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Curso de empreendedorismo digital, realizado com apoio da Faperj, vai criar aplicativos para melhoria de vida na Rocinha

Com a proposta de qualificar profissionalmente dezenas de jovens da Rocinha, no Rio de Janeiro, o Laboratório de Responsabilidade Social e Sustentabilidade (Lares), do Instituto de Economia da UFRJ (IE/UFRJ) iniciou esta semana o curso de extensão Empreendedorismo em Favela Inteligente.  Diferente de outras oportunidades de formação que buscam atender quem tem baixos níveis de escolaridade, o curso concederá aos melhores trabalhos desenvolvidos, que privilegiem o deslocamento modular, o setor de turismo nas favelas e a mobilidade ativa, bolsas de MBAs para aperfeiçoamentos.

De acordo com a coordenadora do Lares, a professora Dalia Maimon Schiray, a ideia é preparar empreendedores digitais que apresentem soluções para o desenvolvimento local. Um “diagnóstico participativo” será realizado com líderes comunitários, detectando as principais necessidades da comunidade no que tange à melhoria de qualidade de vida, meio ambiente e criação de empregos, e deve ficar pronto em junho. “O curso vai capacitar os empreendedores atuais e futuros para o Parque de Inovação Social e Sustentável da Rocinha. Mas não é só isso: ele vai preparar o aluno para melhorar sua inserção profissional e social no mundo digital e para desenvolver iniciativas em prol da Rocinha e da cidade do Rio de Janeiro, adequadas ao nosso tempo”, afirmou a professora do Instituto de Economia.

O Parque de Inovação Social e Sustentável da Rocinha é uma iniciativa da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo e Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), lançada em outubro de 2021. O objetivo do espaço será desenvolver as iniciativas inovadoras da comunidade, como criação de uma biblioteca virtual voltada à sua memória e à sua história, uma incubadora de negócios de impacto ou ainda estimular a produção de cogumelos em hortas de lajes na parte alta da favela. Cada projeto contemplado receberá entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão, e terá prazo de conclusão entre um a dois anos, de acordo com o valor recebido.

O empreendedorismo digital é uma oportunidade inovadora para a qualificação profissional de um público jovem periférico e vulnerável. O curso tem formato híbrido, com aulas presenciais para 40 alunos no Complexo Esportivo da Rocinha ou que podem ser acompanhadas de forma remota. A metodologia associa as aulas teóricas a cases da Rocinha. “Todas as vagas presenciais foram preenchidas e falta pouco para preencher as 100 vagas do ensino remoto. Os participantes vão desenvolver ideias, a partir da problematização e das diretrizes que surgirão com o diagnóstico participativo realizado pela equipe do projeto e discutidas com agentes públicos e privados”, informou Dalia Schiray.

A estimativa é que em novembro, na conclusão do curso, seja organizado um evento, o Hackathon Rocinha Inteligente (HRI),que reunirá desenvolvedores de software, designers e outros profissionais relacionados à área de programação, para que em um curto período possam criar e apresentar soluções inovadoras para criar empregos, trazer mais conforto a quem vive na Rocinha e ainda reduzir o impacto ambiental na comunidade, que tem extensa área vizinha ao Parque Nacional da Tijuca. Há regiões que têm grande número de invasões e ultrapassagens aos ecolimites estabelecidos pelo governo. Sem a proteção das matas e devido aos  impactos da crise climática, desabamentos e perda de vidas podem ocorrer.

Descobrir talentos

O Programa Favela Inteligente em Apoio às Bases para o Parque de Inovação Social e Sustentável na comunidade da Rocinha está na primeira edição. O projeto da Faperj visacontribuir com o dinamismo e inovação ao tecido social de comunidades em situação de alta vulnerabilidade do estado do Rio. O pontapé inicial é na Rocinha, mas, a partir do monitoramento e avaliação dos resultados a serem apurados, poderá ser expandido para outros territórios semelhantes. Ao todo, são R$ 9 milhões de recursos financeiros alocados para esse programa.

O presidente da Faperj, Jerson Lima Silva, destacou na cerimônia de entrega dos termos de outorga para os 26 representantes dos projetos contemplados no âmbito do programa, no final de março, o apoio do governo estadual no repasse de recursos totais previstos no orçamento anual da Fundação, da ordem de R$ 700 milhões. “A Faperj tem como missão lançar editais competitivos, que apoiem o desenvolvimento de pesquisas de alta qualidade com impactos inovadores para a sociedade. Com certeza, na Rocinha estamos semeando o surgimento de novas empresas e talentos, investindo em inovação para além da academia”, disse.