Pelo menos no primeiro semestre deste ano, a música será a ferramenta principal para o combate aos maus-tratos e ao abandono de animais. No primeiro dia do feriadão de Carnaval, 1º/3, a escola de samba São Clemente, da Série Ouro, entrou na Avenida Marques de Sapucaí com um enredo exaltando a importância da adoção e em defesa de cães e gatos. Depois, no dia 17/3, será a vez de a centenária Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) iniciar as apresentações em 2025 com o início de uma campanha de arrecadação de donativos para os animais abandonados pelos campi da instituição.
De acordo com o professor Ronal Xavier Silveira, diretor da Escola de Música (EM) da Universidade e um apaixonado pelos peludos, a partir de uma conversa com o prefeito da UFRJ, Marcos Maldonado, surgiu a ideia de contribuir mais com a causa. “Fiz a proposta ao nosso maestro André Cardoso, que rege a orquestra sinfônica, e ele demonstrou simpatia pela ideia de abrir a temporada com o evento em favor dos bichos que são deixados à própria sorte em nossos campi”, contou.
Enquanto a agremiação carnavalesca de Botafogo quer evidenciar no desfile a cruel realidade de animais vítimas de crimes como agressão, envenenamento e abandono, a proposta do diretor da Escola de Música é mais focada em encontrar soluções para promover o acolhimento de cães e gatos por meio de campanhas de doação e adoção. “E a gente não quer só o engajamento da comunidade universitária. Queremos envolver todos os cariocas”, afirma Silveira.
Segundo ele, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, deverá ser procurado para que possa ajudar priorizando a realização de eventos nas proximidades da Escola de Música, tanto com shows na Lapa, com músicos da UFRJ, como com campanhas de adoção e arrecadação de donativos em um dos primeiros parques públicos das Américas: a Praça do Passeio Público. “A área de quase 1 mil metros quadrados é nossa vizinha. A tendência é de que seja restaurada após o anúncio de transformação do antigo Edifício Mesbla em prédio residencial. Pensamos que é um ótimo local para o nosso propósito”, disse.
Para agilizar a causa contra o abandono de animais, contas em mídias sociais deverão ser abertas a fim de informar como as pessoas poderão ajudar com donativos e também para prestar contas da aplicação dos recursos. “Sabemos o quanto é difícil fazer algumas coisas na UFRJ em defesa da causa animal, pois há o receio de que qualquer ação estimule mais ainda o abandono no campus. Mas, se há uma lei federal em destaque no Fundão que demonstra que isso é um crime e mesmo assim o abandono continua, precisamos fazer mais”, alertou o diretor da EM.
Ronal Silveira explica que a iniciativa se baseará em três pilares: resgate dos animais e cuidados veterinários; melhor aparelhamento dos campi, com monitoramento para coibir o abandono; e a criação de locais temporários (canil e gatil) para manter cães e gatos até que sejam adotados. “Acho que o apoio dos estudantes será essencial para conquistarmos nossos objetivos. Mesmo uma pequena quantia, 1 real que seja, de muitos que gostam dos bichinhos e querem o bem deles, vai fazer a diferença. Apostamos que criar e divulgar um canal com credibilidade para arrecadar os donativos fará diferença”, concluiu.
Então, anote na agenda: a apresentação da Orquestra Sinfônica da UFRJ ocorrerá no dia 17, a partir das 19 horas, no Salão Leopoldo Miguez (Rua do Passeio, 98 – Centro). A escola de samba São Clemente foi a sexta a desfilar na Marques de Sapucaí na madrugada de sábado para domingo.
Temporada 2025 da Orquestra Sinfônica
O concerto de 17/3 da Orquestra Sinfônica da UFRJ (Osufrj) merece, na verdade, triplo destaque. Além de ajudar os animais, será a apresentação que abrirá a temporada de 2025, dando continuidade às comemorações do centenário da orquestra, que se encerrarão em setembro. Será também o evento de recepção aos novos alunos no primeiro dia do ano letivo, destacando a participação, como solistas, de duas alunas do bacharelado: a flautista Ana Márcia Corrêa e a oboísta Queren Souza.
O concerto será aberto com a Pavane pour une infante défunte, obra do compositor francês Maurice Ravel (1875-1937), do qual se comemora 150 anos de nascimento. Originalmente composta para piano em 1899 e orquestrada em 1911, a Pavana é uma dança renascentista em andamento moderado que acabou por ser incorporada às suítes instrumentais.
A regência será de Thiago Santos, que tem sido apontado como um dos mais promissores jovens maestros brasileiros da atualidade. Santos atuou como assistente da BBC Philharmonic e da Royal Liverpool Philharmonic, na Inglaterra (2014-2016), retornou ao Brasil e desde então tem dirigido diversas orquestras pelo país. Ele cursou bacharelado e mestrado em regência na UFRJ com André Cardoso.
A obra de Ravel evoca tempos passados, com sonoridades sutis e a bela melodia exposta pela trompa, para a qual o compositor sugere o uso de um instrumento antigo, sem chaves. A parte central do programa destaca duas alunas solistas selecionadas no concurso Jovens Instrumentistas. A flautista Ana Márcia apresentará o Concerto para Flauta nº 1 em Sol Maior K313.
Já a oboísta Queren Souza será a solista do Concerto para Oboé de Richard Strauss, uma das últimas obras do compositor, escrita em 1945, ou seja, há exatos 80 anos. Na obra pode-se observar a fluência da escrita para o solista sendo incorporada organicamente ao tecido orquestral de textura contrapontística, na qual os elementos temáticos recorrentes se interligam e dão consistência formal à obra.

No dia do concerto da Orquestra Sinfônica da UFRJ, a Escola de Música receberá doações de rações, remédios, itens de higiene e limpeza veterinários, equipamentos para banho e tosa e demais suprimentos e insumos veterinários para gatos e cachorros. Doações em dinheiro podem ser feitas pela chave-pix: sema@pu.ufrj.br.
PROGRAMA DA APRESENTAÇÃO
1. Maurice RAVEL (1875-1937) – Pavane pour une infante défunte (1899) 6′
2. W. A. MOZART (1756-1791) – Concerto para flauta nº 1 em sol maior K313 (1778) 25′
I. Allegro maestoso
II. Adagio ma non troppo
III. Rondo: Tempo di Menuetto
Solista: Ana Márcia Corrêa (flauta)
3. Richard STRAUSS (1864-1945) – Concerto para oboé TrV292 (1945) 25′
I. Allegro moderato
II. Andante
III. Vivace – Allegro
Solista: Querem Souza (oboé)
4. Béla BARTÓK (1881-1945) – Danças folclóricas romenas SZ68 (1917) 7′
I. Joc cu bâtǎ – Allegro moderato
II. Brâul – Allegro
III. Pê-loc – Andante
IV. Buciumeana – Moderato
V. Poargǎ româneascǎ – Allegro
VI. Mǎrunţel – L’istesso
VII. Mǎrunţel – Allegro vivace
Regente: Thiago Santos