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Pelo Campus

Rolé UFRJ #10: Fórum de Ciência e Cultura (FCC)

Segunda temporada do projeto visita prédio histórico no Flamengo que já foi hotel, escola de enfermagem e alojamento

Em 1922, a orla do Flamengo recebia um belíssimo prédio em estilo eclético construído para uma exposição internacional comemorativa do Centenário da Independência do Brasil. Hoje, mais de 100 anos depois, a construção é dedicada ao ensino, à pesquisa e à extensão, abrigando o Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ.

Após o evento comemorativo, o prédio, localizado na Avenida Rui Barbosa, 762, tornou-se o Hotel Balneário Sete de Setembro, que teve uma existência efêmera, mas mobilizou a sociedade carioca da época. Maria Helena da Fonseca, arquiteta e servidora aposentada da UFRJ, conta, em sua dissertação, que o prédio foi implementado no sopé do Morro da Viúva, com uma vista privilegiada para o Pão de Açúcar. A construção, iniciativa do prefeito Carlos Sampaio, buscava ser uma inspiração de hotel e restaurante para os futuros empreendimentos da Avenida.

“Mas as opiniões manifestadamente controversas com relação às atribuições da Prefeitura e aos gastos para a construção desse monumento revelam que o empreendimento do Hotel Sete de Setembro ficou marcado por críticas ferrenhas, passando a ser identificado, logo após a gestão de Carlos Sampaio, não como hotel, mas como um símbolo de malversação do dinheiro público”, afirma.

Em 1926, o conjunto arquitetônico de quatro prédios foi desmembrado, tornando-se o Hospital Abrigo Arthur Bernardes e o Internato da Escola de Enfermagem Anna Nery, unidade vinculada à então Universidade do Brasil.

No período dedicado ao ensino, pesquisa e atendimento ao público, o espaço funcionou como um centro de referência de formação e capacitação contra doenças como febre amarela e malária, uma iniciativa do professor Carlos Chagas.

Já em 1973, o espaço se transformou na Casa do Estudante Universitário (CEU), residência estudantil que foi uma importante referência de resistência e combate à ditadura civil e militar no país. Lá se reuniam partidos ainda na ilegalidade e movimentos sociais, vendo surgir o Comitê Brasileiro pela Anistia.

A casa recebia estudantes de todo o país, de maneira gratuita e democrática, que pretendiam cursar uma universidade no Rio de Janeiro, mas não tinham recursos. Em parte do período, a UFRJ arcou com os custos de luz e água, enquanto os moradores dividiam as outras contas e a autogestão do espaço.

Em 1995, a CEU foi fechada e, cinco anos depois, a UFRJ recebeu autorização para revitalizá-lo. O projeto de restauração do prédio anexo, o menor do conjunto arquitetônico, durou nove anos e preparou o espaço para atividades de ensino, pesquisa e extensão, influenciando o desenvolvimento científico e cultural da cidade.

Em 2009, o Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE), vinculado ao FCC, passou a ocupar o prédio, utilizando o salão principal e o primeiro andar, enquanto o prédio principal ainda está em reformas. Hoje o espaço também abriga outros setores do FCC, como a Superintendência de Comunicação, a Superintendência de Saberes Tradicionais e o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi).

Beleza arquitetônica

Representante do estilo eclético e balneário, segundo Maria Helena, o conjunto arquitetônico tem mais de 5.440 m² de área construída, com duas edificações interligadas, no segundo piso, por uma pequena passarela. A fachada é imponente, possui uma altura de 25 metros e 80 metros de extensão, mostrando uma escolha por um projeto mais horizontal.

Na época em que o edifício foi construído, a Baía de Guanabara chegava às suas margens, porém a área foi ampliada a partir do material retirado do Morro do Castelo entre as décadas de 1960 e 1970. As amplas janelas características de seu estilo arquitetônico têm uma vista privilegiada para o Pão de Açúcar e para o Aterro do Flamengo. Outros detalhes importantes de sua arquitetura são os azulejos e pisos pintados, além das esquadrias e salões decorados em estuque.

Segundo Maurício Castilho, coordenador de Preservação de Imóveis Tombados do Escritório Técnico da Universidade (Coprit/ETU), a UFRJ segue buscando melhorias para a revitalização dos espaços do prédio. Estão em andamento projetos de reforma para que o prédio principal seja utilizado em sua totalidade e com acessibilidade, porém o Escritório vem encontrando dificuldades. Apenas a restauração dos telhados, incluindo a troca de descidas de águas pluviais e solda nas calhas mais comprometidas, foi concluída.

“A obra do Setor 1 já foi encaminhada duas vezes para licitação, mas não houve dotação orçamentária, e a contratação não foi realizada. Ela também foi enviada para captação de recursos junto ao Fundo de Diretos Difusos do Ministério da Justiça, já tendo sido aprovada em duas instâncias. Aguardamos a aprovação final para liberação dos recursos”, explica.

Já o Prédio Anexo está em amplo funcionamento, com o telhado concluído e o interior em fase final de acabamento, além da instalação de equipamentos de informática e combate a incêndio. O espaço passou também por adaptações de mobilidade que recuperaram o elevador e instalaram plataforma para pessoas com deficiência física.

“Após a realização das obras internas do prédio principal, estão ainda previstas as obras de recuperação e manutenção da pintura das fachadas e a finalização da pavimentação das calçadas e iluminação monumental das fachadas”, descreveu Maurício.

A história é feita por pessoas

Um prédio de mais de um século é testemunha de muitas histórias. Entre enfermeiras, estudantes, pacientes, hóspedes, visitantes e outros grupos, está a jornalista Bruna Rodrigues, superintendente de Comunicação do FCC. A servidora pública trabalha no prédio da Avenida Rui Barbosa há 11 anos, desde que tomou posse na UFRJ.

Sua relação com o prédio é de imenso carinho e gratidão. Para ela, a edificação é uma segunda casa, já que viveu boa parte de sua vida profissional e pessoal por lá. A jornalista destaca as pias em mármore carrara, usadas quando o espaço abrigava a Escola de Enfermagem Anna Nery, e um piano que já foi utilizado por artistas como Arthur Moreira Lima.

Além das paredes, Bruna ressalta que as pessoas são parte do que torna o lugar tão especial. A convivência com colegas dedicados à Universidade, ao serviço e ao patrimônio público influencia na admiração e inspiração pelo espaço.

“O fato de este prédio ter tanta história é muito inspirador para todos que trabalham aqui.  Acho que tudo isso, essa história riquíssima, afeta positivamente todos os servidores e estudantes que passam por aqui”, conclui.

Como chegar

O prédio do Fórum de Ciência e Cultura fica na Avenida Rui Barbosa, 762, no Flamengo. É possível chegar até lá de metrô, descendo na estação do Flamengo e caminhando até o Aterro. Alguns ônibus passam na frente do edifício. Há estacionamento pago no entorno.

Saiba como se localizar no entorno do Fórum de Ciência e Cultura | Imagem: Heloísa Bérenger (SGCOM/UFRJ)

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