– Essa mudança não deve partir só da universidade. A sociedade deve seguir o exemplo das empresas, que pressionam a universidade para mudar sua estrutura curricular, direcionar pesquisas pra aquilo que precisam. Este deve ser um fluxo de mão-dupla e isto é essencial para que a universidade deixe de ser da elite para que seja de todos – , finalizou.