Apesar das adversidades, como a pandemia da Covid-19 e a sucessão de cortes de verbas pelo governo federal, o Comitê Técnico do Plano Diretor 2030 da Universidade Federal do Rio de Janeiro conseguiu concluir, após dois anos, o documento que orientará o desenvolvimento da instituição, nos planos físico-territorial e patrimonial, nos próximos anos. É o Caderno de Diretrizes, que deverá ser apresentado aos integrantes do Conselho Universitário (Consuni) nos dias 13 e 27/10.
Enquanto o isolamento social imposto pela pandemia impediu que os encontros presenciais para a troca de experiências e visões acontecessem, a escassez de recursos acabou delineando a perspectiva para a elaboração do Caderno de Diretrizes, a essência do Plano Diretor. É no documento que estarão apontadas as melhores práticas para planejar e destinar o uso dos recursos do governo federal nos espaços e instalações dos campi.
Para a coordenadora do Grupo de Trabalho de Diretrizes Urbanísticas e Parâmetros Arquitetônicos, a professora Vera Tângari, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), o foco esteve em conservar e, quando preciso, recuperar todas as estruturas atuais da instituição. “As alternativas e estratégias propostas visam principalmente à otimização de espaços existentes, com sua manutenção e recuperação, privilegiando uma visão não expansionista para os campi e unidades isoladas na UFRJ”, resumiu.
O coordenador do Grupo de Trabalho de Segurança, Wendell Diniz Varela, também da FAU, fez um relato na mesma linha de raciocínio. Diante de um cenário completamente diferente de quando foi concebido o Plano Diretor 2020, a equipe, como um todo, privilegiou a manutenção do patrimônio edificado existente. “A gente está privilegiando as obras de recuperação, em detrimento de ser um plano diretor expansionista. Ao longo dos anos, tivemos muitos problemas com a manutenção desse patrimônio e decidimos focar nesse aspecto”, destacou.
O Comitê Técnico do Plano Diretor é formado por docentes, técnicos-administrativos e discentes. Todos os integrantes foram designados pelo Gabinete da Reitoria, por meio da Portaria nº 10.750/2019. Conforme as especializações e áreas de conhecimentos, eles acabaram sendo reunidos em seis grupos temáticos: Diretrizes e Parâmetros Urbanos e Arquitetônicos; Meio Ambiente, Áreas Verdes e Infraestrutura Urbana; Mobilidade e Transporte; Patrimônio e Cultura; Segurança e Recursos Financeiros, Cessões, Legislação e VivaUFRJ. Além da divisão em grupos temáticos, os participantes do comitê ainda contaram com o apoio de três comissões técnicas: de Comunicação, de Urbanismo e Meio Ambiente e de Viabilidade Jurídica e Econômica.
Foram nove os princípios norteadores das principais questões de: visão estratégica e institucional; biossegurança; sustentabilidade socioambiental e econômico-financeira; acessibilidade; integração interna na UFRJ com as cidades e o estado; promoção do bem-estar, de convívio e de inclusão social por meio dos espaços físicos; construção coletiva; inovação e experimentação; e transformação digital. “Os diagnósticos e as proposições seguiram dentro da visão proposta pelos princípios norteadores, tendo em vista o material produzido de forma sistemática, focada e viável do ponto de vista de sua implementação”, enfatizou Vera Tângari, lembrando que, além desses princípios, as propostas procuraram seguir os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).
Caderno de Diretrizes disponível no site
Tângari acredita que a comunidade acadêmica e a população das cidades onde se situam os campi da UFRJ poderão enxergar no documento o esforço coletivo para a qualidade de ensino e de vida de quem reside ou trabalha no entorno dos espaços da Universidade. “Será também possível observar o esforço coletivo de trazer inovação, com o cuidado de preservar e conservar o patrimônio universitário, buscando otimizar e compartilhar seu uso e fruição coletiva”, ressaltou ela.
Mas nem tudo foi perfeito. De acordo com a professora, as restrições ao convívio impostas pela pandemia trouxeram muitas dificuldades de comunicação com o corpo social e impediram, de certa forma, tanto a coleta de opiniões quanto um debate mais amplo sobre o diagnóstico e o conjunto de proposições produzidas pela equipe do Plano Diretor 2030. De qualquer maneira, até o dia 17/10, será possível baixar no site do Plano Diretor 2030 o Caderno de Diretrizes e apresentar sugestões pelo e-mail ali disponível.
A experiência de participar na elaboração do Caderno de Diretrizes permitiu ao professor Diniz afirmar que a construção coletiva trouxe lições: “Eu pude compreender melhor o que é a Universidade, o tamanho que ela tem e os problemas que são enfrentados todos os dias, sendo impelido a pensar em um futuro. Algo que me fez compreender que precisamos de infraestrutura básica bem segura para poder trabalhar e ser a Universidade que desenvolve, além do ensino, a pesquisa e a extensão”.
Enquanto participava das atividades como integrante do Comitê Técnico, Vera Tângari aumentou a percepção da importância sobre o conhecimento da realidade dos espaços da UFRJ e das demandas do corpo social. “Introduzimos avanços tecnológicos na forma de elaboração do Plano Diretor. Mas o diferencial ao que foi concebido anteriormente diz respeito a dois fatores. Primeiro, refere-se à metodologia adotada, que se apoia na construção coletiva, elaborada por equipe diversificada de técnicos, docentes e estudantes com o apoio de consultores internos e externos (sem ônus nenhum), além do escopo que abrange todos os campi e unidades isoladas, e, em segundo lugar, à definição de princípios norteadores embasados pela noção da realidade político-econômica do país e do estado do Rio de Janeiro, e pela visão de manutenção, recuperação e otimização de recursos físicos, materiais e humanos”, disse ela.