A Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9.394/96), seguindo a proposta de ampliação da autonomia universitária, determinou a flexibilização dos currículos dos cursos de graduação através da superação dos habituais currículos mínimos profissionalizantes. Nesse contexto, surgem as Diretrizes Curriculares Nacionais, que apresentam, entre outros objetivos, o de ajustar as instituições de Ensino Superior às mudanças tecnológicas e científicas e às recentes demandas da sociedade.
A flexibilização curricular envolve a criação de um projeto pedagógico, baseado na interdisciplinaridade e na indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão. Para refletir os métodos de implantação dessa nova estrutura, a UFRJ, por intermédio das Pró-reitorias de Graduação (PR-1), de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2) e de Extensão (PR-5), organizou, no dia 12 de setembro, o primeiro Seminário de Flexibilização Curricular.
O encontro, realizado no Auditório Roxinho (CCMN), buscou elucidar a importância de iniciativas que, primando pela transversalidade de temas, contribuem para a formação de profissionais mais críticos. “Mudar a grade curricular é uma necessidade da sociedade moderna, marcada pela ausência de fronteiras entre as áreas de conhecimento. A formação de um aluno, hoje, exige que ele esteja preparado para aprender o tempo todo”, destaca Déia Maria dos Santos, superintendente geral de Graduação.
A professora acredita que os licenciandos não devem ter suas atividades acadêmicas restritas aos laboratórios e às salas de aula. De acordo com ela, a universidade, através da formação continuada dos discentes, tem papel fundamental na melhoria da educação básica do país. “Se os professores de Ensino Médio e Fundamental retornarem à universidade, a educação básica e a superior estarão articuladas. As duas permanecerão atualizadas e, na certa, serão melhores”, afirma.
Experiências bem sucedidas
No seminário, foram apresentadas as experiências de flexibilização curricular já existentes na UFRJ. O Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar foi uma das iniciativas abordadas. O grupo, criado em outubro de 2002 e responsável pelo festival homônimo, possui uma escola para pescadores e realiza pesquisas sobre a cadeia produtiva da pesca em Macaé; todos os projetos contam com a colaboração de alunos de diversos cursos de graduação e pós-graduação.
Fernando Amorim, coordenador do UFRJ Mar, elege a experimentação de um novo modelo de aprendizagem como o diferencial do projeto. “Tratamos a ciência de uma forma real e concreta e isso atrai o interesse das pessoas. Nossas atividades enriquecem não só os universitários como também a população do entorno”, enfatiza o professor.
A disciplina Gestão de Projetos Solidários (GPS), oferecida pelo Departamento de Engenharia Industrial da Escola Politécnica (Poli) e desenvolvida pelo Núcleo de Solidariedade Técnica (Soltec), também foi citada no evento. Com um percurso pedagógico passível de ser negociado com os discentes, a cadeira foi criada para promover a interdisciplinaridade, aproximando estudantes de diferentes habilitações. A GPS é um exemplo de atividade de Extensão que já valora créditos aos estudantes participantes.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, os alunos devem ter 10% da grade curricular utilizada em trabalhos de Extensão. Regina Dantas, superintendente administrativa de Pós-Graduação e Pesquisa, acredita que medidas como essa servem para legitimar a universidade junto à sociedade: “Além de enriquecer o currículo do aluno, a experiência de Extensão cria a oportunidade de mostrar as realizações da universidade para a sociedade. Por isso, discutir flexibilização é, entre outras coisas, discutir Extensão”, sublinha.
Continuidade das ações
Para fomentar o debate acerca da flexibilização curricular, a PR-1, a PR-2 e a PR-5 visam organizar, trimestralmente, novos seminários. A idéia é levantar e registrar experiências interdisciplinares já concretizadas para articulá-las com atividades futuras. Além disso, as Pró-reitorias disponibilizarão, em seus respectivos sites, um espaço para a inscrição de atividades que integrem Ensino, Pesquisa e Extensão; esses dados vão ser reunidos, posteriormente, em um único documento.
Laura Tavares, pró-reitora de Extensão, associa a discussão sobre a flexibilização curricular ao debate do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e encara a fragmentação universitária como um entrave comum aos dois processos. “A flexibilização não é um desafio da PR-5, mas sim de toda a UFRJ. Para promovermos a união entre Ensino, Pesquisa e Extensão, é indispensável que as unidades acadêmicas reconheçam as atividades de Extensão como atividades curriculares”, completou a professora.