Tenho dedicado meus estudos e esforços para a linha de pesquisa que estuda Felicidade no Trabalho no Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Coppead), da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A ideia surgiu no grupo do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde, o CES, do Coppead, a partir da construção da minha tese de doutorado, que evidenciou a falta de publicações que trouxessem para a mesma mesa análises estatísticas do ambiente interno e de lucratividade nas empresas privadas que prestam serviços de saúde. São indicadores reais que se relacionam conforme a Teoria da Cadeia Serviço Lucro – The Service Profit Chain (J. Heskett et al., Harvard, anos 1990).
E é no ambiente interno de uma empresa que as pessoas coexistem e produzem o serviço que gera experiência do cliente, lealdade e, por fim, o crescimento pela lucratividade da empresa. Pessoas felizes – como apontam diversos estudos – são mais criativas e mais produtivas. Disciplinas da Formação em Felicidade no Trabalho, da Universidade de Berkeley, na Califórnia, mostram diversos estudos que respaldam: pessoas felizes são pelo menos três vezes mais criativas, 31% mais produtivas, alcançando 37% a mais de vendas do que aquelas que não se percebem simplesmente… felizes.
Ora, então qual o problema de se falar em felicidade e dinheiro para as pessoas e as empresas?
Daniel Kahneman, psicólogo e economista que ganhou o prêmio Nobel com sua proposição de colocar a economia comportamental no centro da discussão da lógica do consumo, estudou quanto de dinheiro alguém precisa para ser feliz. E não é pouco; para a realidade de muitos países, muito: são US$ 75.000/per capita/ano, nos Estados Unidos, para que a pessoa possa dar conta de seus gastos com o básico que vem da Pirâmide de Maslow: alimento, moradia, educação, mobilidade, segurança e lazer.
A mesma Universidade de Harvard que fez o fantástico estudo da longevidade e apresenta os sete passos para a vida feliz corrobora outros tantos trabalhos e diz que dinheiro é parte fundamental da felicidade. Então, sinto falta de que, nas discussões sobre o tema, essa variável seja colocada de forma objetiva na mesa.
Empresas precisam gerar riqueza, e em terra arrasada pela falta de dinheiro não há o que se comer. Depois da base firmada, sim, passado um certo valor, dinheiro pode passar a trazer infelicidade.
Se usarmos os conceitos reais do tão pouco que é necessário para viver, depois que já se tem o essencial do ponto de vista de estrutura, condenaremos todo esse conhecimento a ser mais uma ferramenta de adoecimento de pessoas na criação de uma resiliência tóxica e da geração de resultados que podem ser bolhas, sem sustentabilidade, não perenes, algozes da saúde mental de todos nós. Ainda é tempo de colocar as cartas na mesa.
*Chrystina Barros é pesquisadora do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Coppead).